Capítulo 44

Narrado por Fernanda
  Quarta-feira em casa, quinta e sexta terminei minha noite pra faculdade e pude enfim ir pra casa. Tinha acabado de tomar banho quando meu celular começou a tocar e era minha parceira pra toda vida. Dalila. Me chamou pra assistir um show de um Mc em uma casa noturna. Iria ela, Luis Felipe e eu, caso aceitasse.

_ Não tô afim de segurar vela.
_ Vai segurar vela se quiser, porque vai estar cheio de homens por lá.
_ Dalila não vou!
_ 23h30 eu tô passando ai na sua casa.
_ Já falei que não vou.
_ Você vai. -falou e desligou.-

  Deixei uma roupa em cima da cama e vesti um shorts bem curtinho e um top. Estava descendo as escadas quando a porta se abriu e meu pai cruzou a porta acompanhado de outros dois homens e ficou um clima esquisito quando fui cumprimentá-los.

_ Cadê minha mãe?
_ Happy Hour. -falou sorrindo.- E você?
_ Eu o que?
_ Vai sair? -olhei bem para os dois homens que praticamente me engoliam e assenti.- Tem hora pra voltar?
_ Vou dormir na casa da Lila.
_ Certeza?
_ Acha que eu vou dormir com... -eu ia falar mas ele fechou os olhos e eu me calei.- ... Vou tomar água!

"Droga! Que merda viu! Uma coisa que não mudou foi a desconfiança do meu pai. que agora tudo achava que tinha homem no meio e isso me constrangia de alguma forma."

  Não enrolei na cozinha e logo que subi pro quarto fui me arrumar e depois de pronto postei uma foto no instagram, Snapchat e desci sem nem me despedir.
  À noite foi chata, estava sem animo pra qualquer balada que fosse. E por mais animo que o tal do Mc estava eu não curti muito além de ficar de vela do começo ao fim.

_ Não quer ficar amor? -Lila perguntava enquanto ele estacionava.-
_ Nada... Sua amiga tá aí, sabe que não gosto de situações assim...
_ Ela nem liga!
_ Ah ligo sim, saber que minha amiga está fodendo com o namorado no quarto ao lado me deixa constrangida viu cunhado.
_ Boa noite pra vocês. -falou rindo e depois de um beijo ela entrou e eu junto.-
_ Empata foda você hein amiga.
_ Desculpa, mas de verdade eu não me sentiria bem.
_ Ôh amiga! Tô te sentindo mais pra lá do que pra cá. -abriu os braços e eu lhe abracei bem forte.- Tá pensando naquilo ainda?
_ Eu não consigo esquecer! Juro que tento.
_ Arruma outro homem, nem todos são iguais e eu vivo te falando isso.
_ E o medo de me foder de novo?
_ Encontre um que te dê valor e nada disso vai acontecer boneca. -beijou minha testa.- Agora vamos dormir, vai.
_ Prefiro um filme e pipoca doce.
_ É mesmo, né? Mas um banho e tirar a maquiagem é a primeira coisa a se fazer.

  Nossa madrugada foi relembrar o que costumávamos fazer nos fins de semana livres (todos). E depois dormimos na sala mesmo. Fomos acordar com a mãe dela nos chamando pra dormir no quarto, mas preferi ir pra casa e o pai dela foi quem me levou.

_ Bom dia, Fer.
_ Bom dia mãe. -beijei seu rosto.- Dormiu bem?
_ Muito bem mesmo. -sorria radiante e logo meu pai apareceu lhe dando um beijão e sorrindo para mim desejando um bom dia também.-
_ Animadinhos vocês dois hein. -brinquei.-
_ Depois de casado a melhor hora é a de dormir minha filha. -olhou pra minha mãe que ficou corada.- Apesar de que dormir mesmo...
_ Hugo, pode parando. -falou toda sem jeito.-
_ Relaxa, mãe.
_ Isso não é coisa que se diga na frente dos filhos.
_ Fernanda sabe bem o que é isso, não é mesmo filha ?
_ Sei sim pai e como... Mas deixa isso pra lá, né... Vamos tomar café que eu tô com fome!
_ Mabel não te deu comida? -meu pai perguntou rindo.-
_ Aí pai, não sabe que estou em fase de crescimento?
_ Sei viu.

