Capítulo 154

Narrado por Fernanda

  A vontade que eu tinha era que aquele dia nunca chegasse ao fim, mas era pedir muito não é mesmo? Fomos dormir e no dia seguinte acordei cedo, cedo mesmo, olhei no relógio e eram 5h58min. Motivo? Minha bexiga parecendo que estouraria de tão cheia, só que pelo horário eu não tive vontade de voltar a dormir, nem estava com fome e me lembrei que tinha trabalho então desci e fui direto pro escritório, liguei o computador e ao abrir meu email fiquei foi louca pelo tanto de mensagens que tinham, muitas mesmo, algumas repetidas... E todas falando do mesmo assunto que era a minha gravidez.

"Gente sou mais uma grávida entre milhares que descobrem isso todos os dias. Engravidei do jeito tradicional, não tem nada de espetacular, de diferente. Eu hein!"

 Não respondi nenhuma sequer, preferi filtrar o que era interessante (importante, na verdade) e o restante deletei foi tudo.

Fiz um coque nos cabelos e prendi com uma caneta, coloquei meus óculos e mãos na massa.

                                  (...)

_ Bom dia, mamãe. -tirei os olhos da papelada e vi Melissa com a maior cara de sono em pé na porta.-

_ Bom dia meu anjo. Vem cá dar um beijo na mamãe. -ela veio devagar, ainda estava sonolenta.- Cadê o papai?

_ Dormindo. -olhei e pelo visto ele havia desligado o despertador, porque já tinha até mesmo passado do horário de entrada da Melissa na escola.-

_ Não quer dormir?

_ Não consigo sozinha. -coçou os olhos.-

_ A mamãe te ajuda. -levei-a até o sofá do próprio escritório e me deitei com ela, deixando-a no canto e com a cabeça em meu peito. Eu não arriscaria cantar nada, mas mexendo em seus cabelos macios e lisinhos, Melissa não demorou a pegar no sono. E como eu não podia pegar peso, deixei ela de um jeito confortável e subi pro andar de cima para pegar um cobertor e meu celular que eu tinha deixado embaixo do travesseiro. Luan dormia igual pedra, bem que disse que estava cansado. Só não imaginei que fosse tanto, me lembro da última vez que ele dormiu desse jeito... "Quando dei uma canseira nele na cama, com uma maratona daquelas." Ri sozinho dos meus próprios pensamentos e voltei ao que fazia, desci, cobri Melissa e voltei para a minha papelada.

                                   (...)

  As vezes eu esquecia da vida quando estava no meio de um monte de papel. Lembrei que tinha uma vida quando escutei meu estômago roncar, peguei o celular e vi que eram 9h12min da manhã. Estava no meu horário de comer mesmo, e agora estando grávida não poderia deixar passar. Calcei meus chinelos e saí de fininho pra não acordar Melissa, fui pra cozinha e quase matei a Martinha que ficou até pálida.

_ Sei que sou desajeitada quando acordo, mas não precisa morrer por isso não. -falei rindo.-

_ Tô acostumada com você vindo da sala, aliás, onde é que você estava mocinha?

_ Trabalhando no escritório, perdi o sono e aproveitei pra adiantar algumas coisas.

_ E conseguiu querida?

_ Boa parte sim, agora vim comer, meu estômago roncou sabe e não posso deixar meu baby com fome.

_ Está certa. Preparei sua salada de frutas com iogurte natural e granola.

_ Isso soa meio fitness, não acha?

_ Não pra uma grávida. -risos.- Mas, também não esqueci do seu pãozinho de queijo e o suco de laranja.

_ Por isso que eu te amo. -sorri para ela.-

_ Algo de especial pro almoço?

_ Na verdade, pensei em te dar uma folguinha depois do almoço. Porque minha sobrinha vai pra casa hoje pouco antes do almoço, e vamos pra lá almoçar e passar o dia. Então nem se preocupa com comida hoje.

_ Dispensando minha comida, é?

_ Jamais. Se você para de cozinhar eu morro é de fome. -me sentei à mesa ainda sozinha e comi que uma beleza, levantei da cadeira sentindo minha barriga pesar de tão estufada que estava.- Acho que comi mais que a barriga, Luci.

_ Mas, menina... Não pode isso não.

_ Não resisti à todas aquelas delícias. Tem bolo de milho, e está ótimo.

_ Gulosa.

_ Sempre fui. -risos.- 

_ Não vai pra empresa hoje?

_ Preciso tomar banho, e ir, apenas assinar alguns papéis e voltar. Falando em papéis, esqueci meu celular lá dentro.

_ Esperando ligação?

_ Na verdade uma mensagem... -falei entrando no corredor e indo pro escritório outra vez, encontrando meu celular nas mãos de uma certa mocinha muito esperta.- Já acordou é boneca?

