Narrado por Fernanda
(...)
_ Puta que pariu, meu deus do céu. Melissa! Melissa fala comigo, filha. -ajoelhei no chão e fiquei dando tapas no rosto dela.- Melissa!?
_ Mãe, por que a sen... Ai meu deus! PAI, VEM AQUI! Ô TIO! -Maria Luísa era escandalosa demais, mas serviu pra aparecer até mais gente. Luan chegou correndo, Roberval atrás e meu pai veio junto.- Melissa desmaiou.
_ Como desmaiou?
_ Desmaiando, Luan! Põe ela no sofá.
_ Vó a Melissa desmaiou, vem aqui ver. -minha sogra logo apareceu.
_ Melissa... -chamei baixo, abrindo seus olhos com os dedos.- Melissa!?
_ Pega alguma coisa forte pra ela cheirar, Nanda. -Bruna falou.
_ Perfume. -falei olhando para a escada.
_ Ela está acordando. -Malu disse olhando de cima do sofá.
_ Melissa...
_ Calma, tem muita gente em cima. Afasta um pouco, aqui. -Lila pedia, nem vi quando ela tinha chego.
_ Mãe, eu não tô bem... -disse passando a língua em seus lábios que estavam pálidos.- Tô com muita tontura.
_ Quer uma água?
_ Não, eu vou... mãe... -e desmaiou outra vez, meu coração foi na boca. Dalila me levantou do sofá, Luan pegou Melissa no colo e foi em direção a porta que dava acesso a nossa garagem e com a ajuda do Roberval colocou nossa filha dentro do carro.
_ Eu vou junto, me solta.
_ Amiga, você não tá bem.
_ É minha filha, eu vou sim.
_ Então vamos. -falou vindo atrás de mim.
_ Malu, sobe no quarto da mãe e pega a minha carteira.
_ Eu vou com ela e pego as coisas da Melissa também.
Foi o tempo dela subir e eu entrar no carro que a Mê acordou de novo, estava ofegante e chorando muito, assustada. Isso nunca aconteceu antes, não era algo normal. Assim que a Lila voltou nós fomos para o hospital em que éramos conveniados e fomos conversando com ela até chegar lá.
Assim que entramos, foi feita uma ficha na recepção, Melissa foi encaminhada para o atendimento de urgência por conta do desmaio e mais ainda pela queda. Entrei com ela na sala e aguardei todo o procedimento de primeiros socorros ser feito. Aparentemente ela estava bem, segundo o médico que estava no plantão.
_ Olha pra frente, tá? Não para a luz. -ela assentiu.- Passou a tontura?
_ Não muito.
_ Você ainda está bem pálida, sua pressão um tanto baixa... você tem se alimentado direito?
_ Tem Melissa?
_ Não. -disse tranquila, pensativa.- Não tive fome por esses dias.
_ Não teve fome de comida, não é? Porque pra comer porcarias... -ela revirou os olhos.
_ Vou pedir um hemograma completo e te deixar uma horinha no soro pra melhorar esse rostinho. -ainda brincou.
_ Então não é nada sério?
_ Nada de anormal, você é irmã dela?
_ Não, sou a mãe.
_ Mãe? Nova desse jeito?
_ Pois é.
_ Quando foi a última vez que você menstruou, Melissa? -ela demorou pra responder e ainda foi uma resposta incerta, meio duvidosa.- E esse mês?
_ Ainda não.
_ Mas está atrasada? -cruzei os braços.
_ Ela nunca foi regular, só não veio ainda.
_ OK. -um enfermeiro entrou na sala, preparou toda a medicação e deixou Melissa na poltrona com o braço apoiado, tomando soro. Sai e os três me olhando preocupados.
_ Ela está bem. -a expressão de cada um suavizou e meu marido respirou fundo, menos tenso. Expliquei como havia sido, falei que ele pediu um exame de sangue e que a deixaria no soro por conta da palidez e da pressão que estava baixa.- Agora é esperar só.
_ Levei o maior susto, Melissa nunca foi disso. -Rober passou a mão na testa, tirando o boné da cabeça.
_ Pra tudo tem a primeira vez, não é? -sorri sem jeito, Luan me olhou, mas não disse nada.
_ Comigo isso já aconteceu algumas vezes, principalmente quando engravidei dos meninos... era eu ficar sem comer que a pressão caia, nossa um saco.
_ Mas a Melissa não tá grávida. -Luan disse sério.
_ Calma, boi.
_ Demora muito pra esse exame sair? -Luan perguntou todo impaciente.