  A refeição foi ótima, como há tempos não tinha e eu voltei a me sentir um pouco mais leve. Depois meus pais comentaram que esse fim de semana iriam para Ilha Bela com alguns amigos e até me convidaram, mas eu comentei que havia recebido o convite do Luan e que aceitaria. "Lógico que meu pai odiou, mas não falou nada, a reação dele foi fingir que não tinha escutado e subiu pro quarto. Enquanto minha mãe desejou um bom passeio e pediu que eu tivesse juízo e não aprontasse."

*Convite ainda está de pé?* -perguntei no fim da tarde rindo.-

*Vai dar não, vou levar uma loira comigo!*

*Vadio, fica com ela então! *

*É zuera gatinha. Tem loira nenhuma não...*
*Quer dizer. Até tem, mas a loira que vai cê conhece e cêis duas se dão bem demais.*

*Não quero ir mais também, tchau!*

  Bloqueei a tela do celular e fui pro meu quarto separar minhas roupas sabe. E não passou cinco minutos e o celular começou tocar.

_ Fala. -atendi "séria".-
_ Óia que ela tá toda séria.
_ Vai começar de gracinha? -continuei grossa.-
_ Ôh Morena, eu tava brincando princesa. Nunca que eu levaria qualquer uma para estar comigo e minha familia e na minha folga.
_ Sério?
_ Cê tamém não ajuda cara. Oh, vamos. Vai ser legal!
_ Eu não sei, viu... -"Mentira que eu já estava entrando no closet e procurando minhas coisas."- ...Posso pensar? -me segurei pra não rir quando ele xingou um palavrão.-
_ Aceita ir no show de hoje?
_ Muitos convites, hein.
_ Tô com saudades, poxa. Quero te ver, te abraçar...
_ E só isso? -brinquei.- Oh... Vai vir me buscar?
_ Busco e te deixo em casa se quiser.
_ E se eu disser que aceito ir pra Londrina ?
_ Melhor ainda rapaiz. -nos falamos um pouco mais e depois de combinar a gora que ele iria me buscar eu desliguei e fui terminar o que havia começado.-

  Realmente estava frio na hora de irmos pro show e tudo, mas eu não queria por calça. Então optei por vestir uma meia calça cinza, com um vestido de mangas compridas azul com os botões da frente dourados e uma bota preta de salto. Deixei meus cabelos soltos e jogados para o lado, uma maquiagem leve embora fosse noite e estava pronta.
  No horário combinado a van estacionou na porta de casa e desci para abrir a porta e deixar que o Luan pegasse minha mala (não era uma mala grande, e sim uma pequena que coube minhas coisas, afinal eu passaria um dia lá.)
  Cumprimentei à todos e me sentei na frente com a Marizete.

_ Não quer sentar perto de mim não é? Depois fala que tá com saudades!
_ Aí, Luan tá carente né... -comentei com a mãe dele que riu.-
_ Dexa papai, dexa a Feinanda lá cá vovó. -escutei aquela vozinha bem fininha.-
_ Tá vendo isso né filha?
_ Tô não, num alcanço. -isso nos causou risos.- Levanta eu daqui.
_ Não, fica quietinha na sua cadeira, vai.
_ Ah papai, num gostei. -levantei pra olhar e ela estava toda emburrada fazendo bico.-
_ Oi coisa linda!
_ Feinanda! -sorriu.- Pega eu.
_ Deixa a van parar que eu te pego viu.