_ Uhuum... -nem piscava.-

_ Ótimo. Vamos lavar o rosto, escovar os dentes, tomar café e ir na empresa com a mamãe pode ser?

_ Pode.

  Melissa ainda era um bebê, a minha bebê. Então quando estávamos juntas eu fazia questão de dar banho, pentear os cabelos, ajudar na escolha da roupa... Me fazia bem ter esse contato, esse momento de mãe e filha.

  Fomos para o quarto, ela tirou o pijama e seguimos para o banheiro, onde foi feita a maior festa. Depois juntas escolhemos sua roupa e fomos pentear os cabelos, depois que estava pronta descemos e pedi pra Luci ficar de olho nela pra mim enquanto eu subia para me arrumar.

  Tentei acordar Luan e dizer que iria sair, mas nada dele acordar, deixei um bilhete em cima do criado mudo e desci.

_ Mas, que folga hein!

_ É foto mamãe.

_ Posso postar?

_ Eu quero um tamém, um de foto.

_ Um instagram? Acho melhor não meu anjo, você ainda é um bebê. Posta no da mamãe.

_ Tá... -Lucila devolveu meu celular, entrei na galeria e muitas fotos da dondoca. Lindas demais.-

@fermarques: Amanhecer e receber esse sorriso é o que muda todo o meu dia. #mamãeama #mamãecuida #mamãrstylist #minhagatinha ❤

_ Podemos ir agora, Mê?

_ Pode, vamo que hoje eu vou trabalha com você.

_ Tem que trabalhar direitinho hein. -falei rindo.- Luci, nós estamos indo. 

_ Vão com Deus.

_ Amém. Faz um favorzinho?

_ Diga.

_ Acordar o Luan 12h, porque senão ele hiberna.

_ Pode deixar querida.

 Passamos pro lado de fora da casa, coloquei ela no banco de trás sem a cadeirinha, mas deixando bem preso o cinto de segurança e depois dei a volta me sentando no meu lugar, e seguimos pra empresa.

_ Mamãe, o que vai ser lá? Vo fazer o que?

_ Pintar desenhos! -comemorei e ela me olhou cruzando os braços.- O que foi amor?

_ Pinta não é trabalho, é coisa de criancinha mamãe. E eu já sou uma mocinha, mocinha grande.

_ Tudo bem minha mocinha grande.

_ E aí?

_ Não sei, quando chegarmos lá eu pergunto pra Isa. Pode ser?

_ Pode.

  Chegamos no horário de sempre, entrei cumprimentando à todos e de longe avistei os fofoqueiros que sorriam pra mim para que quando eu desse as costas ficassem de fofocas. Cheguei no meu andar e me encontrei com a Isa, nos cumprimentamos e "apresentei" as duas. Fomos até minha sala e conversei com a Isa, pedindo que ela imprimir algumas folhas com cores diferentes e escrevesse algumas coisinhas bobas, e desse pra Melissa.

_ Não quer vir comigo, Mê?

_ Aonde?

_ Pegar seu trabalho.

_ Eu vou.

_ Sem bagunça, né?

_ É.

   As duas saíram da minha sala e foi o tempo de ligar o PC, tirar os papéis da pasta e os deixar em cima da mesa. Uns dez minutos depois Melissa me deu um susto aí abrir a porta com tudo e bater depois de entrar. Ela se sentou no sofá toda empolgada com um monte de lápis coloridos, cola e tesoura. Perguntei o que era, e ela disse que tinha que cortar os brancos e colar nos azuis e rosas e entregar pra tia Isa.
 
                                (...)

   Trabalhar sentada por muito tempo cansava muito minhas pernas, levantei pra ir tomar uma água e Melissa tinha ido atrás da Isa, deixei os contratos em cima da mesa e saí. Fui ao banheiro já que estava apertada e depois fui até a lanchonete e comprei um lanche para nós três e suco também. Voltei e Isadora disse que Melissa já tinha voltado pra sala, deixei o que era dela em cima de sua mesa e continuei o trajeto até minha sala.

_ Trouxe pra você amor... -falei pondo as coisas em cima da mesa e estrangeiros não ver os conrratos ali.-
_ Não quero mamãe. Tem um monte de coisa pra eu fazer.
_ Tô vendo... -comecei a procurar os papéis e nada de encontrar, até liguei pra Isa e quando estava finalizando a ligação vi Melissa terminar de recortar uma folha cheia de escritos. O meu coração acelerou, fui até ela e tive a certeza. Melissa havia recortado todo o contrato e a cópia, na hora eu fiquei muito brava, muito. Queria gritar, mas não queria assustá-la.- Filha, quem deixou você pegar esses papéis? Não eram seus, isso era coisa séria Melissa.
_ Desculpa mamãe, eu pensei que podia.
_ Pensou errado. -levantei e respirei fundo, contei até perder as contas e chorei de nervoso.-
_ Mamãe, desculpa. Não chora! Eu queria trabalhar só.
_ Tá tudo bem. -menti.-

  Me sentei na cadeira e joguei a cabeça pra trás de olhos fechados imaginando como seria para fechar um novo contrato com aquele homem que quando queria era pior que o cão. Não sei quanto tempo fiquei daquele jeito, pensando.