_ Uma hora e meia.
_ Porra. -resmungou.
_ Amor, fica calmo.
_ Como?
_ Ficando, ela está bem... -beijei seu rosto e ele me abraçou com carinho. Acabamos nos distraindo, conversando sobre outra coisa e os minutos passaram rapidamente. O doutor entrou na sala já com o resultado e assinou a "alta" da Mê, ele também estava com o resultado do exame e foi bem preciso.- O senhor pode repetir?
_ Posso, claro. Como eu suspeitava, você está na sexta semana de gestação. Precisa se alimentar bem mocinha ou nos veremos aqui mais vezes, e eu não quero isso.
_ Sexta semana? Está me dizendo que minha filha está grávida?
_ Grávida, doutor? -a própria Melissa perguntou assustada.
_ Ainda está no comecinho, nenhuma mudança física, mas hormonais pode ter certeza que já estão acontecendo. -sorria.
_ Meu pai vai me matar. -Melissa jogou a cabeça pra trás, derramando algumas lágrimas.
_ Quantos anos, Melissa?
_ 19.
_ Nova, mas não pense que é a primeira e tampouco será a última. Tem namorado?
_ Sim.
_ Uma vida sexual ativa?
_ O que o senhor acha? -perguntei irônica, mas ele era tão zen que não se importou. Fez algumas recomendações e nos dispensou. Saindo da sala ela queria passar direto, mas eu não deixei.
_ Tão querendo falar alguma coisa? -Rober perguntou, olhei cúmplice para a Lila e ela entendeu.
_ Vamos lá, estou esperando.
_ Tá bom... Pai, padrinho e tia Lila, eu tô grávida.
_ VOCÊ O QUE? -os dois perguntaram juntos.
_ Bonito, muito bonito. Parabéns, Melissa. Tudo o que você queria, tudo o que você procurou... um filho. -bateu palmas cheio de ironia, vermelho de nervoso.
_ Luan, aqui não é lugar. -falei.
_ Tudo bem, em casa a gente conversa. Podemos ir embora?
_ Sim. -e assim voltamos para casa em um clima super chato. Entramos no condomínio, Luan estacionou o carro e nós descemos.
Melissa entrou na frente e atraiu os olhares dos meus pais, meus sogros, a Isa e alguns outros. Quando perguntaram se estava tudo bem Luan passou por nós e foi direto para o quarto, não teve quem não olhasse para a escada e segundos depois escutasse o barulho alto da porta se fechando.
_ Tá tudo bem com ele? -Marizete perguntou se aproximando.
_ Ele vai ficar bem.
_ Ninguém vai falar nada? Eu quero saber o que está acontecendo com a minha neta.
_ Hugo. -minha mãe o repreendeu.
_ Ah, Analice. Não gosto de rodeios não, toda essa demora é porque aconteceu alguma coisa.
_ Aconteceu sim, você será bisavô.
_ Ai meu deus do céu. -Bruna tapou a boca.- Melissa, filha...
_ Não, não pode ser... minha neta mais velha... não, Fernanda.
_ Grávida, Melissa está grávida? -meu sogro repetia várias e várias vezes.
_ Luan vai ser avô? -Dudu não escondeu a surpresa e levou um tapão da Soraya que o mandou calar a boca.
_ Eu vou ser tia! Arthur, a Melissa vai ter um filho. -Malu disse eufórica, indo abraçar a irmã e sem entender Helena fez o mesmo. Arthur veio de fininho e não ficou de fora do abraço, não falei mais nada, entrei no corredor e fui para a cozinha.
_ Ô amiga, não fica assim... calada.
_ Dalila, eu tô a ponto de explodir.
_ Sem necessidade. É uma gravidez, não é uma doença.
_ Não é uma doença mesmo, é responsabilidade. Tudo o que nenhum dos dois tem... Eu não queria isso pra ela.
_ Eu sei que não amiga, mas foi algo que ela mesma procurou.
_ Como ela foi deixar que isso acontecesse assim?
_ Quer mesmo que eu diga? -ainda brincou.
_ Não, obrigada. -falei dando as costas e pegando um copo para tomar algo bem gelado.- Ela é uma criança...
_ Epa... não. A Melissa já é uma adulta, adulta de 19 anos e que sabia muito bem o que estava fazendo.
_ Você entendeu o que eu quis dizer.
_ Ai Nanda, acontece ué.
_ Acontece porque não foi na sua casa, com a sua filha.
_ Mas é como se fosse, ela é minha sobrinha mais velha.