  Voltei a me sentar e não demorou para que chegarmos no local do show que era um estádio. Eu fui pro meio do barro de salto alto e meia calça, ainda bem que não estava chovendo. Mas estava frio.
  Por ser uma única entrada não tivemos como escapar dos fãs, mas eles se distraíram com o Luan e Bruna e nós passamos rapidinho indo para o camarim... "Por ser mais de um show por noite não teve sorteio pela central e sim três fãs que ganharam por uma radio com direito à acompanhante e foram somente esses."

_ Eu quero ih lá com o papai. -Melissa dizia querendo descer da cadeira, mas ele estava bem no meio do atendimento.-
_ Agora não pode meu amor, espera só um pouquinho.
_ Ah não tia Fei. -fez bico.- Vô fica quietinha. -vencida por aquela fofura eu bati na porta e entramos devagar e a menina que estava abraçada com ele me olhou quase engolindo mesmo.- Papai!
_ Eu sabia. -disse a menina.- Não ia demorar pra essa vaca voltar aparecer! -todos ficaram de boca aberta.-
_ Oi? Eu que sou a vaca, querida?
_ Não tô vendo nenhuma outra aqui. -falou firme e me encarando.-
_ Assim, você não é obrigada a gostar de mim. Mas respeito é algo que todos devem ter, isso se chama educação. -ninguém dizia nada, nem mesmo o Luan.-
_ Cê chamou a tia Fei de vaca, coisa feia, num pode xingar. -Melissa disse séria pondo a mão na cintura enquanto eu do mesmo jeito que entrei, saí voltando para junto da galera da banda e família do Luan.-
_ Tá tudo bem, querida?
_ Tô sim, Mari. -respirei fundo e mexi nos cabelos.- Bru?
_ Oi, Fer.
_ Vamos lá fora comigo? Coisa rápida. -ela assentiu e fomos sem nenhum segurança.-
_ Quer o que aqui fora sua doida?
_ Uma bebida bem forte pra esquentar!

  Andamos até uma barraca e comprei um vinho quente e bebemos enquanto fazíamos comentários dos rapazes que estavam no show.

_ Boa noite lindas. -paramos de rir e olhamos para um rapaz, bem bonito até, que veio até nós.-
_ Boa noite. -respondemos.-
_ Solteiras?
_ Não, ela é minha namorada. -falei me segurando pra não rir e a Bruna sustentou minha mentira.-
_ Namoradas, vocês duas? -o coitado estava indignado.- Foi mal aí, bom show. -e saiu.-
_ Nossa amiga, lésbica? -perguntou rindo.-
_ Sei muito bem onde esse papo de boa noite termina e minha amiga nem eu nem você queremos que acabe assim. -voltamos a rir e depois de pagar voltamos pro camarim. Onde ficamos até o começo do show.-

  O show de hoje foi emocionante, fazia tempo que eu não assistia um show do Luan. E foi triste quando chegou ao fim.

_ Saí menino! -tentava em vão empurrá-lo pra longe já que ele estava todo suado, rosto, blusa, tudo.- Luaaan! -choraminguei.-
_ Luan deixa a menina!
_ Ôh paizão tava com saudades dela, tô só abraçando. -ele conseguiu e me abraçou forte, muito forte.-
_ Viado! -falei brava e ele riu mordendo minha bochecha.- Para!
_ Luan Rafael, chega!
_ Ôh mamusca briga não muié. Sei que é ciúmes, quer abraço tamém oh... -se soltou de mim e foi até ela.-
_ Nem inventa hein. -riu saindo do camarim.-
_ Eu, ocê, dois filho e um cachorro! Ededom, o filme bom e fRio de agosto. E ai cê topa! -Melissa entrou no camarim cantando e a Bruna botando pilha.-
_ Que coisinha mais linda cantando a música do papai.
_ Eu gosto dessa papai!
_ Desde pequena puxa saco, assim não vale. Ela tem que cantar Lucas Lucco! -impliquei e ele fez careta.-
_ Eu sei tamém e dança!
_ Quero ver, me ensina então.
_ Esse arrocha é pa você que acho que tava aqui sofreno, uh vai veno, uh vai veno ! -mexia de um lado pro outro.-
_ Melissa! -Luan olhou sério e ela se escondeu pelo meio das minhas pernas.- Ah sua sem graça, cê vai ver só!
_ Papai! Não.

