{...} Abre mais a blusa, me usa! Só não pede pra parar... ♪♫

sábado, 29 de outubro de 2016

Capítulo 199 - Parte XI

Narrado por Fernanda
(...)

_ Meu deus, Luan! O que foi isso? -levei um susto daqueles quando o vi com a camisa toda suja, vermelho feito um pimentão e com muita raiva.- Luan...
_ Ele andou se desentendendo com o Murilo, foi isso Nanda. -Rober disse na maior naturalidade e meu susto foi ainda pior, os dois se estranhando.- Mas agora está tudo bem.
_ Como bem? Ai meu deus, ele te bateu amor? -me aproximei tocando seu rosto, ele negou com a cabeça.- Você está bem? Por quê está com a roupa toda suja? Luan...
_ Eu... eu tô bem Fernanda, e preciso de um banho. -soltou os ombros que estavam tensionados.-
_ Seu rosto está muito vermelho... -acariciei sua barba, ele pegou minha mão levando-a até sua boca e depositando um beijo.- Eu levei um susto, sabia? -sussurrei.-
_ Eu tô bem... é nós precisamos ir pra casa.
_ Não, mas... quem vai ficar com ela?
_ Ela não pode ter acompanhante, voltaremos amanhã cedo... o médico quem disse. -coloquei as mãos no peito preocupada, ele beijou minha testa.- vai ficar tudo bem... vamos?
_ Vamos, eu...
_ você precisa descansar, foi um dia muito cheio para todos nós e... precisamos colocar um pouco da cabeça em ordem.
_ Luan, tem imprensa aí fora... você...
_ Não vou falar com ninguém, não estou com cabeça pra nada disso agora. -falou pegando sua blusa de frio e vestindo-a, pegou minha mão e fomos em direção a entrada onde estavam estacionados os carros. Luan e eu fomos com o Amarildo que deixaria primeiro Nayara para que fôssemos para sua casa.

  Durante o caminho tentamos nos distrair ouvindo uma rádio qualquer, mas o clima ficou tenso quando o radialista comentou sobre o acidente. Ainda bem que pelo horário não demoramos tanto, e quinze minutos depois de deixarmos a menina nós chegamos em casa. Abri a porta e entrei encontrando Helena mais que acordada, estava conversando com a avó enquanto Maria Luísa dormia no sofá e Arthur vinha da cozinha, descalço.

Mari ainda estava na sala com os três assistindo um filme infantil, lhe cumprimentamos e depois de um breve descanso contei o que de fato aconteceu e sobre o posicionamento do médico, ainda falamos sobre o estado atual da Mê e qual o horário da visita no dia seguinte. Levantei para ir ao banheiro, passei pela cozinha para tomar um pouco d'água quando Puff veio pro meu lado todo faceiro, e foi assim que lembrei que o pobre do Thor estava sozinho naquela mansão enorme.

_ Agora você vai ganhar um amiguinho além do Tobias. -falei me abaixando para pegá-lo no colo, ele veio todo agitado mas com meus carinhos em sua cabecinha foi sossegando.- O Thor, que está lá em casa. -Puff deitou a cabeça, ficou quietinho.- Não fica assim, ainda vai continuar sendo meu primeiro amor canino. -beijei seu focinho e o coloquei de volta no chão para que corresse até a sala.-
_ Querem ir jantando? Amarildo subiu para tomar um banho, mas vocês devem estar azul de fome.
_ Aí sogra... -fiz bico e ela se levantou sorrindo, me conhecia bem demais.-
_ Está uma delícia, não diga não para a minha comida. E tenho certeza que os dois não comeram ainda.
_ Mãe, eu não tô com fome. 
_ Papai não podi fica de fome. Tem que papar tudo a vovó disse. -Helena que estava em seu colo lhe advertia com aquele jeitinho delicado, nada eu.-
_ Estou né? Comer já... -falou entrando na cozinha.-
_ Vamos ficar aqui né?
_ Não posso, deixei o Thor sozinho.
_ Thor? Quem é Thor, Fernanda? -franziu a testa.-
_  Um filhote que recebi de presente.
_ Presente? Quem anda te dando presentes? -ri.- Não achei graça... quem foi?
_ Com ciúmes amor? Olha minha idade.
_ Isso não respondeu minha pergunta. -falou mais sério, todo rabugento.- Não vai falar?
_ Melissa me deu ele. Satisfeito, senhor ciúmes? -me aproximei segurando seu rosto e dando um beijo em sua testa.- E ele está sozinho desde que a Lila foi me buscar. Não sei se está com fome, sede ou se mijou no meu tapete... -falei imaginando a zoa que deveria estar no meu quarto.-
_ Filhote do que?
_ Da sua raça, canino.
_ Haha. Palhaça. -mordeu minha bochecha e se levantou indo para a cozinha ainda com Helena em seu colo. -Olhei para o lado e Arthur estava todo largado, olhando para a Tv.-
_ Filho, cadê suas coisas?
_ No quarto do meu pai. Por quê?
_ Nós vamos pra casa, precisa pôr blusa né? Pegar sua mochila da escola...
_ Ah não mãe, não queria ir amanhã... quero ver minha irmã, minha vó falou que ela foi atropelada.
_ Ela vai ficar bem meu anjo e logo estara em casa conosco. -respirei aliviada, menos apreensiva.- Vamos?
_ A senhora não ia comer?
_ Danadinho, nada de dormir hein.
_ Até a Maria já dormiu.
_ Eu sei. -ri.- Dormiu sem tomar banho ainda, olha a cor desse pé no sofá da sua vó.
_ Ela nem liga, minha vó nem briga com a gente... Nunca.
_ Não é por isso que vocês tem que abusar.
_ Fernanda! -ouvi Luan me chamando da cozinha, levantei de perto das crianças e segui para o cômodo mais gostoso de toda casa. A cozinha. Mari havia feito arroz, feijão e frango cozido com quiabo.- Não vai jantar?
_ Só um pouquinho, meu apetite está zero.
_ Sei viu. -brincou ele. Sentei-me ao seu lado, peguei o prato colocando pouca coisa de comida e jantei.- Estava uma delícia, nossa.
_ Obrigada querida.
_ Vamos amor, vai ficar ainda mais tarde. -falei.-
_ Pensei que fossem ficar por aqui, arrumei até as camas.
_ Não podemos mamusca, agora temos um cachorro que não conhece a casa e ficou mais de três horas sozinho.
_ Um au au?
_ Sim. -respondeu apertando o nariz dela.- O Thor. 
_ Ôh tadinho, deve estar chorando muito.
_ Espero que não, viu. Até porque eu preciso dormir. -dizia rindo.- Dá tchau pra vovó, amor.
_ Tchau vovó, manhã eu venho. Tá? 
_ Tá bom minha princesinha, até amanhã. Boa noite.
_ Isso. -riu.- Papai vamo.

Retirei as louças que havíamos usado e rapidamente passei uma água e deixei no escorredor que ficava em cima da pia.
Luan estava arrumando o carro, subi e peguei as três mochilas das crianças e sai do quarto. Mari estava com Helena descalça no colo, sem calça e dando risada.

_ Helena. -chamei sua atenção.-
_ Oi mamãe.
_ Cadê sua roupa e seu chinelo?
_ Fiz xixi e minha vó tirou. 
_ Tá sem vergonha né mocinha, quase na hora de sair das fraldas.
_ Sô moxinha mamãe.
_ Isso mesmo, a mocinha da mãe. -beijei sua testa e fui guardar as coisas no bagageiro. Luan estava ajeitando a cadeirinha, ajudou pegando Maria Luísa no colo e levando-a para o carro. Helena beijou o rosto da avó e veio para o meu colo, Arthur repetiu o gesto e entrou na porta de trás já colocando o cinto.- Deixa eu prender direitinho.
_ Ah não, faz dodói no pecoço mamãe.
_ Faz nada, anda. -ela ficou de bico, beijei sua testa e me afastei fechando a porta e assumindo meu lugar.

Não morávamos longe dos meus sogros, mas isso não quer dizer que não demoramos para chegar em casa, o que aconteceu meia hora depois.

_ Thor!? -o chamei assim que abri a porta e acendi as luzes da sala, entrando em casa.-
_ Totó né mamãe? -fiz que sim com a cabeça.- Totó, tade você?
_ Ele é pequeno? -Arthur perguntou subindo no sofá.-
_ Por enquanto, porque ele deve crescer bastante. -disse.-
_ Na escada, mamãe!

Thor vinha com a língua pra fora e abanando o rabo, achei lindo e soltei Helena no chão para brincar com ele.