_ Eu sei, mas isso não muda muita coisa. -abri a geladeira e peguei uma garrafa com água bem gelada, e enchi meu copo, virando tudo de uma vez.
_ Ela é nova, eu sei. Não terminou a faculdade, sei disso também. Mas não vai adiantar vocês crucificarem a garota por um descuido. Ela pode amadurecer ou melhor, eles irão amadurecer.
_ Como você tem tanta certeza? Porque ele está se formando em engenharia civil, não vai se prender a um filho... eu não me prenderia.
_ Mas ele ama sua filha.
_ Dalila, as vezes você é otimista demais.
_ Você que depois que casou com o Luan é extremista em tudo, af Fernanda. Eu não vou falar mais nada, chega hein.
_ Então não fala. -dei as costas outra vez e escutei os passos dela saindo do cômodo, coloquei o copo na pia e fiquei encostada no mármore.
Narrado por Luan
Não esperei que uma ida no hospital me traria essa bomba, eu seria avô. Não estávamos falando de uma doença, e sim de uma grande responsabilidade... uma responsabilidade que eu como pai, sei que a Melissa não estava preparada.
Sai dali calado, cheguei em casa e não quis assunto com ninguém, subi para o quarto e fechei a porta. Não fiz nada, sentei na cama e fixei em qualquer coisa ali em cima da cômoda, mas minha cabeça estava longe... flashes e mais flashes de cada conversa que tive com a Fernanda, cada comentário relacionado a isso que fiz a Melissa e agora de nada adiantou, de nada valeu e agora ela está grávida. Grávida aos 19 anos de idade.
Eu como pai estava decepcionado, Melissa sempre foi a filha que mais me surpreendeu na adolescência e nem sempre foram com coisas boas, mas agora uma gravidez? Isso pra mim foi o fim. Se ela queria me chatear, pode apostar que conseguiu.
_ Papai? -escutei Helena bater na porta.- Papai!
_ Papai está no banheiro, Nena. Daqui a pouco ele desce... tá bom?
_ Tá bom, vovó. -não ouvi mais a conversa das duas, deitei de costas na cama e encarei o teto.- Filho? -novamente escutei batidas.- Luan? -não respondi, e também não precisou. Ela entrou e se sentou ao meu lado, passou a mão nos meus braços e eu sorri com o seu toque.- Não é fácil querido, eu sei disso. Mas também não é motivo pra você se fechar no seu mundo e não falar com ninguém.
_ Mãe, agora não tá? Eu sei que a senhora quer o melhor pra mim e para a minha família, mas nós sabemos que tem sido difícil nesses últimos anos.
_ Não fala assim...
_ A senhora sabe que não é mentira. Sempre que eu penso que as coisas vão se estabilizar vem uma onda enorme e leva tudo por água abaixo. Foi assim com esse namoro sem pé nem cabeça dela com aquele criminoso, foi assim quando a Melissa ficou dias em coma por causa de um acidente e agora está sendo assim por causa de uma gestação. Estou falando de uma criança, mãe. Uma criança que é pra vida toda, que dependerá dela como mãe pro resto da vida.
_ Eu sei meu filho, mas ela pode ser uma mãe responsável. A Melissa não é essa desmiolada que você tanto descreve, eu conheço minha neta.
_ Mãe responsável, sei bem. -me calei outra vez e minha mãe deve ter entendido que eu precisava desse tempo a sós, tanto que falou pra eu ficar bem e saiu do quarto fechando outra vez a porta. Mãe responsável, como a Ester foi anos atrás. Fechei os olhos e fiquei quieto, mas não dormi. Alguns minutos depois a porta abriu outra vez e pelo perfume eu sabia que era a Nanda, ela deitou do meu lado.
_ Eu sei que você não está dormindo. -alisou minha barba, beijou meu rosto e encostou a cabeça no meu peito.- Também fui pega de surpresa... -ela parecia escolher as palavras certas.- ... não pense que eu não estou chateada ou que eu esteja achando bonito... Nós dois sabemos que nessa idade... -escutei cada uma de suas palavras em silêncio, ouvi seu desabafo de mãe, seu ponto de vista como mulher e seu olhar de esposa.- ... ela vai precisar de nós, não podemos virar as costas. -meu silêncio permaneceu.- Eu preciso de você, não quero nem menos sei ser forte sozinha. -ela chorou e eu não tive outra reação a não ser abraçá-la e deixar que chorasse mais ainda.- Eu sei que está tão chateado quanto eu, sei também que tem um jeito de demonstrar isso... mas por favor, por mim, não seja indiferente, não finja que não temos uma filha. Por favor. -ela não parava de chorar e eu continuei calado, abraçando-a apertado e deixando minhas mãos alisar suas costas.- Fala comigo, amor.