  Luan era besta viu, meu deus que tonto.
Logo que ele se trocou nós voltamos pra van e fomos pro aeroporto. Embarcamos em seu jatinho e rumamos para Londrina, viagem um pouco demorada, quase todos dormiram. Sobrando eu e ele.

_ Queria te pedir desculpa pelo o que aconteceu no camarim.
_ Você não teve culpa. Nenhuma.
_ Fiquei sem reação, e travei.
_ É sua fã, deve ter falado aquilo no calor da emoção. E eu respondi à altura. Então relaxa.
_ Depois que você saiu ela ficou toda sem graça, acabou pedindo desculpas e depois de uma foto saiu.
_ Te disse.
_ Melissa que ficou indignada. Falou "Ih papai abaça ela não que ela xingou a tia Fei" e a menina ficou quase roxa de vergonha.
_ Bem feito, Melissa é das minhas.
_ Parecem mãe e filha.
_ Vou adotar mesmo, Ester não merece ser mãe de um anjo desse. -falei e ele sorriu.-
_ Tá com frio, né? -assenti.- Por quê não falou antes ?
_ Esqueci.
_ Veste aí. -assim fiz. "Estava maravilhosa, toda trabalhada na 'breguisse'. Meia calça, bota e uma blusa de moletom."-
_ Tô super feia! Mas meu frio é muito mesmo, nem ligo.
_ Ai viu Fernanda, nem acredito que cê veio.
_ Nem eu. Era para eu estar em Ilha Bela.
_ Com quem?
_ Meus pais e alguns amigos deles. Mas preferi ir pro meio do mato, onde não tem sinal.
_ Isso que é o bom, você relaxa.
_ Relaxar mais?
_ Eu gosto de calma, embora meu dia-a-dia seja totalmente o oposto.
_ Depende da calmaria e do meu estado de espírito.
_ Ai, Fernanda.. -deu risada.-
_ Mas é verdade, eu sou uma pessoa que por mais calma que eu pareça, por dentro sou uma furacão. Meus pensamentos voam!
_ Voam pra onde? -perguntou malicioso.-
_ Lugar nenhum. -deitei minha cabeça em seu ombro e foi assim o restante da viagem. Depois que desembarcamos fomos para o carro e ele dirigiu até a chácara que estava de madrugada e duas vezes mais frio que em São Paulo.

   Tratamos de ir dormir mesmo, e fomos acordar no domingo cedinho. Céu clareando, e estava sol, muito sol. Levantei e já fui direto pro banheiro. Escovei os dentes, lavei o rosto e desci prendendo os cabelos e ainda de pijama.
  Tv estava desligada, mas da cozinha vinham os latidos e uma conversa danada.

_ Bom dia gente! -falei parando perto da entrada.-
_ Bom dia, Nanda. -Amarildo falou sorrindo.- Levantou cedo hein. Ainda são 8h37min.
_ Vi a claridade e pensei que estava tarde,  mas me enganei. -risos.-
_ Ôh vovô, posso ir na piscina? -Melissa já queria brincar na água.-
_ Ainda não, tá cedo. Tem que tomar café primeiro e depois tomar banho.
_ Ah! Mais vai demora vovô, deixa vai.
_ Nada disso mocinha, ninguém está na piscina.
_ Ah, vovó! A tia Feinanda vai com a Melissa. -falou me estendendo os braços para que eu lhe pegasse no colo.-
_ Depois a tia vai com você, pode ser ? -ela assentiu e deitou a cabeça em meu ombro.-
_ Ôh tia Fei...
_ Oi princesa.
_ Vamo acorda o papai? -riu baixinho.-
_ Mas ele tá cansado, fez show ontem...
_ Ele tem que comer, senão vai ficar fraquinho!
_ A gente primeiro come e depois vamos lá. -ela assentiu e então nos sentamos.-

"Mãos de fada! Apelido da Marizete. Nossa essa mulher cozinha comi ninguém, como ninguém mesmo. Dá até gosto de comer."