_ Totó, vem cá.
_ Amor, ele é menor que o Puff. -Luan comentou abraçando-me por trás.- Mas é bonitinho.
_ Cadê a Malu?
_ No quarto dela, dormindo.
_ Ouviram né? -falei para Arthur e Helena que me ignoraram, dois sem vergonhas.- Arthur Santana.
_ Mãezinha linda, eu não tô com sono e também não quero ir amanhã pra escola.
_ Tamém não quelu ir, é chato!
_ Você vai pra escola fazer desenho e brincar, você vai sim senhora.
_ Quelu o Totó! -deitou-se abraçada ao Thor que mexia as patinhas querendo sair daquele aperto.- Fica queto!
_ Coitado desse cachorro, porque essas meninas vão matar ele em menos de uma semana. -falou sério.- Thor! -ele levantou a cabeça e voltou a pôr a língua pra fora.- Rola...
_ Ah, vai dormir menino. Amanhã você tem aula.
_ Mãe...
_ Aconteceu alguma coisa lá que você não quer ir?
_ Não, eu só queria ficar em casa.
_ Vou pensar, agora pra cama... já.
_ Mamãe, quelu o Atur.
_ Você tá atrás de bagunça. Não, nós vamos para o seu quarto mocinha.
_ Mamãe... -fez beicinho, toda fofa.- 
_ Levanta princesinha linda, papai te põe pra nanar.
_ Quelu o Atur, papai. 
_ Amor...
_ Filho a mãe vai tomar banho, quando ela dormir avisa seu pai. -beijei a testa dele e subi deixando o Luan com os três nenéns.

Jogar uma água no corpo foi relaxante, a temperatura quente parecia me massagear e tirar um pouco da tensão que estava em meus ombros. 

_ Passou neném, deixa o papai ver...
_ Ele fez dodói ni mim papai. -escutei minha pequena chorar, desliguei o chuveiro e ao sair enrolada na toalha dei de cara com os quatro no quarto. Thor no colo do Arthur e Helena deitada no colo do pai, toda manhosa.-
_ Foi de brincadeira, nem machucou.
_ Mãe, ele arranhou a cara da Nena.
_ Deixa a mamãe ver, filha. -ela mostrou o rosto, tinha sido um arranhão grande e nela que era branquinha ficou bem vermelho.- Tá doendo?
_ Bicho feio! 
_ Não filha, ele é amiguinho... ele estava brincando com você.
_ Totó faz dodói, não quelu brinca não. -voltou a deitar a cabeça no peito do pai. Entrei no closet e me vesti com um pijama, sequei um pouco os cabelos e voltei para o quarto.- Mamãe, quelu tetê.
_ Agora, filha? -ela fez que sim com a cabeça. Calcei meus chinelos, pedi pro Luan colocar meu celular pra carregar e segui até a cozinha onde preparei a mamadeira para a bonitona.-
_ Mãe, tô com sono. Boa noite. -beijou meu rosto e foi pro quarto dele.-
_ Helena, filha...
_ Tetê.

Ela que já estava bem a vontade na minha cama, tomou toda a mamadeira, deitou e dormiu. Luan tomou banho e juntou-se a nós na cama e dormimos por algumas horas.
Na manhã seguinte acordei cedo e fui chamar as crianças, primeiro coloquei Arthur para tomar banho... "Até porque ele não gostava de eu dar banho nele, porque estava crescendo!" ... já as meninas eu não tive problemas em dar banho nas duas juntas e trocá-las para irem à escola.

_ Eu não quelu! -Helena resmungava de olhos fechados, era toda chatinha pela manhã.-
_ Mãe, deixa eu ir pra escola dela... -Arthur brincou.- 
_ Não! -franziu a testa, ri.-
_ Ôh mãe, deixa eu ir na casa de uma amiga hoje? 
_ Não vai na casa de amiga nenhuma Maria Luísa, vai ir pra casa da vó comigo.
_ Você não é meu pai, nem a minha mãe.
_ Tá vendo mãe, ela não me respeita.
_ Vocês dois começam cedo hein, podem parando.
_ Mas mãe... -disseram juntos.-
_ Malu, você pode sim ir na casa da sua amiga. Mas eu tenho que conversar com os pais dela antes tá? -Arthur olhou indignado, prendi o riso.- E filho, sua irmã te respeita. Mas não é por isso que você tem que mandar nela, falar o que ela pode ou não fazer.
_ Essa história de cuidar é tudo balela.
_ Meu homenzinho, mamãe te ama viu. E sei que você quer cuidar das suas meninas, mas vai com calma. -beijei sua testa.- Leninha, vamos comer tudo amor?

Após o café da manhã todos os três foram escovar os dentes. Os deixei na sala vendo TV e subi para trocar de roupa, coloquei um shorts e uma blusinha e nem me dei o trabalho de pôr um sutiã. Peguei meu celular e desci.

(...)

De volta em casa, Luan ainda dormia. Aproveitei e dei uma geral nos quartos, sala e cozinha. Tomei café e liguei pra Isa avisando que não iria para a empresa e pedindo que ela fizesse o favor de remarcar todos os compromissos da semana.

_ Ei garotão, você já acordou? -ele latia e pulava, querendo brincar.- Eu nunca tive cachorrinho, sabe? -o peguei no colo.- Mas deve ser mais fácil que ter um tigre, não é? -ele ficou com a cabecinha de lado me olhando e quando sorri, ele lambeu minha boca.- Safadinho. -ri.-
_ Falando sozinha? 
_ Amor, eu sei que você está em casa, que estamos sozinhos... mas nem por isso você precisa desfilar pela casa pelado. -ele riu.-
_ Você nunca reclamou. -deu-me um selinho.- Bom dia.
_ Ele mole não tem nenhuma utilidade para a minha pessoa meu amor, nenhuma.
_ Nossa, que descarada você minha gatinha. 
_ Gosto dele bem duro, sabe? -risos.- Não vai tomar banho?
_ Tô com sede, e não ia tomar água do banheiro.
_ Aí meu deus, pelo amor. Vai logo, estou te esperando.
_ Tô com fome.
_ Seu café está pronto, tudo na bancada. Vai se ajeitar, antes que eu saia sem você. -ele fez careta, me beijou e foi para cozinha.- Luan?
_ Pois não senhora...
_ Queria um docinho.
_ Hm... e?
_ Nossa Luan... tá vendo né Thor?
_ Para vai, para de drama sua danadinha. -voltou trazendo bombons de chocolate branco e crocante.- Vou subir pra tomar banho.
_ Não demora!
_ Para de ser chata, eu hein...
_ Tá vendo Thor, aí assim que esse safado me trata. -ele riu e depois de me roubar um beijo, subiu.

Eu estava pronta, minha bolsa estava no carro desde cedo. Luan não demorou, logo desceu e assim que acabou de comer lavou, secou e guardou a louça suja. Demos comida pro Thor, pegamos as coisinhas dele e o colocamos no carro porque hoje ele iria conhecer a vovó e o irmãzinho.

_ Aí que coisa mais linda, Fernanda. -o pegou no colo.-
_ Muito fofo, vontade de morder muito.
_ Preciso ter ciúmes?
_ Só do professor da academia, um puta de um negão. -brinquei e ele ignorou, entrou na casa da mãe voltou depois de uns cinco minutos, comendo.- Luan.
_ Bolo de milho. Ainda tem, cê quer?
_ Eu quero ir logo ver a Melissa. 
_ Já estamos indo. Tchau mamusca, continua rezando ai. -beijou minha sogra e foi para o carro, me despedi e fiz o mesmo depois de deixar um beijo no focinho do Thor.

O hospital onde Melissa estava era um pouco longe da nossa casa e mais ainda da casa dos meus sogros, coisa de 45 minutos. Assim que chegamos formou-se um pequeno tumulto, porque haviam alguns "curiosos" fotografando, querendo colocar microfone na nossa boca e essas coisas ridículas.
Entramos com a ajuda da segurança do hospital, pegamos os crachás de acompanhantes e entramos para vê-la.

_ Luan, Fernanda. Bom dia. 
_ Bom dia doutor, tudo bem?
_ Tudo. Podemos ir até a minha sala? -senti meu sangue esfriar, um calafrio enorme.-
_ C-claro, por favor. -Luan beijou minha mão e sussurrou que tudo ficaria bem.

Entramos, nos sentamos e ele continuou com sua feição normal, sem expressões.
E então ele disse simplesmente que nossa filha não havia acordado mesmo que eles houvessem cortado a medicação que a mantinha sedada. Luan me abraçou forte e eu não disse nada.

_ Voltamos com a medicação antiga para que ela tenha uma reação, mas ainda é cedo para termos algum diagnostico. Na verdade, iremos refazer todos os exames e...
_ Eu quero transferir minha filha de hospital, quero que ela fique no hospital onde somos conveniados. -falei séria, mesmo que estivesse interrompido o médico.- Não é nada pessoal, eu apenas me sentiria mais segura... se me entende.
_ Perfeitamente, irei providenciar a papelada agora mesmo. -disse virando-se para o PC.-
_ Nós podemos vê-la? -ele assentiu, ligou para alguém e em poucos segundos a porta se abriu, uma enfermeira entrou e pediu que fôssemos com ela.- Filha...
_ Amor, ela só precisa de mais tempo. Está tudo bem, tá?
_ Luan... -falei com a voz embargada.- Nossa filha. -o senti me abraçar e fechei os olhos. Ficar ali dentro não estava me fazendo bem. Melissa estava imóvel, olhos fechados e respiração fraca, um tanto pálida e com os batimentos cardíacos devagar. Tudo tão... estranho. Melissa foi um bebê calmo, mas desde que aprendeu andar não sabia o que era sossego e nos deu menos sossego ainda quando aprendeu a falar, era uma menininha linda e bem peste, mas um amor.
Beijei sua testa e sussurrei algumas palavras em seu ouvido, alisei seu rosto e me sentei ao lado dela, encarando-a para tentar entender o que havia acontecido. Porra! Estava tudo caminhando para ir bem. Eu e ela estávamos nos entendendo, aquela carta... Ah! Aquela carta... como ela me trouxe recordações gostosas de sempre lembradas. Confesso que derramei algumas lágrimas, mas logo as limpei... aquilo não seria um longo status. Apenas uma passagem e logo minha filha estaria bem, estaria em casa e fazendo pirraça outra vez.