_ Eu tô aqui.
_ Promete pra mim?
_ Confia em mim, eu só preciso de um tempo pra digerir melhor os acontecimentos. -falei sincero e ela assentiu. Esperei que seu choro cessar e ela se recompor, Fernanda levantou e foi até o banheiro e ao sair de lá estava com os cabelos presos e o rosto sem maquiagem, descalça e indo pra o closet.
_ Não vai descer?
_ Vai ficar chato se eu não for?
_ Sim, os seus amigos também estão aí...
_ Não quero ninguém me parabenizando por eu ser avô e eu ainda ter que sorrir, ter que agradecer as felicitações a mim desejadas.
_ O pessoal já está até jantando, minha mãe pediu para que se servissem... não estamos no meio de estranhos, vão saber lidar com isso.
_ Ele tá lá embaixo?
_ Estavam conversando na hora que eu subi.
_ Não quero nem olhar pra cara dele hoje.
_ Amor...
_ Não me vem com essa de amor, Fernanda. Por mim ele já estava longe daqui faz tempo, se antes eu não gostava desse namoro agora eu faço menos gosto ainda.
_ Ele é o pai do seu neto.
_ Ele é um filho da puta que ao invés de ter mais juízo que minha filha foi e fez um filho nela.
_ Tudo bem, já entendi. -se deu por vencida.- Você não almoçou, precisa comer.
_ Perdi a fome.
_ Colabora comigo.
_ Não me trata igual criança, eu tenho 43 anos de idade, Fernanda. Não sou nenhum moleque.
_ Entendi. -deu as costas e saiu do quarto deixando a porta encostada. Levantei da cama passando as mãos pelo cabelo, respirei fundo e criei coragem para calçar os chinelos e sair da toca.
O corredor vazio, desci as escadas e ninguém na sala, mas a luz da cozinha estava acesa. Não fui até lá. Passei pela porta de vidro e tudo corria bem, as crianças corriam junto com os cachorros, a música rolava e os maiores comiam, os adultos também. Avistei minha mulher sentada com as amigas (Soraya, Bruna, Isadora e a Lila) com a Nena e o Guilherme, passei pela mesa do buffet e fui até o freezer onde peguei um latão de cerveja e fui sentar com o Rober, Dudu e os outros que estavam em uma roda só de homens.
_ Tá mais calmo?
_ Não. -abri a lata e dei uma golada daquelas pra ficar legal.- Nem vou ficar tão cedo.
_ Estamos aqui parceiro. -Dudu deu um tapa no meu ombro.- Não vou falar que sei o que é passar por isso, mas penso na Manu e sei que é foda.
_ Porra cara, demais. Ela fez a maior burrice da vida dela.
_ Acontece cara, somos humanos... errar faz parte.
_ Errar faz parte, mas foi burrice.
_ Bora é mudar de assunto, beber e aproveitar a resenha meus amigos. -meu cunhado falou e eu concordei com ele. Falamos de outras coisas e depois de um tempo eu estava até dando risada, me distraindo mesmo que por pouco tempo.
A bagunça rolou até tarde e eu evitei ao máximo falar com quem eu sabia que iria me parabenizar, meio que fugi das pessoas o tempo inteiro. Meus pais e minha esposa perceberam, mas eu não estava nem aí. Deu minha hora de subir, tomei um banho e cai na cama, mas não peguei nem num cochilo.
_ Luan? -Fernanda resmungava sonolenta.
_ Desculpa, não tô conseguindo dormir. -virei de barriga pra cima e fiquei olhando para o escuro.
_ Consegue ficar quietinho? Você tá se mexendo muito, tô cansada. -beijou meu rosto.
_ Vou descer um pouco, tenta dormir.
_ Você vai ficar bem?
_ Uhum. -disse tirando a coberta e saindo do quarto descalço mesmo. Entrei na cozinha, abri a geladeira pegando a jarra de água e encostei na bancada para tomar um pouco. Acabei sentando no banco, fiquei no celular uns quinze minutos.
_ Luan?
_ Cê não ia dormir?
_ Você não dorme, eu não durmo. -bocejou e eu sorri, ela estava linda. De pijama de gatinha, que ela e as meninas tinham e pantufas.- Quer comer alguma coisa?