  A mesa estava bem farta, bolo de laranja e cenoura, pão de queijo quentinho, tinha pão francês e suco de goiaba, leite e café. E foi aquela conversa sobre o clima e comendo e falando, até que não coube mais nada no estômago então continuei sentada e prosseguimos com o nosso assunto que agora era o fim da minha faculdade e o teatro da Bru que estava indo muito bem.

_ Bom dia família! -Bruna chegou toda alegre e embora com a cara de sono já estava vestido com o biquíni e um shorts jeans.-
_ Tia! Cê põe ne mim tamém?
_ Bruna, isso é hora de por biquíni? -Mari lhe perguntava.-
_ Tá sol mãe, um sol gostoso viu. Dormi demais. -dizia se sentando e se servindo.-
_ Dormiu mesmo, ficamos aqui conversamos, comemos, conversamos e comemos mais um pouco e você e o Luan dormindo.
_ Semana cansativa dona Mari, muito mesmo! -começou a comer.-

  Preciso falar que continuei sentando dando uma beliscada aqui e ali? Acho que não, né... Depois fomos arrumar a casa, fiquei pela cozinha mesmo. Tirei a mesa, sacodi a toalha e depois de varrer o chão fui lavar a louça. Estava toda concentrada lavando os talheres, quando senti mãos em minha cintura e me assustei, causando um pequeno acidente.

_ Aí! -tinha cortado o dedo com a faca.- Luan!
_ Puta mano. Desculpa, só queria te dar um sustinho e não te machucar. -falou pegando minha mão e pondo debaixo da torneira e deixou que saísse todo o sangue.-
_ Tá, pega esse pano pra mim. -me referia ao pano de prato e assim que ele me entregou eu fechei a torneira e fiquei segurando.-
_ Tá doendo? -assenti.- Ôh mãe corre aqui! -chamou da cozinha mesmo.-
_ O que foi? Meu deus, porque tem sangue na sua blusa Luan?
_ Fernanda cortou o dedo, tem bandaid aí?
_ Tem, mas tem que lavar com soro. Vou buscar esperem aqui. -novamente saiu.-
_ Pois é, agora você vai terminar a louça bonitão.
_ Ah Bruna lá sem fazer nada.
_ Eu te ajudo secando, é só lavar e depois você ir guardando porque eu não sei onde é.

  Eu era uma pessoa manhosa demais e por isso fiz a maior cena quando passei o remédio no corte e quase chorei, Luan gravou e postou no Snap, eu quis matar ele. Depois ele terminou de lavar a louça e eu sequei e fui perguntando onde guardava tudo.
  Seguimos para o quintal, Bruna já estava na piscina e Melissa foi junto com ela depois de por seu biquíni também. Mari e Amarildo tinham ido andar pelo espaço e eu me sentei na espreguiçadeira.

_ Cadê seu biquíni Nanda? -Luan perguntou.-
_ Deixa de ser curioso, vai.
_ Queria saber uai, tá de pijama até agora.
_ Tá na minha bolsa senhor curioso. Depois eu coloco, ainda tô com frio.
_ Ôh tadinha dela. -falou sentando atrás de mim e me abraçando, enquanto encostava.- Tá bom aí?
_ Ótimo. -ri me aconchegando. Fechei os olhos e fiquei ali quietinha.-
_ Ih Mê, ficamos de vela.
_ Que isso tia?
_ Cala a boca Bruna, tem o que falar não. -Luan disse rindo.-
_ Tão parecendo casal mesmo.

   Dei risada e continuamos ali, mas o sol tava esquentando mesmo e eu subi foi colocar um biquíni. Desci e só estavam as meninas brincando, criei coragem e pulei na água.

_ Que gelo, meninas!
_ Vamos brincar, vai.