Narrado por Luan
Nem nos meus piores pesadelos me imaginei em um momento como esse. Sabe, isso pra um pai é horrível. E como marido é pior ainda. Minha filha em uma cama de hospital e minha esposa sofrendo calada. 
Fernanda estava perdida em seus pensamentos, silenciosamente se perguntando coisas que eu nem imaginava. E sabe? Eu também estava me sentindo assim, parte de mim estava faltando. A minha maior parte eu diria. Melissa é minha primeira filha e a que me  apresentou ao mundo de um jeito especial. Ate porque eu amar meus pais, meus familiares, meus fãs, minha mulher... não se compara ao amar meus filhos, meus sobrinhos.
Eu dou a vida por eles se preciso for!
Muitas vezes eu chorei porque um deles estava chorando com cólica ou com a vacina ou até mesmo por ter que viajar e deixá-los. Mas ela sentiu tudo isso com muito mais intensidade. Acompanhou os meus maiores momentos, as quedas emocionais também. Só que ela me fazia querer ser o melhor a cada dia... chegar em casa depois de uma rotina cansativa de shows e querer receber aquele abraço gostoso e brincar de bonecas, casinha, salão de beleza. Lógico que poucas pessoas sabiam desse lado "pai de menina" que deixava ela encher minha boca de batom e pintar minhas unhas de rosa, vermelho, preto... "Ah Melissa! Como você cresceu filha. E posso falar? Está um mulherão, devo admitir com o maior respeito e orgulho do mundo. Seu maior... erro, foi entregar algo tão puro a um vagabundo da pior espécie. Como eu me odeio por não ter dado fim naquele infeliz quando ele bateu na sua mãe."

Sai um pouco da sala em que ela estava e liguei pro Testa, trocamos uma ideia e ele disse que iria deixar Isadora em casa e que viria pra cá. Agradeci o apoio e me sentei em um banco para olhar as mensagens do meu celular, que eram muitas.

Não respondi muita gente, na verdade foram apenas os mais próximos, como: minha irmã, o Dudu e a Lêzinha. Guardei o celular e fui ao banheiro, quando voltei Fernanda estava no celular do lado de fora da sala, com o nariz vermelho e semblante abatido. Devagar me aproximei e abracei sua cintura, ela desligou e virou para retribuir o gesto.

_ Era meu pai. -disse baixinho.-
_ Como ele está?
_ Todo preocupado, né amor. Se dependesse dele, ele já estaria aqui.
_ Ele se apegou demais à ela.
_ Difícil encontrar quem não tenha esse apego todo. -sorriu.-
_ Como ficou a transferência?
_ Ela vai agora no começo da tarde, vai para o mesmo hospital que meu pai ficou quando sofreu o acidente de avião.
_ O melhor da região. -beijei sua testa.-
_ Eu não gosto de hospitais, amor.
_ Eu sei minha princesa, mas é preciso né. Iremos sair daqui logo, você vai ver.
_ Se Deus quiser!

Narrado por Fernanda 
No início da tarde realizamos a transferência da Mê, e foi o momento em que Luan e eu decidimos dar um parecer sobre o assunto. Não que tivéssemos essa obrigação e sim em respeito e consideração aos fãs que a todo momento mandavam mensagens positivas, questionavam e ligavam na central atrás de notícias. Não sabíamos o que dizer, também não queríamos dramatizar demais e parecer algo apelativo. 
Arleyde nos orientou a escrever no instagram e acabe o assunto ali mesmo, sem dar margem para mais e mais boatos.

 fermarques Primeiro em meu nome e do @luansantana queremos agradecer por cada mensagem positiva, cada telefonema e pela preocupação com a nossa "pequena". Pois mostra o quanto ela é amada por nós e mais ainda por vocês. E em segundo, nós queríamos dividir com vocês o que está acontecendo. Melissa sofreu um acidente ontem pela tarde e permanece hospitalizada, a situação é delicada, mas sabemos que ela é forte e logo estará em casa.                                                             Obrigada por todo carinho, amamos muito vocês. 
Publiquei e Luan apenas repostou com um emoji. Guardamos os celulares e fomos acompanhar o médico que agora cuidaria da nossa filha, Dr. Rubens. 

_ Antes de eu dar qualquer diagnostico iremos refazer todos os exames, avaliar os medicamentos e somente após os resultados que teremos uma certeza.
_ E em quanto tempo isso?
_ O mais breve possível. -concordamos.- Peço que não pensem o pior, a paciente sente. Ela está dormindo, ela os escuta e não precisa escutar o óbvio... -sorriu.- ...ela é jovem. Qualquer que seja o quadro ele tem grandes chances de ser revertido. (...)

Nós pouco falamos, mas eu estava um pouco mais tranquila. Até entramos para vê-la outra vez, mas tivemos que sair para a realização dos exames. Luan e o proprio médico sugeriu que fôssemos para casa e que ele ligaria caso alguma novidade aparecesse. Lógico que eu não queria ficar, mas o que nós iríamos fazer ali? Luan queria ir buscar as crianças e eu o disse que me sentiria melhor se ficasse na casa da Lila. Precisava conversar e ela era minha melhor amiga, não que meu marido não fosse meu amigo... é apenas a maneira que cada um tem de lidar com a sua propria dor.




~.~

  Foi um capítulo bem completo, embora um tanto vago. Melissa internada é muito triste, até porque era ela quem agitava os melhores acontecimentos na casa e na família. Enfim... nossa casal está abalado, a família está começando a sentir... mas os pequenos ainda parecem tranquilos, Ester mandou mensagem, mas ainda não apareceu. E agora hein? O que sera que vai rolar?
  Espero vocês no próximo. Beijos!

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Capítulo 199 - Parte X

Narrado por Melissa
  Admitir um erro é sinal de amadurecimento, eu acho. E foi pensando nisso que tive a iniciativa de me desculpar com a minha mãe. Mas tinha que ser real, algo que fosse do coração e eu conseguisse esvaziar meu peito e me abrir para ela. Uma carta seria o ideal, mas ela merecia bem mais que isso e foi assim que comprei o Thor.
  Pedi a ajuda da minha madrinha, fomos ao pet shop e escolhemos aquele sem vergonha que sem dúvidas deixaria minha mãe muito feliz. Até porque desde que nosso amigão se foi aquele quintal ficou vazio, a grama crescendo e sendo aparada, a casinha sendo limpa... mas vazio sempre. E nosso novo amiguinho nos traria boas risadas e mais... a Nena merece ter um amigo fiel assim como eu tive dois: o Puff e o Lupy.
  Depois de pronta a carta deixei com o envelope e assim que consegui colocar o laço no Thor terrível, o fiz dormir e coloquei junto rezando pra ele não acordar e morder tudo ou cagar em cima da cama dela, o que seria mil vezes pior.
  Só que ainda faltava uma coisa, flores, na verdade rosas e eu já tinha encomendado e faltava buscar.   Como minha madrinha não ia poder ir comigo chamei as meninas, mas a Tacy teve que trabalho e não pode, deixando apenas a Nay com a missão de deixar eu em casa e inteira.

_ Caralho, Melissa. Era pra eu estar no cinema.
_ Você é uma ótima amiga, por isso está aqui comigo agora comprando flores para a minha mãe.
_ Só saí da minha casa porque assim, eu amo sua mãe e amo vocês duas juntas... só por isso.
_ É o que eu mais quero, e estou bem disposta a recomeçar.
_ Aham, sei. Nenhuma recaída?
_ Ele não me procurou mais e você não teve a descencia de dizer nada.
_ Ele é meu tio, mas não mora comigo e mesmo que morasse. Ele deu mancada com a sua mãe e eu não quero vocês dois juntos. Fim.
_ Nay...
_ Eu nem vejo ele lá em casa se você quer saber. Até porque meu avô não está muito assim com ele desde que tudo aconteceu, e nisso você ainda era uma criança.
_ Vai me dizer que não sabe se ele tem outra?
_ Bom, se ele não tem outra ele bate punheta amiga.
_ Como você é ridícula.
_ Realista Xuxu. Meu tio é homem, até eu se não fosse sobrinha nem sua amiga já teria ido pra cama com ele.
_ Eu te odeio Nayara.
_ (riu) Eu também amo você.

  Andávamos pela avenida rindo alto das pessoas, dos animais, até de coisas nossas. Passamos na floricultura e também em uma sorveteria onde escolhemos uma mesa ao lado de fora para aproveitar o solzinho da tarde.