_ Não, tô tranquilo.
_ Nem uma pipoquinha pra gente assistir um filme?
_ Quero não minha linda.
_ Você só encheu o rabo de cerveja, não vai comer nada mesmo? -cruzou os braços, me olhando brava. Me dei por vencido e comi com ela me supervisionando, tomei um pouco de suco e fomos para a sala.- Você viu a montagem que as meninas fizeram?
_ Qual?
_ Uma que está a Mê, a Malu e a Nena com o tutu de bailarina. Achei tão linda, até curti.
_ Você curte tudo amor (selinho). Tudo o que elas postam você já está lá curtindo.
_ Elas arrasam nas montagens, eu gosto.
_ Eu sei, minhas neguinhas são demais.
_ Quando você volta pra estrada? -conversamos sobre a minha folga até que ela dormiu e me deixou falando, subi para o quarto com ela no colo e a deitei na cama. Fui ao banheiro, escovei os dentes, tirei a camisa e deitei ao lado dela e me forcei a dormir.
Na manhã seguinte acordei mais cedo do que o costume, acordei em tempo de tomar café da manhã com todos ainda sentados à mesa. Depois o pessoal foi se despedindo, meus sogros, cunhado e meus filhos mais novos foram para a casa em que o vô da Nanda morava com a dona Olga e a Betinha.
_ Pai.
_ Hm...
_ Eu queria conversar com o senhor.
_ Sobre?
_ Sobre o que está acontecendo, o senhor não fala comigo desde ontem...
_ Não tenho o que falar... ou tenho?
_ Pai, eu tô grávida. Não estava nos meus planos, mas aconteceu. -abaixou a cabeça.
_ Se aconteceu foi porque você foi irresponsável, aliás, você e ele. A diferença é que ele não vai parar a vida por causa de um filho. -levantei do sofá e sai da sala indo para o escritório da Nanda.
_ Tá tudo bem? -perguntou ao me ver entrar no cômodo e sentar na poltrona.
_ Comigo sim e você? -ainda brinquei.
_ Bem melhor depois de algumas horas de sono e com saudades dos meus pequenos.
_ Domingão eles estão de volta. -ela tirou os óculos, fechou o Notebook e ficou me olhando.- O que?
_ Temos um almoço aqui em casa hoje.
_ Marcou com alguma amiga sua?
_ Com a mãe do Leo.
_ Ah.
_ Luan... você sabe que precisamos conversar, né?
_ Conversar o que? Dessa casa ela só sai casada e ela não vai casar nova desse jeito. -disse em alto e bom tom.
_ Se vão casar ou não, cabe a ela decidir.
_ Uma burrada atrás da outra.
_ Também não é assim.
_ É assim sim, e acabou. -sai dali também e fui sentar na borda da piscina onde o Thor também estava, dormindo no sol.- É amigão, tá tudo errado nessa casa.
Não sei dizer ao certo quanto tempo fiquei ali, pensando e repensando. Voltei para dentro de casa e subi para tomar um banho, após vesti uma bermuda bege e camisa polo azul marinho e continuei de chinelos. Penteei meu cabelo, deixando-o bem alinhado. Usei o perfume que mais gostava, coloquei meu relógio no pulso e desci.
_ Tá cheiroso, hein. -me puxou pela gola da blusa, apoiei minhas mãos na cintura dela.
_ Desculpa, não deveria ter falado daquele jeito com você.
_ Desculpo sim, vida. -nos beijamos.- Se comporta, tô subindo pra tomar um banho.
_ Tá bom, vai lá. -ela subiu e eu saí pra dar uma volta com o Thor pelo condomínio. Quando voltei os pais do Leonardo e ele estavam na sala conversando alguma coisa engraçada já que riam, os cumprimentei sem fazer careta e nem parecer tão antissocial.- Tudo bem Ceci?
_ Sim. -cobriu o rosto.- Tio... cadê a Nena?
_ Foi passear com a vovó dela, só volta pra cada daqui uns dias.
_ Ah tá... pode brinca com o cachorro?
_ Pode sim minha linda, corre lá. -não precisei falar uma segunda vez e lá estava ela correndo pelo corredor e nosso cachorro latindo.
_ Senta amor, quer tomar alguma coisa?
_ Não, vou esperar o almoço. -beijei seu rosto e me sentei ao seu lado.- Do que estavam falando?
_ Cecília queria buscar a Helena sozinha.
_ Crianças. -falei sorrindo.