  Bruna estava me contando que Melissa estava fazendo aulas de natação, deixei ela boiando e depois mergulhamos juntinhas.
  Estava sendo diferente de outras vezes que viajamos juntos, e não foram muitas. O dia foi bem mais leve, almoçamos e depois fomos dar uma volta pra eu conhecer mais o lugar. Luan foi meu guia e a gente conversou... "Sem beijos, sem piadas, sem safadeza. Apenas conversa." ... Até desabafei com ele, contei como eu ainda me sentia e como estava levando. E ele ate me disse algo que com certeza me faria pensar muito: "Sabe Fernanda, eu mudei muito em dois anos, aprendi a ver as coisas de uma outra forma. Enxerguei você de uma outra forma. Mas não adiantou muito já que você estava namorando. Só que agora é diferente, você está solteira, e nem por isso vou atacar. E sim deixar que as coisas aconteçam naturalmente."
  Isso foi em relação ao sentimentos, mas também fez questão de mencionar sobre amizade: "Te tenho como uma amiga e você pode contar comigo como amigo, desabafar e conversar também. Me sinto bem quando você está perto, e me sinto incompleto cada vez que se afasta de mim."

  E depois disso me deu um puta de um abraço e eu por pouco não chorei. Continuamos andamos até ver a cachoeira que ali tinha. Mergulhei e ele me acompanhou e foi bem divertido, escutar ele xingando muito porque a água estava muito gelada. Logo que saímos me sentei em uma pedra e esperei a água escorrer um pouco já que não tínhamos levado toalha nem nada. Só a roupa do corpo.

_ Ainda tô gelado cara! -ria.-
_ Uma delícia essa água, bem geladinha! Adoro! -falei deitando.- Isso que é céu!
_ Sem muitas nuvens...
_ Bem azul...
_ Com esse sol maravilhoso! -suspirei.- Não acho certo isso!
_ O que ? -perguntei rindo.-
_ Você suspirando desse jeito, com esse biquíni minúsculo e...
_ Se joga na cachoeira de novo e apaga esse seu fogo! -o empurrei.-
_ Judia de mim não, Nandinha! -falou deitando a cabeça na minha barriga.-
_ Não tô judiando, é que você é um assanhado. -rimos.-
_ Sou nada não.

  Ficamos em silencio durante um tempo ainda olhando a paisagem e curtindo o momento. Os pássaros sobre as árvores, o barulho da cachoeira. Só não ficamos por mais tempo porque o sol estava indo embora, estava esfriando e já iria escurecer.

_ Acho que já podemos ir embora.
_ É mesmo né. -falou abrindo os olhos.-
_ Nem queria, tá tão bom aqui. -falei fazendo bico.-
_ Vontade de morder essa sua boca quando você faz esse bico. -falou segurando meu rosto e eu ri.- Não faz assim.
_ Por que não morde? -provoquei.- Brincadeira, vamos logo que eu não tô afim de ficar no meio do mato.
_ Contato com a natureza é tudo de bom.
_ Não muito contato. Meio do mato tem bichos, pode ter cobras... -ele começou a rir descontroladamente e depois que eu fui me tocar.- Como você pensa besteira, Luan! Idiota! -falei calçando meus chinelos e indo na frente, mas meu nivel de desastre é tanto que eu escorreguei em uma outra pedra e quase caí.-

"Tenho sérios problemas com quedas. Ainda bem que sempre tenho por perto um homem forte que nunca me deixa chegar ao chão."

  Luan me segurou pela cintura, mantive meu olhar fixo no dele e rolou aquele puta clima (dos que vemos em novelas/filmes). No susto minhas mãos seguraram seus ombros largos, seu rosto mais perto... Meu coração mais acelerado, aquele frio na barriga e um arrepio bom por todo o meu corpo... Estávamos quase nos beijando, quando eu lembrei que comecei assim com o Murilo e quem se fodeu foi eu. Então virei o rosto e cortei o clima e ficamos nos olhando ainda. Apenas agradeci.