_ Olha minha unha que ridícula, meu deus. -dizia olhando para as unhas enquanto eu estava muito preocupada com o tamanho do meu sorvete.- Falo sério.
_ Oxê amiga, faça as unhas.
_ Não estou tendo tempo pra nada, estudar cansa minha beleza. Enche o saco.
_ Ah, mas você gosta do curso que escolheu então...
_ Amo medicina veterinária migs, mas assim... cansa.
_ Chatona você hein, pelo amor de deus.
_ Vem cá e você hein...
_ O que tem eu?
_ Nenhum namoradinho? Não tem visto mais o Leo...
_ A gente se fala muito pelo whats ate porque pessoalmente não temos tempo, mas não estamos ficando.
_ Meu, ele é uma pessoa tão sossegada amiga. Tão lindo aquele loiro, você loira...
_ Acho que ele não me quer não.
_ Por que não tenta? Ele está solteiro! Sabe o que essa palavrinha significa amor?
_ Livre para ir pra cama com quem ele quiser, quantas vezes que tiver vontade.
_ Chata hein...
_ "Realista Xuxu." -a imitei rindo em seguida. Ficamos quietas por alguns segundos, ocupadas demais com a boca cheia e eu dando uma olhadinha no celular.-
_ Puta que pariu. -franzi a testa, olhei para ela.-
_ O que doida?
_ Não olha agora, mas acho que é o meu tio ali parado do outro lado da avenida...
_ Onde? -olhei para trás e nossos olhares se cruzaram, mas ele logo virou a cabeça e voltou a sorrir para uma ruiva que estava de frente para ele.- Quem é aquela?
_ Não sei, pode... sei lá... ser uma amiga.
_ Vamos lá comigo...
_ Fazer o que lá? É melhor irmos para casa Melissa. Casa, entendeu?
_ Não terei outra oportunidade como essa, quero que ele olhe nos meus olhos e diga que não quer mais nada comigo, porque não responde as minhas mensagens e...
_ Ah não amiga, você não pode se rebaixar a isso. Para...
_ Tudo bem... vou sozinha. -levantei e fui com a cara e a coragem, nem vi se a Nay estava me acompanhando ou não. Ele tinha acabado de entrar no barzinho com aquela mulherzinha, entrei afobada olhando ao redor até que o encontrei puxando a cadeira para que ela se sentasse. Minha reação foi ir até ele.-
_ Melissa. -escutei a Nayara me chamar, olhei para ele que continuou em pé, agora me olhando.- Amiga... -voltei a andar em direção ao casal.-
_ O que você está fazendo aqui?
_ Por que você sumiu? Quem é ela?
_ Melissa... não temos o que conversar. Acabou.
_ Acabou? É isso que você tem a me dizer?
_ Queria que eu dissesse mais alguma coisa? O que você quer ouvir de mim?
_ A verdade, olhando nos meus olhos.
_ Foi bom o que tivemos, eu curti essa aventura mas... não dá mais.
_ Murilo, você...
_ Me desculpa. -meus olhos estavam marejados, minha garganta seca e ele continuou a dizer aquele monte de mentiras... dizer que não era um amor que sentia por mim, que se aproximou pensando que atingiria meus pais e que me levou pra cama para saber se eu tão gostosa quanto a minha mãe. Eu fiquei louca, desacreditada e destruída... fui usada.- Você é linda, mas... não é pra mim. -beijou minha testa e soltou meu braço, olhei em volta e vi a tal ruiva sorrir... me deu um ódio, uma raiva fora do comum quando ela me olhou com pena, olhei para Nayara que não dizia nada e sai correndo, queria ir pra casa, ir para o colo da minha mãe. Sai do bar e continuei até que me encontrei no meio da avenida, assustada com a buzina de uma moto que desviou de mim. Olhei atordoada para os lados, com medo ao ouvir minha amiga gritar e em questão de segundos meu corpo ser arremessado para longe fazendo com que eu apagasse.




Narrado por Murilo

(...)

  Na vida toda escolha gera uma consequência e comigo elas tem sido grave desde a minha saída da prisão. Foram meses tentando reestruturar minha vida, tentando recomeçar do zero em um outro lugar, longe de tudo o que antes era minha rotina.
  Não foi fácil, mas o que eu faria? Meu pai virou as costas pra mim não permitindo que minha mãe se aproximasse, meu irmão e minha cunhada não"puderam" fazer absolutamente nada até porque não tinham essa obrigação... e meus amigos? Bom, um deles estava se mudando para Minas Gerais e me chamou para que eu fosse com ele, desse um tempo para as coisas se ajeitarem e nisso foram anos.
  Passei por muitos "Não!", tive que lidar com o preconceito de ser um ex-detento e não conseguia trabalho registrado em lugar algum. Foi quando surgiu a oportunidade de voltar para São Paulo e atuar na área em que me formei, só que não seria professor em uma grande universidade e sim em uma escola de ensino médio. Estava tudo bem, na verdade bem demais... Havia comprado uma casa, carro e estava cursando uma pós.
  Nessa nova rotina me deparei com muitas alunas depravadas, atiradas, mas a que não saia da minha cabeça era a loirinha dos olhos claros que embora me desse liberdade fazia a linha quietinha. Eu não pensei que fosse possível me apaixonar por uma aluna 24 anos mais nova que eu, tanto que fugi disso até não ter mais pra onde correr. Foi aí que nosso envolvimento foi maior, tão grande que a tive por inteiro. Uma pena saber que depois disso as coisas desandaram e tudo desmoronou, meu passado veio à tona e as coisas pareciam se encaixar.
  Filha de um cantor famoso e uma advogada, Luan e Fernanda... a mesma Fernanda de quem eu fui namorado. Burrice não pensar nisso antes, mas agora tudo estava mais que na cara, mais que esclarecido então preferi me afastar. Não atendia ligações, não respondia mensagens e fazia o máximo para me afastar até que o destino voltou a nos colocar frente à frente...
  Havia saído para encontrar uma amiga de infância que estava morando em uma outra cidade e por coincidência Melissa nos viu, tive que tomar uma decisão de deixá-la livre nem que para isso eu mentisse. Dissesse que não a amava, que a usei e queria apenas vingança. Doeu muito mais em mim do que nela que saiu correndo me deixando sem reação alguma. Respirei fundo e voltei a me sentar, Lourdes me olhou com um sorriso mais que sacana.

_ Eu poderia ficar com a língua dentro da boca, mas não consigo. -soltou o ar.- Você levou essa menina pra cama né?
_ Não foi bem uma cama, mas sim... -passei a mão pelos cabelos.- Mas não foi da maneira que eu disse a ela. Realmente foi por amor ou melhor... paixão.
_ Paixão por uma novinha, aí Murilo. Você não muda cara.
_ Depende do ponto de vista. -sorri.- Mas eu realmente pensei que eu e ela pudessemos dar certo, e talvez seria assim se... se o destino não fosse tão traiçoeiro.
_ Traiçoeiro? Em que sentido?
_ Namorei com a mãe dela. -Lourdes pareceu não acreditar, engoliu seco e foi perguntando mais coisas até que sua voz pareceu ficar mais baixa que o normal, franzi a testa e notei que não era isso e sim o barulho de uma sirene que parecia estar perto demais. Olhamos para o lado de fora do estabelecimento e vimos a ambulância.- O que será que aconteceu? -perguntei curioso.-
_ Um carro atropelou uma moça não tem muito tempo. -disse o garçom.-
_ Uma moça?
_ Sim, uma jovenzinha... desviou da moto e foi pega pelo carro.
_ Vamos lá ver? Eu nunca vi um acidente de perto.
_ Para de ser idiota, parece que gosta.
_ Um pouco... vem... -ela saiu e eu atrás dela.

  O local estava isolado. A polícia do trânsito desviava os veículos enquanto a PM cercou o local e o carro do resgate estacionava. Pessoas em volta, olhando até onde lhe era permitido. A fita zebrada preservava a área do acidente, uma mulher chorava descontroladamente enquanto dizia ao policial o que havia acontecido, outros dois policiais impediam uma moça de se aproximar mais.

_ Como não posso? É minha amiga que está ali, eu preciso vê-la. Era eu quem estava com ela, por favor... -franzi a testa e fiquei prestando a atenção, parecia ser... parecia não, era minha sobrinha.-
_ Nayara! -a chamei, ela ignorou meu chamado e continuou gritando com o policial.- Nayara.
_ Foi você! -acusou-me.- A culpa dela ter sido atropelada foi sua! Toda sua, eu te odeio. -me bateu, empurrou e chorou ainda mais.- Melissa! -gritava desesperada.-
_ Você quer me contar o que aconteceu e parar de gritar!?
_ O que você ainda tá fazendo aqui? Vai embora, você já desgraçou demais por hoje. Te odeio. O de io! -olhamos os dois para os paramédicos que colocavam Melissa na maca e a levavam para dentro da ambulancia, seu corpo estava parcialmente coberto e aparentemente inconsciente.-
_ Algum de vocês tem ligação com a vítima? Precisamos de um acompanhante e...
_ Eu vou! -dissemos juntos, mas ela me empurrou e entrou na frente.- Estávamos juntas quando ela saiu, eu quem devo ir. Quero saber o que houve com a minha amiga.
_ Não vou mentir, o estado dela é grave e urgente. Precisamos ir para um hospital o mais rápido possível...