_ Nanda...
_ Hmm...
_ O sr. Senna entrou em contato e pediu uma reunião de urgência hoje.
_ Ótimo tudo o que eu precisava. -bufei.-
_ O que houve?
_ Melissa cortou o contrato inteiro, picotou tudo. E agora temos uma cópia que não vai valer de muita coisa.
_ Como que...
_ Pra quando é a droga da reunião?
_ Vinte minutos!

                               (...)

   Passados os vinte minutos eu imprimi outro contrato, com as mesmas propostas, mesmas cláusulas... Idêntico ao anterior.
 Fui para a sala de reuniões junto com a Isa e Melissa insistiu para ir junto, mesmo contrariada deixei. Lhe entrei o tablet e deixei que ela brincasse. No horário exato, o sr. Hélio Senna entrou acompanhado do advogado e um secretário, que eu conhecia também.

_ Espero que não tenha se importado da reunião de última hora.
_ Não, eu até precisaria marcar uma com o senhor. Por favor... -indiquei que ele se sentasse.-
_ Algo errado com o contrato?
_ Sim e não. O contrato por um erro meu está inutilizável e inválido, fiquei apenas com uma cópia e mandei que fosse impresso um outro com as mesmas cláusulas, objeções, propostas. -entrei aos três uma cópia.- Peço desculpas pelo ocorrido, e espero que entenda.
_ Seria muito perguntar o que houve com o contrato anterior?
_ Foi confundido com outros papéis, e acabou servindo de recorte.
_ Recorte? -riu irônico.- Esta empresa já teve mais seriedade. -se levantou, olhei pra Isa que também me olhava sem entender.- Não que eu duvide de sua formação, mas o tempo de mercado conta, experiência... E sinceramente, está deixando a desejar.
_ Olha eu não admito que o senhor até a minha empresa para me ofender, o senhor está aqui como um cliente e se há algo para se queixar que seja referente ao contrato.
_ Errado. Se sou cliente e estou pagando exijo o melhor, porque é o meu dinheiro que está sendo investido. -engoli seco, sentindo meus olhos arderem.- Como pode esconder que um contrato foi perdido, levaria todo projeto se assegurando em uma cópia?
_ Aconteceu hoje, na verdade vinte minutos antes de virmos para esta sala. -ele voltou a rir com ironia, e seus olhos foram diretamente na Melissa que brincava distraída.-
_ Sua filha? -assenti.- Entendo. Suponho também que tenha sido ela quem fez um contrato de revista para recortes...
_ O erro foi meu, eu admito.
_ E de quem mais seria? -alterou sua voz.- Uma jovem que mal sabe cuidar de si, resolver assumir uma empresa de grande porte. Me admira muito seu pai, um homem de negocios e de experiências no ramo, deixar uma empresa multimilionária nas mãos de uma amadora, incompetente. -gelei na hora, não esperava por isso. Por palavras tão duras.- Que não teve a responsabilidade de manter um contrato valioso longe de uma criança de uns quatro  ou cinco anos. -passei a mão na barriga sentindo um incômodo, estava com um nó na garganta.- E pelo que parece ainda teve tempo de arrumar mais um. -eu queria rebater, mas as palavras não saíam.- Sinto dizer, desculpa a sinceridade. Mas, se você não consegue cuidar de uma imagina o desastre que será essa gravidez, tenho pena do seu filho que vai crescer e conhecer uma mãe irresponsável, e saber que ela foi o motivo da queda de um império que é a Company Disclosure Music.

  Eu não conseguia reagir, toda minha "valentia", minhas forças não serviram pra nada. Um nó na garganta, as lágrimas molhando o meu resto e aquele velho nojento asqueroso apontando o dedo no meu rosto, me senti um lixo.

_ Quem você pensa que é pra falar assim com ela? -escutei a voz que eu conhecia tão bem, mas não o via. Fechei os olhos ao sentir uma tontura.- Por favor, saíam daqui.
_ Luan... -o chamei ofegante.- Me ajuda...
_ Papai a mamãe tá machucada! -o coração acelerado, sentia meu corpo todo mole e aos poucos escutava as vozes cada vez mais longe. Apaguei.