_ Anda com cuidado viu. -brincou bagunçando meus cabelos e foi indo na frente.-

Narrado por Luan
  Fui sincero com a Nanda durante o nosso passeio até a cachoeira que se escondia por trás da trilha que tinha na chácara. Ela ficou sem reação, eu percebi isso, mas também não me repreendeu... O que me deu esperanças de certa forma.
  Eu queria tentar, mas não por dizer que amando. Estarei tentando e se o amor surgir ainda melhor. Eu gosto dela de verdade e só pude notar o quanto quando nos afastamos depois do que houve. Que viajei muitos dias sem ter ums notícia ou quando nos falávamos eram respostas evasivas. Só que hoje foi diferente, diferente bom e torço para que continue assim.

   Chegamos em casa e encontramos Melissa brincando com o Puff sentada ni tapete da sala, enquanto meu pai via Tv e minha mãe estava com a Bruna na cozinha.

_ Nossa Pi, demoraram hein... Deu pra conhecer o espaço? -perguntou e eu revirei os olhos.-
_ Fiquei encantada com a cachoeira, Bru. Muito mesmo, tão encantada que não resisti e acabei entrando.
_ Não acredito que perdi isso!
_ E seu irmão entrou junto comigo, e reclamou mais que eu.
_ Não foi assim não, vai... -tentei reverter a situação, mas não deu e juntou as três pra rir de mim.-
_ Fizeram o que aqui hein?
_ Bolinho de chuva, bolo de cenoura com cobertura de chocolate e eu mais minha sobrinha linda lambemos a vasilha. -riu.-
_ O papo está maravilhoso, mas eu preciso de um banho.
_ Eu também. -falei logo na sequência e minha mãe me olhou rindo.- Eita, tamém não é assim gente... -risos.-
_ Aí que vergonha! -ela subiu e eu continuei na cozinha.-
_ Cêis duas viu.
_ Fala a verdade vai Pi, tá ficando com a Fernanda?
_ Não. Ela é minha amiga.
_ Amiga? Não sei como ter amizade depois de tudo que vocês já fizeram juntos... -"Bruna linguaruda."- ... Já ficaram em baladas, já ficaram lá em casa, já ficaram lá no Rio, e quando fomos pro Guarujá também e teve a vez que vocês... -ela me olhou e olhou pra cara da minha mãe.- ... Ih, falei demais né?
_ Luan Rafael Domingos Santana! -eu já estava de olhos fechados sabendo que uma baita bronca viria por aí.- Tudo o que sua irmã disse é verdade ? -fui abrindo os olhos devagar e vi Bruna saindo de fininho.- Mais uma pra você?
_ É mamusca, mas...
_ Sempre fui a favor de que você fosse feliz, mas sempre te pedi pra nunca foi brincar com os sentimentos dos outros.
_ Mas mãe, deixa eu explicar...
_ Shiiu, eu tô falando. -me encarou.- Agora eu sei também que a Fernanda não é a santa que eu imaginava, mas nem por isso você deva tratá-la como uma qualquer.
_ E não vou... Agora é diferente, eu gosto dela.
_ Gosta mesmo?
_ Gosto mamusca.
_ Minha futura nora?
_ Quem sabe. -falei dando um beijo no rosto dela.- Vou tomar banho viu mamusca.

  Fiz o que tinha dito, tomei um banho e quando saí Melissa corria pelo quarto em círculos e ria sozinha.

_ Cuidado, para de correr no quarto Melissa.
_ Não! -continuou correndo e eu peguei minha roupa indo me trocar no banheiro, eu não gostava de me trocar na frente da Melissa que mesmo sendo uma criança, era uma menina.- Papai! Quero faze xixi!
_ Mas cê tá de fralda, faz na fralda Melissa.
_ Eu fiz.
_ Espera então que eu já te troco. -falei e ela continuou batendo até que abri a porta e ela entrou.- O que foi hein?
_ Qui cê tá fazeno aqui?
_ Trocando de roupa.
_ E eu não podi ver?
_ Não. -ri e peguei-a no colo voltando pro quarto.- Vamos tomar banho?
_ De novo não!
_ Já tomou? -ela assentiu.- Deixa eu ver cê tá cheirosa mesmo. -ri e me inclinwi cheirando seu pescoço onde ela mais tinha cócegas e não resisti em enchê-la de cócegas. Era gostoso escutar aquela gargalhada, ver seus dentinhos e suas bochechas ficarem rosadinhas.-
_ Para papai, para!
_ Só se você falar que me ama muito!
_ Amo muitão você papai! -falou ofegante e eu parei enchendo-a de beijos.-