  Gravidade... Urgência... 
  Eram palavras que deixavam-me preocupado e ainda mais pensativo. Mas ainda assim evitei seguir a ambulância e causar um transtorno maior quando chegasse naquele hospital, sendo assim pedi para que Nayara me desse notícias e segui com Lourdes para casa.



Narrado por Fernanda 
  Nunca tive estrutura para receber bem notícias como essa, um acidente. Foi assim com o meu pai quando tiveram que fazer um pouso forçado. Lembro de ter chorado muito, ter ficado desestabilizada por um tempo e de todo o apoio que tive. Só que agora é diferente, estamos falando da minha primeira filha, a minha menininha marrenta e doce ao mesmo tempo.
   Eu só chorava o tempo inteiro, Lila que dirigia tentava me acalmar dizendo que tudo ficaria bem... mas era difícil demais.
  Assim que chegamos e nos orientamos, seguimos para a sala de espera onde estavam mais três pessoas: meu sogro que estava em pé em silêncio e abraçado a Nayara que chorava muito, e Luan que permanecia sentado com os cotovelos apoiados na perna, cabeça baixa e em silêncio. Andei até ele e quando toquei seu ombro ele ergueu a cabeça para me olhar, não disse nada, apenas se levantou abraçando-me bem apertado. Ele colocou a cabeça na curvatura do meu pescoço e respirou fundo, apertei sua cintura e sem que dissesse nada senti suas lágrimas molharem minha pele.


_ Meu amor... não fica assim. -falei com toda calma que eu não tinha, buscando ser forte por ele e para ele.- 
_ Ma...mas ela... -voltou a chorar, o apertei ainda mais e continuei fazendo carinho em seus cabelos.- 
_ Ela vai ficar bem. -falei num tom suave, mais pra mim do que para ele que assentiu e continuou calado, recebendo os meus carinhos.-
_ Minha amiga... -Nayara chorava ainda mais, culpando-se a todo instante por não ter feito mais, por não ter impedido quando na verdade havia sido um descuido.- Tia... -era assim que tanto ela quanto a Tacy me chamavam.- Diz que me perdoa.
_ Não há o que perdoar Nay, aconteceu.
_ Mas ela... esta... estava comigo... eu sei lá, poderia... me desculpa! 
_ Eu te entendo minha querida, não se culpe tanto, não se cobre... a culpa não foi sua.
_ Eu deveria ter insistido mais, deveria ter segurado-a pelo braço e não ter deixado que ela entrasse naquele bar. -franzi a testa confusa. "Que bar?! Não estavam na sorveteria?"-
_ Bar?
_ É que... -ela então respirou fundo, pegou e começou a contar o que tinha acontecido. Que as duas haviam saído para buscar as flores que seriam de presente para mim, depois foram até uma sorveteria e foi aí que Melissa viu o Murilo com uma mulher e as coisas que ela ainda escutou e por fim o acidente. Melissa correu atordoada sem olhar para o transito, assustou com a buzina da moto e gritou quando veio o carro.- Ela foi parar mais pra frente do carro, quando ela caiu estava sem dizer nada, os olhos revirando e mesmo eu pedindo para que ela ficasse comigo, ela desmaiou... tia...
_ O que? Você está querendo me dizer que... Nayara... não me diga que...
_ Eles discutiram, ela saiu correndo sem nem olhar para onde ia e quando vi tudo já tinha acontecido e eu não pude fazer nada. -chorou e eu tentei segurar o choro, mas me doeu demais saber que o motivo do acidente foi uma discussão com aquele lixo. O medo dele não existia dentro de mim, mas a raiva estava mais que presente.-
_ Fernanda, meu amor, se acalma.
_ Não venha me pedir calma, aquele monstro... canalha... aquele infeliz... aquele... que odio! --vociferei com o pinto fechado, queria socar alguma coisa e extravasar minha raiva, mas estava em um hospital. Chorei ao me sentir impotente, inútil por não evitar que agora minha filha estivesse em um hospital. Luan me abraçou força, tentando passar confiança e tentando também controlar sua respiração que agora estava mais acelerada.-
_ Ele vai pagar caro por isso, muito caro. -disse Luan e voltou a se calar.


  Foram as três horas mais agonizantes da minha vida. Continuamos ali sem saber de nada, olhando e andando de um lado a outro daquela sala sem vida... meu sogro estava cochilando sentado, Lila estava servindo de apoio à Nayara, Luan e eu? Impacientes... nervosos... com o coração na mão ou melhor, em uma mesa cirúrgica.

_ Boa noite. -olhamos para o senhor que entrava na sala de espera, estava de mascara e ainda com os propés, deduzi que fosse o medico.- Vocês são os familiares da paciente? -perguntou pegando a prancheta que estava na mão de um rapaz. Assentimos.- Eu não vou mentir, o estado dela é grave... porém, correu tudo bem na cirurgia e aguardamos resultados. -respirou.-
_ Doutor, por favor... fala devagar que eu não estou absorvendo nada e isso me deixa nervosa, eu não sei o que pensar e...
_ Podemos ir até minha sala? -assenti.- Me acompanhe por gentileza. -assim fiz e Luan foi comigo. Entramos na sala, a porta foi fechada e nós então nos sentamos.- Acho que não nos apresentamos devidamente... eu sou o doutor Luis Carlos, médico e cirurgião.
_ Nós somos os pais, Fernanda e Luan, meu esposo. -falei.-
_ Melissa deu entrada aqui com uma fratura na perna, um galo na cabeça e além dos hematomas, um sangramento interno. Foram lesões sérias e poderiam ter sido fatais. 
_ Meu deus, e como ela está agora?
_ A cirurgia correu bem. Estancamos o sangue, cuidamos da fratura e quanto aos hematomas... nós teremos uma resposta melhor quando ela acordar.
_ Quando ela acordar? Como assim?
_ Melissa ainda está sob o efeito de sedativos, demora um pouco para que ela acorde.
_ Um pouco quanto?
_ Pela manhã. -respondeu tranquilo, enquanto eu continuei apreensiva.-
_ Nós não podemos...
_ Devido ao risco pós cirúrgico não é aconselhável...
_ Mas eu... -um nó na garganta estava dificultando minha fala, Luan alisou minhas costas e perguntou ao médico novamente e ele nos permitiu entrar na sala.- Meu deus... -corri até a cama e Melissa "dormia". Sua pele machucada, alguns curativos e seus lábios um tanto pálidos. Toquei seu rosto com cuidado, pensando em toda a dor que ela havia sentido enquanto ainda estava consciente e então me afastei abraçando-me ao Luan que estava de olhos fechados, o clima estava pesado... o silêncio era quase absoluto se não fossem os batimentos cardíacos vindos do aparelho. Voltei a chorar, como uma maneira de desabafo e frustração por saber que eu não poderia fazer absolutamente nada.-
_ Amor, para de chorar.
_ Não consigo... ela... -soluçava.- ela... Luan... -chorei mais.-
_ Você escutou o que o médico disse, ela está assim por efeitos do remédio. Amanhã ela já estara acordada, estará melhor. 
_ Deus te ouça...
_ Vamos pra casa?
_ De jeito nenhum, daqui eu não saio.
_ Não vai adiantar nós ficarmos aqui, amor... ela vai continuar dormindo até pelo menos amanhã de manhã.
_ Mesmo assim, eu...
_ E não pode receber visitas... eu vou com você vida.
_ Eu não quero deixar ela aqui sozinha, não quero amor. -falei limpando as lágrimas insistentes que ainda caiam.-
_ Deus está cuidando dela, ela vai ficar bem. -beijou minha testa, abraçou-me de lado e voltamos a caminhar em direção à sala de espera. Meu sogro estava tomando um cafezinho, disse que as meninas tinham ido até a lanchonete e logo voltariam. Luan se sentou e eu continuei de pé ainda na minha, com a cabeça pensando em tudo que havia acontecido nos últimos três meses.-
_ Vim assim que pude, como estão as coisas por aqui? -Rober entrou perguntando.-
_ Foi um atropelamento, né... Melissa ficou bastante ferida, precisou se submeter a uma cirurgia e por hora está dormindo sob o efeito de sedativos.
_ Ela pode receber visitas?
_ Não... -respondi triste.-
_ E o que aconteceu com o motorista?
_ Não sei, mas acredito eu que esteja com a polícia. -falei suspirando, cansada.-
_ Passei pra ver a Isa e com direto pra cá, fiquei preocupado e vocês não estavam atendendo.
_ Não está tudo bem, mas as coisas estão caminhando dentro do possível eu só não... -paralisei quando ergui a cabeça encarando o corredor que dava acesso à sala de espera, fixei o olhar e franzi a testa não acreditando no que estava vendo. Era ele. Não só o meu coração como também tudo a minha volta pareceu paralisar. Foram anos sem ter notícias, sem saber onde, com quem e como o Murilo estava. Ele estava sim mais velho, bem cuidado e continuava com o físico em dia. Mesmo assim foi um choque, mas não senti medo como das outras vezes e sim raiva, ainda mais quando me lembrei da minha filha naquela cama de hospital, sedada. Não pensei, sequer raciocinei, quando dei por mim já havia avançado nele. Esmurrei, bati, gritei, chorei e quando queria bater mais... fui tirada de cima dele que continuava parado.- ...vai embora daqui, você não foi e nem nunca será bem vindo.
_ Me desculpa, mas eu precisava...
_ Não, você não precisa de nada. Eu odeio você, odeio o que fez com a minha filha, odeio estar perto de você. Some daqui!
_ Fernanda, eu...
_ É melhor você sair. -Rober vociferou, olhei pro Luan que mantinha seu olhar frio, mas não se levantou para nada.- Você não é bem vindo aqui... nunca foi na verdade.
_ Eu fiquei preocupado e quis...
_ QUIS O QUE? -Nayara perguntou.- QUIS VER O QUANTO ESTAMOS MAL COM TUDO ISSO? ELA ESTAVA MUITO BEM ANTES DE VOCÊ APARECER DE NOVO E DIZER AQUELE MONTE DE MERDAS À ELA. VEIO ATÉ AQUI PRA QUÊ? ÃH? ESTÁ PREOCUPADO OU FOI SUA CONSCIÊNCIA PESADA? OLHA, DEUS SABE O QUANTO EU QUERIA QUE FOSSE NO LUGAR DELA... EU ODEIO VOCÊ, ODEIO! SOME DAQUI... -gritou outra vez, nisso apareceram dois dos seguranças do hospital e um enfermeiro que vieram por conta da gritaria e Murilo ficou em silêncio, sendo direcionado a saída.-
_ Eu preciso de um ar, com licença. -falei dando as costas a todos e indo em direção ao banheiro no final do corredor, próximo a saída. Senti que alguém vinha atrás de mim, mas estava com os olhos marejados e por não querer que me olhassem chorando acelerei os passos e entrei, logo fechando a porta. Encostei na porta e respirei o mais fundo que consegui, não sabia como agir, no que pensar... questionei à Deus o por quê dessa reviravolta logo agora que as coisas tinham tudo, absolutamente tudo para dar certo. Eu não estou sabendo lidar com tudo isso, não mesmo.