Narrado por Luan
  Acordei na quinta e estava um silêncio que eu até estranhei. Ao olhar o quarto depois de realmente abrir os olhos notei que não estava na minha casa, que a Nanda não estava na cama e quando olhei as horas vi que perdi a horário de levar a Melissa na escola.
  Sentei-me na cama, encostando na cabeceira e vi que perto do celular tinha um papel escrito, coisa da Nanda. Quer dizer, que eu fazia com ela.

"Bom dia, Branquelo gostoso! Como você hibernou e perdeu a hora de levar ela pra escola, fomos trabalhar juntas, 'um dia no trabalho da mamãe'. Sua mãe mandou mensagem dizendo que a Bruna volta pra casa hoje com a Laurinha, e vai ter um almoço em família. Então nos vemos lá, pode ser? Um beijão, te amamos tá?"

  Achei lindo, na verdade tudo o que vinha dela era lindo. Deixei o bilhete de lado e fui tomar meu banho pra despertar e mandar a preguiça embora, eu estava todo dolorido, ave maria não danço nunca mais na vida.
 Não demorei muito, ao sair fui me vestir e depois de arrumar os cabelos, peguei o celular e dei uma olhada nas redes sociais e desci depois de dar "Bom dia." pros meus fãs. E desci.

_ Bom dia gatinha. -peguei Lucila distraída, dando-lhe um beijo no pescoço.-
_ Aí que susto, menino.
_ Susta não Lucinha... -ri.- Como passou a noite?
_ Muito bem, obrigada. O café ainda está na mesa.
_ Que delícia, bora me acompanhar? Não gosto de comer sozinho não. -ela acabou indo comigo, Martinha se juntou à nós e então comemos dando risada. Depois de subir e escovar os dentes voltei pra sala e fiquei um tempo vendo jornal esportivo, até tirei uma selfie.

@luansantana: Tô pronto pra encontrar minhas princesas. ❤

   Até respondi uns FCs dizendo que era surpresa. Assim que acabou, peguei as chaves, carteira e celular. Despedi-me das "minhas meninas" e peguei o carro indo pra empresa. Demorei um pouco e quando cheguei estranhei não ver Isadora na recepção, continuei andando e na sala da Nanda não tinha ninguém, escutei vozes alteradas vindo da sala de reuniões, abri a porta e fiquei com muita raiva vendo aquele velho nojento apontando o dedo na cara dela e vendo suas lágrimas caírem, meu sorriso se desfez e meu semblante mudou completamente.

_ Quem você pensa que é pra falar assim com ela? -falei atraindo a atenção de todos.-
_ Luan... -chamou com a voz faa.- Me ajuda...
_ Papai a mamãe tá machucada! -Melissa gritou e eu corri até ela que havia desmaiado. Peguei Fernanda em meus braços e com as coordenadas da Isadora cheguei no ambulatório da empresa onde ela foi atendida e eu tive que esperar do lado de fora.-
_ Eu quero aquele homem fora daqui e ele vai pagar, vai engolir cada palavra. O que ele tem na cabeça?
_ Calma Luan...
_ Isso não vai ficar assim Isadora. Não mesmo. -peguei meu celular e liguei pra Arleyde, conversamos rapidamente e ela me instruiu, aconselhou que eu não fizesse nada. Disse pra cuidar da Nanda e quando ela estivesse melhor resolveriamos o problema.

                             (...)

   Graças à Deus foi só um susto e meia hora depois estava tudo bem e estávamos indo pra minha casa, mas ela estava quieta. Melissa não estava muito diferente. Chegamos e Melissa saiu na frente correndo para ver a priminha.

_ Não quer descer?
_ Quero ir pra casa.
_ Amor... Entra um pouquinho, a gente come e se você não melhorar eu te levo pra casa.
_ Eu vou melhorar, mas... -suspirou.-
_ Não acredita em nada do que aquele homem te disse.
_ E se ele tiver razão?
_ Ele não tem amor, só disse mentiras para atingir você.
_ E conseguiu, que ódio! -limpava suas lágrimas que insistiam em cair.- Isso não vai ficar assim, ele vai pagar muito caro por cada palavra que disse.
_ Ele vai, mas esquece disso agora. O médico pediu que você mantivesse a calma, pelo bebê.
_ Eu sei. -alisou a barriga.-
_ Vamos entrar?
_ Vou entrar e ir direto no banheiro. -não reclamei, desliguei o carro e ela desceu. Desci junto e entramos.















~.~

  Capítulo tenso hein! Mas, o sufoco passou! Como será que continua?

PS: Eduarda muito obrigada pela ideia da treta e por ter me aturado o dia todinho te mandando mensagem. Mas, o capítulo saiu! Beijão, continue assim sempre participativa!

  *Amores, na segunda eu respondo os comentários desse capítulo e do anterior. Beijos.