  Descemos para jantar e na segunda de manhã meu pai, Bruna e Fernanda estavam de malas prontas para voltar pra São Paulo... "Tá eu não queria que ela fosse, mas cara, vou fazer o que?" ... Acabei não me despedindo por estar dormindo, mas depois que acordei fui aproveitar o dia inteirinho com as minhas duas gatas. Na piscina, andando de Jetsky e brincando de bola.

   Os dias na chácara foram bons pra relaxar, mas na sexta estávamos voltamos pra Sampa. Eu tinha um programa na Record e depois teria mais dois dias em casa e voltaria com a agenda.

_ E eu papai?
_ Cê quer ir? Mas tem que ficar quietinha e obedecer a tia Arleyde.

  Melissa queria ir e eu não achei que tivesse problemas, afinal, ela era uma só e nós estaríamos em mais de cinco.
Chegamos pra gravar o Programa da Sabrina e o portão do estacionamento estava realmente cheio cara. Só que eu não tinha tempo de atender, então entrei e fui me trocar, aquecer a voz, colocar microfone e tudo certo pra entrar no palco.

_ Gente eu não acredito que você trouxe ela aqui. Posso mostrar, Luan? -estávamos já gravando e de longe ela viu Melissa do lado do Testa, entre as pernas dele.-
_ Pode, vem cá gatinha. -ela veio correndo e eu me agachei para recebê-la.-
_ Gente que coisa mais linda. Como você chama? -pôs o microfone na boca dela.-
_ Melissa. -pôs as duas mãozinhas no rosto.-
_ E ele é o seu papai?
_ É, só da Mel. -"Minha filha matava qualquer um de fofura cara."-
_ E você tá gostando do programa? -ela assentiu.- Então senta aqui com a tia oh. -levou para um sofá que ali tinha e deu na mão dela uma boneca que eu não faço ideia de onde ela achou.-

  Seguimos com o programa e foi bom demais, na verdade sempre era. A Sabrina além de uma grande apresentadora, era uma ótima pessoa e tudo saiu melhor do que a encomenda. Saímos dos estúdios da Record por volta de 18h da tarde e passamos num restaurante antes de seguirmos pra casa.

_ Ué, mas já? -minha mãe perguntou ao me ver entrar com Melissa no colo, pois ela já dormia.- Isso é hora dela dormir, Luan?
_ Eu não vou acordar. -respondi rindo.-
_ Filha de peixe, peixinho é... -riu.-
_ Por que tá falando isso dona Cristina?
_ Porque ela quando é acordada fica enjoada, já você xinga palavrão...
_ Isso quando não é a senhora ou o pai.
_ Vai por ela na cama?
_ Preciso levar ela pra casa.
_ Sem nem se despedir?
_ Ainda não consigo fazer isso.
_ Ôh meu filho, não fica assim...
_ Ela é tão pequena.
_ Mas vai ter que se acostumar com isso. E eu pensei que ela ia embora depois de amanhã ainda.
_ Eu tenho que ir no VIP e sabe que quando vou pra lá fico horas e horas.
_ Sendo assim, deixa ela aqui no sofá e vai buscar as coisas dela lá cima.

  Assim fiz e fui deixá-la em casa. E dei graças à Deus por saber que Ester não estava lá e falei só com a dona Jane. De lá fui direto pro Studio e passamos horas e mais horas ali, jogando, conversando, compondo.

~.~
 Estão sentindo esse clima surgir?