Narrado por Luan
  Numa situação como essa ser sensato é essencial, mas cara... não dava! Pela terceira vez esse cara aparece pra desgraçar a minha vida, que é a minha família. Minha mulher e minha filha, minha princesinha linda... E ele ter aparecido naquele hospital fez com que toda calma que eu estava tentando manter sumisse e eu fosse levado pelo impulso de matar aquele desgraçado. Só não tive forças para me levantar daquele banco, assisti todo "surto" da minha esposa e da melhor amiga da minha filha, e não fiz nada. Os seguranças chegaram e outra vez não fiz nada... "Você não pode ficar parado e não fazer nada outra vez." Tentava ignorar os pensamentos, mas não conseguia e meu estimulo maior veio quando Fernanda saiu da sala que estávamos segurando as lágrimas, levantei e segui atrás dela... não dela diretamente e sim a saída! Passei pela porta e respirei fundo olhando para os lados até que o vi de costas e meu único pensamento era que a hora de acertar nossas diferenças havia chegado.
  Fechei o punho e fui até ele lhe dando um empurrão, ele virou rápido e foi quando acertei um soco com muito mais vontade do que imaginava, Murilo tentou se defender mas lhe golpeei outra vez prensando-o na parede e apertando seu pescoço com as duas mãos.

_ Eu deveria ter te dado uma surra quando tive a oportunidade pela primeira vez. -ele conseguiu se soltar me derrubando no chão, mas não me conteve voltei pra cima dele outra vez.- Mas não, me segurei... pensei que nunca mais te veria e você apareceu de novo. -ele desviou de outro soco e colocou a mão na boca que estava sangrando.- Agora você aparece de novo pra mexer com a minha filha?
_ Eu não sabia que ela.
_ Seu pedófilo filho da puta! -lhe dei uma rasteira o derrubando no chão e quando ia bater nele outra vez senti mãos me segurando, meu pai entrou na frente colocando as mãos no meu peito.- 
_ Luan já chega!
_ Chega? Esse cara... esse lixo faz o que faz e eu... pai...
_ Ele vai ter o que merece, você não precisa sugar suas mãos por isso.
_ Como não preciso? É da minha filha que estamos falando, sua neta!
_ Eu sei meu filho, e tudo o que ela não precisa agora é do pai sendo preso por agressão. -falou sério, respirei fundo tentando em vão me soltar.- Luan.
_ Eu já entendi... mas só pra deixar bem claro pra esse bacaca... -olhei para ele.- ...se houver uma próxima vez, eu mato você. Nem que seja a última coisa que eu faça em vida.













~.~

  Mas gente! O.O
 O que foi isso? Acidente? Murilo narrando pela primeira vez...
Melissa hospitalizada... pais surtando... final chegando! Socorro!

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Capítulo 199 - Parte IX

  Antes de começarem a leitura eu aconselho a ler os capítulos anteriores pra entrar na vibe. E mais, quero compartilhar com vocês uma nova fanfic. Estou ansiosa por ela e tenho certeza que irão amar, o link está aí e peço para que compartilhem com as amigas que gostam de ler, nos grupos que fazem parte e não deixem de acompanhar. Beijos, boa leitura! 

Together by chance

  •ו

Narradora
  Luan voltou com a sua família para São Paulo, mas não ficou em sua casa, seguiu para outra cidade.   Enquanto as famílias se dividiam em dois carros, Rafael havia ido buscar Bruna e os filhos, aproveitou levando os sogros para casa. E Fernanda seguiu de táxi com os filhos para casa. O clima ainda estava tranquilo, até porque estavam cansados da viagem em si. Os únicos que não sentiram esse cansaço foram os três pequenos que estavam ligados no 220.
  Não queriam saber de descansar e deram uma canseira daquelas na mãezona dedicada e muito cansada.

_ Mas... tá bom, Luan. Não vou proibir nada, não vou falar nada... Tchau. Também amo você. -desligou.- Desce daí Helena.
_ Brincando de brinca mamãe.
_ Brincando de brincar coisa nenhuma, aí não é lugar de subir. Desce.
_ Não quelu...
_ Não o caramba, vem aqui com a mamãe... vem...
_ (...) -Helena voltou a ficar de pé em cima da mesinha de centro na sala, cantando e dançando igual ao DVD que assistiam. Fernanda levantou do sofá e lhe pegou no colo descendo-a dali e empurrando a mesa.-
_ Se você subir lá outra vez eu vou te deixar sentada pensando, ouviu?
_ Sim. -disse a pequena baixando a cabeça com um beicinho linda, mostrando arrependimento. Mas foi a mãe virar as costas que ela mostrou a língua e saiu correndo em direção à cozinha.- 
_ O bicho vai pegar você aí no escuro, viu Nena.
_ Não mamãe, bicho não! Não deixa. -voltou correndo e se jogando no irmão que descia as escadas.- Atur...
_ Mãe para de assustar a menina, ela vai cair.
_ Vai nada, ninguém mandou ela ir lá... Já arrumou sua mochila?
_ Tô com preguiça...
_ O que sua irmã está fazendo?
_ Vendo vídeo no YouTube, vendo essas meninas feias.
_ Continue pensando assim e eu seria a mãe mais orgulhosa de todas. -beijou o rosto do menino e subiu para o quarto, foi até o closet e fez o que Luan havia pedido. Pegou o celular que ainda estava desligado e então seguiu para o quarto da filha mais velha.- Melissa. -a menina não acreditou, virou assustada e imaginando ter feito algo de errado na viagem.- Seu pai pediu para eu te entregar o seu celular, toma.
_ Obrigada m... -não conseguia dizer, ainda se sentia envergonhada.-
_ Juízo hein. -e saiu. Melissa olhava para o aparelho e sua primeira reação havia sido ligá-lo, mas estava sem bateria. Ela o deixou carregando enquanto seguia para um banho rápido, já que se sentia com muito calor. Ao sair, colocou seu pijama e seguiu até sua escrivaninha e ficou arrumando sua mochila de acordo com as aulas do dia seguinte, aproveitou também para responder alguns dos exercícios que estavam pendentes e depois se deitou na cama. O quarto em silêncio, seus pensamentos pareciam estar se organizando em um misto de lembranças: boas e ruins, momentos intensos e outros superficiais, sentimentos confusos... ela se levantou e procurou no meio de suas "bagunças" as fotos, cartinhas entre outras coisas. 

  Fernanda sempre foi de guardar as coisas dos filhos desde quando pequenos então não foi difícil para Melissa encontrar registros de sua infância como fotos de apresentações no jardim da infância, viagens feitas com os pais ainda  com menos de dez anos, sem contar as fotos com os avós, "bisos" segundo ela dizia... as primeiras fotos de quando era neném ao lado de sua mãe, eram fotos que não acabavam mais.
  Ela perdeu a nossa das horas que ficou por ali e dormiu por cima de todo aquele acervo.


_ Mãe, o que a senhora vai fazer amanhã?
_ Levar vocês na escola, ir trabalhar... por que?
_ Se meu pai está viajando... quem vai buscar a gente?
_ Por acaso eu já te esqueci na escola? -perguntou rindo, Arthur negou.-
_ Posso ir na casa da minha vó?
_ Se ela estiver em casa, sim.
_ Tá bom. -se despediu da mãe e subiu para dormir. Helena ainda estava elétrica e foi dormir eram quase três da manhã.


  Aconteceu que no dia seguinte Fernanda ficou com pena de acordar a pequena tão cedo, acabou levando a filha mais nova para a empresa.

_ Nena! 
_ Que é ela mamãe?
_ É a Polly, meu amor. Fala "Oi." pra ela.
_ Oi. -falou toda timida, se escondendo nas pernas da mãe.- Mamãe tade a dinda?
_ A dinda não chegou ainda, hoje ela foi ver o neném dela.
_ O neném dela é eu.
_ Você é o neném da mamãe e do papai. -Fernanda explicou e isso foi motivo pra pequena Helena ficar enciumada e emburrada até entrarem em sua sala.- Tira esse bico, neném.
_ Não sô seu neném mais. Sô neném de ninguém... eu sô moxinha.
_ Aí que "moxinha" mais linda da mãe dela. -mordeu sua bochecha.- Gostosa da mamãe.
_ Fê, posso entrar?
_ Entra Junior, vem cá ver minha "moxinha" mais linda.
_ Essa princesa aqui? -ele entrou encostando a porta, deixou a papelada em cima da mesa e estendeu os braços na tentativa de pegar Helena no colo.- Não quer vim com o tio?
_ Cê é meu tio tamém? -perguntou desconfiada.-
_ É sim meu amor, amigo da mamãe. Fala "Oi." pra ele.
_ Oi. 
_ Quantos anos você tem?
_ 2.
_ Tudo isso?
_ É.
_ Veio trabalhar muito hoje?
_ Brinca a mamãe disse.
_ Quer dar uma volta?
_ Isso, inventa mesmo. Você que vai levar.
_ Enquanto você olha os papeis eu e a mocinha aqui iremos comprar um doce bem gostoso na padaria daqui debaixo.
_ Eu tenho um marido muito bravo e sou uma mãe 10x mais brava. Cuidado com a minha pequena.
_ Pode deixar. -eles saíram da sala e Helena foi ainda tímida, mas não demorou para que sua curiosidade desse sinais e ela comentasse sobre o que via pelo caminho.


...

_ Ele nunca mais me ligou, eu sinto falta. -Melissa conversava com a amiga.-
_ Ah amiga... foi melhor assim.
_ Melhor pra quem? -falou alterada.- Meus pais sempre disseram que diálogo é a base de tudo, e ele surtou por saber quem realmente eram os meus pais e sumiu. Eu tentei ligar, mandei mensagem e imagina a minha dor de saber que ele não atendeu ou respondeu alguma das mensagens. 
_ O que você quer com ele afinal?
_ Não sei, mas sinto que precisava vê-lo uma outra vez. -disse olhando para o nada com os olhos marejados.- Sei que a situação em casa está melhorando, mas nada foi esclarecido.
_ Quer esclarecer mais o que?
_ Aí Tacy, não é um crime eu me apaixonar. E daí se ele errou no passado?
_ Aí não, não me diga que...
_ Todos nós merecemos uma segunda chance, merecemos nos redimir ou até mesmo recomeçar. Ele recomeçou, meus pais também. 
_ Você é louca.
_ Ninguém me entende, eu amo os meus pais e sei que errei feio. Só que não tenho arrependimentos do que vivenciei com ele. Eu amo o Murilo.
_ Você precisa de um médico, porque se depois de tudo o que sua mãe contou, toda a treta que tiveram e o climão que ficou... você chegar e falar que ama um cara como ele. -fez uma pausa.- Você está no mínimo louca.
_ O amor é uma loucura, a maior delas talvez. -sorriu com tristeza, levantou-se e se despediu da amiga pegando sua mochila e indo pegar um táxi.


  Melissa conversou com a amiga durante todo o caminho de volta pra casa, chegando no condomínio pagou o taxista e entrou. Como de costume, subiu para o quarto e tomou um banho, estava calor.   Vestiu uma roupa fresca, arrumou a cama e guardou suas bagunças, desceu para almoçar sozinha. Já que deduziu que os irmãos estavam com os avós. 
  Acabou passando sua tarde sozinha. Ouvindo músicas, estudando, escrevendo, bem tranquila.   Enquanto sua mãe estava se descabelando na empresa com alguns dos projetos que haviam dado divergência.


_ Ôh mamãe eu quelia ir pra minha casa, brinca com as minha boneca.
_ Queria ficar quietinha, fazendo seu desenho. Daqui a pouco nós vamos pra casa...

Três horas depois ...
_ Ôh dinda, quelia ir pra casa.
_ Você vai meu amor, vamos lá chamar a mamãe.
_ Mamãe!
_ Vamos Helena, vamos pra casa vai...
_ Aleluia.
_ Você quando entra nessa sala só por Deus.
_ Deixa de ser exagerada, Luan dois.
_ Engraçadinha.
_ Aprendi com o tempo. Vai ir pra casa?
_ Vou sim, minha mãe vem me buscar.
_ A minha tamém, dinda.
_ Dá tchau, filha. -Helena assim fez dando a mão para a mãe e em seguida indo para o elevador.- Agora vamos passar no mercado tá?
_ Vou comer doce?
_ Não, nada disso.
_ Por que mamãe? Eu quelia muito.
_ Você comeu doce o dia todo, vai comer comida agora.
_ Comi no almoço com a senhora e a dinda.
_ Já falei. Não. Tchau seu Jorge.
_ Tchau dona Fernanda, tchau mini Fernandinha. -Helena brava virou o rosto, não querendo saber de papo.-
_ Ih seu Jorge, essa aqui tá malcriada que só ela. 
_ É coisa da idade. -sorriu apertando a trava que levantava a cancela do estacionamento.-
_ Eu não tô malcriada, não.
_ Tá sim senhora, mas deixa que em casa a gente se acerta.
_ Vou apanhar no bumbum? -perguntou querendo se esconder da mãe, Fernanda riu negando com a cabeça.- Qui cê tá rindo?
_ Nada Leninha. Você não disse que estava cansada?
_ Quelia brinca com as minha boneca eu disse...
_ Sei viu...


  Fernanda não só passou no mercado como também foi na casa dos sogros, Arthur quis ficar pois o primo estava lá também e pelo jeito dormiria por ali. Maria Luísa estava com saudades da mãe, quis ir pra casa. Uma noite das garotas.

_ Aí Luan, você tem cada ideia. Se liga ôh, sou uma mulher de respeito. -respondeu deixando as compras em cima do balcão da cozinha, tirou os saltos e foi até a geladeira.-
_ Ah amor, vai falar que não gosta disso.
_ Coisa linda, eu não tenho mais vinte e cinco anos não.
_ A empresa é sua, a sala é sua e a fantasia minha.
_ Não adianta, pode tirando essa ideia da sua cabeça. Pirou é?
_ Acho que você ou tá doente ou tem um amante.
_ Minha saúde está ótima. -respondeu rindo ainda se deslocando pela cozinha, guardando uma coisa e outra até que Melissa apareceu na cozinha com os olhos vermelhos e uma cara péssima.- Posso te ligar depois?
_ Ficou séria de repente... aconteceu alguma coisa?
_ Não, daqui a pouco te ligo. -e desligou sem dar tempo para o Luan responder, o que o fez pensar milhares de coisas. Retornou a ligação e nada de Fernanda atender, mais uma vez e nada. Até que na última tentativa Maria Luísa atendeu.-
_ Malu?
_ Oi pai.
_ Cadê sua mãe?
_ Não sei, ela fechou a porta do quarto da Mê.
_ Elas brigaram?
_ Também não sei, acho que não.
_ Maria!
_ Eu.
_ Deixa eu falar com ela vai.
_ Tá...
_ Alô...
_ Quer me matar?
_ O que foi?
_ O que aconteceu com a Melissa?
_ Menstruação. Cólica muito forte, uma dor de cabeça terrivel e muito enjôo. -respirou fundo.-
_ Tem certeza?
_ Bom, eu menstruo alguns anos... então sim né amor. -riu.- Está tudo bem. Pode ficar sossegado. Vou fazer a janta, tchau.
_ Nem um beijo?
_ Beijo amor, te amo.
_ Nossa Fernanda, melhor que não tive dito... eu hein, que má vontade.
_ Ôh amor você tá muito sensível hoje, pelo amor de Deus.
_ Tchau, vai lá fazer duas coisas... não quero atrapalhar não. -e desligou.


  Fernanda olhou para o celular e não disse nada, deixou o telefone em cima da mesa e seguiu para a cozinha. Preparou o feijão, colocou o arroz no fogo e temperou a carne deixando descansar enquanto cortava a salada. Melissa estava deitada esperando que o remédio fizesse efeito, Maria Luísa brincava de casinha com Helena. 
  As horas não demoraram a passar e logo o jantar estava pronto, as meninas de banho tomado e esperando a mãe para jantar.


_ Falta a Mel, mamãe. -disse Helena ao se sentarem à mesa.- Tade ela?
_ É mãe, a gente nunca come separado. Vocês brigaram?
_ Mais não podi, o papai que disse.
_ Sua irmã está deitada, descansando...
_ Quando é o papai a gente acorda ele.
_ Chega vocês duas, hora de comer não é hora de falar. -falou tranquila, fugindo das perguntas e afirmações das pequenas.-
_ Isso tá esquisito.
_ É mamãe... muito quisito.
_ Vocês duas hoje hein... tá demais.
_ Tá tudo muito quieto, tá chato.
_ Muito mamãe.
_ Filha você está parecendo papagaio, sabia? Tudo você repete. 
_ O que é pagaio?
_ Um bicho que sabe falar e tudo o que você fala, ele repete. E você está Igualzinha.
_ Pagaio é bonito?
_ É verdade, Leninha.
_ Credo! Verde não gosto...
_ Gosta de que?
_ Azul que é de menina também.
_ Quem disse isso? -as duas irmãs interagiram durante todo o jantar e ao terminarem subiram juntas para escovar os dentes e irem para cama.- Boa noite, mãe.
_ Boa noite gatinha. -beijou sua testa e saiu do quarto.- Helena, você já estava deitada... o que foi pequena?
_ Quelia muito deita com a mamãe. -disse indo para o colo da mãe.- Deixa?
_ Deixo sim, mas nós duas vamos dormir. Nada de brincar, cantar ou ver TV. Bora neguinha. -seguiram para o quarto, deitaram e não demorou para que estivessem dormindo.





Narrado por Fernanda 
  O clima tinha uma atmosfera diferente do que tinha sido nos últimos dias, mas a sensação de que uma forte emoção viria não saia do meu peito. 
  Havia se passado três dias da semana, eu estava indo para casa mais cedo por não estar me sentindo bem. Cheguei e depois de um banho, ter me alimentado e pedido para a madrinha buscar a afilhada na escolinha, subi para me deitar e encontrei na cama algo que sequer tinha reparado antes. Um filhote de cachorro dormia tranquilo, com as patinhas cobrindo os olhos e todo encolhido.


_ Thor. -falei ao ler sua coleira. Estava com um laço no pescoço dando a entender que era um presente, peguei o cartão e li "Achei muito sua cara, espero que goste."- Melissa. -junto estava um outro envelope, o abri e vi que se tratava de uma carta e minha curiosidade foi longe.

"À você, melhor mãe e sem dúvidas a melhor amiga que eu poderia ter na vida.

  Mãe,

  Pensei muito antes de começar a escrever-te esta carta procurando palavras que se encaixariam no contexto e passasse com mais transparência o que estou sentindo. Não foi fácil, mas tenho a consciência de que não foi impossível, pois ao tempo que pareço não ter o que dizer sou invadida por lembranças e recordações que me enchem não só os olhos como também o coração. Promete não chorar?

  Reconheço melhor que ninguém que não sou uma pessoa fácil de lidar, nem mesmo flexível... só que nem sempre foi assim. Hoje eu tenho 18 anos e 4 meses e você me conhece desde quando eu tinha 3 meses na barriga! Claro que naquela época você nem sabia que eu era uma menina, quem dirá que se casaria com o meu pai e se tornaria minha mãe e mãe dos meus irmãos. Quer dizer... você já era uma mãezona bem antes disso, não é?

   Cresci sob os seus cuidados e todo o seu carinho, você não tinha a obrigação de me acolher e desenvolver tal afeto por mim. Afinal você era apenas a advogada que cuidaria para que o meu pai não fosse vítima de um golpe e eu não me prejudiassem, eu sei. E as coisas mudaram, passei a te amar antes mesmo dos primeiros passos e dizer as primeiras palavras. Aliás, grande parte disso aprendi com você. O amor por animais selvagens, por leitura, praias e principalmente a dança.

  Em quase 19 anos de vida eu obtive inúmeras lembranças, lembranças de momentos tão nossos que ao olhar as fotos os meus olhos se enchem de lágrimas, meu coração arde de alegria/felicidade e não é pouco. Antes eu era a Mê e você a minha tia Fei, que me levou para passar dias na sua casa, me acompanhou nos shows do papai, festinhas da pré escola e noites em que eu não estava tão bem assim... lembra? Tudo bem que eu era pequena e não recordo muita coisa, mas aquela noite no hospital foi a primeira vez que me chamou de filha. Aí as coisas mudaram um pouco, passei a confiar mais e te chamei de "mamãe", tudo bem que a primeira vez eu não soube como você iria reagir, como também não faço ideia de como se sentiu. Sei que a reciprocidade aconteceu e se manteve até hoje. 
  Mãe, nosso desentendimento foi causado por algo que eu não saberia explicar. Reconheço meu erro melhor do que qualquer outra pessoa que tente entender o que houve entre nós duas e consequentemente com a nossa família (eu, você e o papai). Meu "relacionamento" com o Murilo, se é que se pode ser chamado assim, foi o pivô disso tudo. Mas eu não o considero individualmente como um erro. Eu cometi a loucura de me apaixonar, por um homem mais velho, bonito, experiente, que me encantou como pessoa. Sou nova e estou na fase de quebrar a cara, por isso mantive as escondidas, afinal quais são os pais que querem ver sua filha com um cara 24 anos mais velho? Bom. Não foram os meus.
  Foi tudo muito rápido e de uma complexidade enorme. Foi difícil associar  o homem do qual eu conheci: tranquilo, atraente, maduro e flexível; com o monstro que agrediu e violentou a minha mãe: agressivo, possessivo, um covarde. Deu um bug na minha cabeça, eu fiquei louca e não fiz questão de parar e refletir. Só disse um monte de merda e ficou por isso mesmo... quer dizer, eu pensei que ficaria. Mas vocês me deram uma dura daquelas e eu vi minha família se afastar aos poucos, uma barreira nos mantinha afastados mesmo que estivessemos juntos. Seu sorriso pra mim já não era o mesmo, suas brincadeiras e risadas não existiam, sua frieza me cortou, preferia ter levado uma surra, ter recebido mais que o seu silêncio... me vi na situação de ser uma adolescente rebelde que não é compreendida pelos pais quando na verdade sou uma jovem adulta entrando na faculdade. Que sempre teve o amor e dedicação dos pais, que sempre teve ensinamentos e que de maneira alguma deveria ter se comportado como uma desvairada. Aí mãe, me desculpa vai!
  Por favor... para de me ignorar! Sinto que preciso do seu abraço... até porque nessa vida louca nós fechamos os olhos para dormir e não sabemos se iremos acordar, ou saímos pela manhã e não sabemos se iremos voltar. Não prometo que não voltarei a errei, pois seria uma mentira. Mas digo que tentarei reparar cada um dos meus erros. Afinal, todos merecem uma segunda chance. Eu te amo demais, não esquece tá? Te presenteei com o Thor porque sei o quanto a casa ficou vazia depois que nosso maior amigo se foi e também para que se lembre de mim agora e sempre, seja onde eu estiver.


Com todo amor do mundo, sua filha.

Melissa Marques Santana"





   Se a intenção era fazer com que eu chorasse, ela conseguiu. Thor acordou com os meus soluços, chorei demais com aquela carta. Ela fez com que eu viajasse naquele mar de lembranças e passasse pela minha cabeça aquele flashback dos meus momentos com ela e vamos combinar que são muitos, 18 anos e não 18 minutos. Foi linda, era o que eu precisava pra quebrar a armadura de durona e correr pro abraço.
  Limpei as lágrimas, guardei a carta de volta no envelope e depois de um beijo me levantei oara guardá-lo.


_ Thor, lindo nome amigão. Vem cá, as meninas precisam te conhecer garotão.

♥ 1.209 curtiram
fermarques
Tenho a melhor filha, né Thor?




_ Você está uma gracinha com esse laço, coisinha mais linda. As crianças irão amar você por aqui. -o abracei forte, quase sufocando o coitado enquanto ria me lembrando de que ele não era um tigre que eu poderia apertar com toda a minha força que não faria nem cócegas.- Te acho muito pequeno pra ficar lá fora, mas assim lindão na minha cama não vai rolar. -ele tombou a cabeça para o lado todo pidão, mas não dei moleza. O deitei no tapete e depois de lhe dar um beijo bem gostoso, deitei para descansar um pouco.

  Apaguei assim que minha cabeça encontrou o travesseiro, ao acordar algumas horas depois tudo estava escuro lá fora e a luz acesa no quarto. Dalila estava com o dedo pressionando o interruptor.

_ Lila?
_ Tentei te ligar... está tudo bem?
_ Eu que deveria te perguntar, você está pálida, com o nariz vermelho... você estava... chorando...
_ Amiga, eu não sei enrolar muito e nunca soube como dar notícias tristes... -sua voz embargou e vi seus olhos lacrimejarem.-
_ Dalila... quer me contar o que aconteceu?
_ Tá bom, lá vai... fechou os olhos... Melissa sofreu um acidente e está hospitalizada.
_ A MELISSA O QUE? 



















~.~
  OMG!

     O.o


PS: Mais de um mês sem capítulo. UM MÊS INTEIRO! Vocês sentaram falta, eu senti falta, foi uma loucura. Mas voltei... ainda estou com o PC zuado, ele liga e funciona quando quer. O importante é que consegui editar e postei, ainda não vai rolar maratona... porém estou pensando nela. Enfim... LuNanda está de volta! ❤