Nosso almoço foi o mais descontraído possível, muito agradável. Não pareceu que eu estava tenso, nem mesmo com a Melissa parecendo me estudar o tempo inteiro. Fiquei na minha. Pegamos a sobremesa e fomos comer lá fora nas poltronas perto da área com piscina.
_ Não tivemos tempo de conversar antes, não é? -Matheus falou sentando-se ao lado da esposa.
_ Não como uma família. -Fernanda comentou sorrindo.
_ É. -concordei.- Um namoro recente, não?
_ Que eu sempre fiz muito gosto, desde quando estudavam juntos. -Stephanie dizia empolgada, sorrindo e Melissa também.
_ De ter netos cedo também? -ganhei um olhar de repreensão da minha mulher, mas não me deixei intimidar.
_ Eu sei no que está pensando, nós passamos por isso também e nossa nora tinha bem menos que 19 anos. -me arrumei no assento e prestei a atenção no que diziam.- Temos uma netinha já, a Ana Luísa.
_ Eu soube há pouco tempo, seu filho foi pai bem novo.
_ E põe novo nisso, não soube aproveitar o namoro.
_ Não foi o único. -fuzilei o loiro que estava de mãos dadas com a minha filha.- O que vocês tinham na cabeça?
_ Ai pai, que assunto hein... -revirou os olhos.
_ Chato? Eu quero é saber como vai ser daqui pra frente.
_ Eu conversei com os meus pais... -Leonardo disse.- ... lógico que não estão soltando fogos, eu também estou surpreso e mesmo sendo muito recente... eu tô feliz. Eu amo essa menina.
_ Amor não enche barriga e dinheiro dos pais não dura a vida toda.
_ Eu sei. Tenho consciência disso, por isso mesmo que estou finalizando a faculdade e montando meu próprio negócio.
_ Seu próprio negócio? -cruzei os braços.
_ Não vou depender dos meus pais pra sempre, não é... quero exercer minha profissão.
_ Tá, você se forma, monta seu negócio e aí?
_ Luan.
_ Eu sei que ela é sua filha mais velha, mas ela já está crescidinha não acha? -Stephanie comentou tranquila.
_ Acho, acho sim.
_ Os dois precisam pensar no que querem, se vão querer.
_ Daqui ela não sai pra morar junto de ninguém. -falei de imediato.
_ Pai!
_ Não precisa disso. -continuei firme na minha decisão.
_ Não vou abandonar a Melissa, não mesmo.
_ Você diz isso agora que barriga não cresceu.
_ Eu criei meu filho para ser um homem, assumir e cuidar do que faz, assim como o irmão dele que engravidou uma moça cedo... e teve o nosso apoio para reestruturar os planos, cuidar da nova família... crescer.
_ Eu entendo Matheus, só estamos inseguros. -segurou minha mão.- E um pouco na defensiva.
_ Eu quero que me dê esse voto de confiança, sogrão.
_ Voto de confiança?
_ Eu vou cuidar do nosso filho e dela...
_ Tudo bem. -foi minha palavra final antes da Fernanda se emocionar com aquela meia dúzia de palavras, quis revirar os olhos e não descruzei os braços, a não ser para me despedir dos pais dele e ir me deitar.
_ Não foi tão mal assim, ele me pareceu ser bem responsável.
_ Ele não me convenceu, Fernanda. Não me convenceu.
_ Deixa de ser ciumento, amor. A Melissa cresceu, vai se tornar mãe.
_ Nossa que grande acontecimento.
_ Você tem que parar com isso, ô mania viu.
_ Parece que eu sou o único sensato nessa casa. Melissa tá pensando que filho é igual quando ela brincava de boneca, tinha uma casinha e vivia feliz pra sempre. E você por mais chateada que esteja ainda procura um lado bom, procura ser compreensiva. "Ah isso é ciúmes" "amor ela é responsável" "temos que apoiar" "ela cresceu". Porra tô cansado!
_ Eu não sei porque você está gritando, Luan. Você tá nervoso?
_ Não. Não tô nervoso, não. Só não estou tratando o assunto de um jeito tão natural e "maduro" como vocês.
_ Pai, posso falar com você?
_ Não. -e sai de perto, não queria discussão. Peguei a chave do carro, meus documentos e o cachorro pra dar uma volta e depois de cabeça fria voltaria para casa. Eu não estava bem e estava explodindo por pouquíssimo, precisava desse tempo.
~.~
Como muitos palpites diziam, nossa Mê está grávidissima do Leonardo. É isso causou um alvoroço daqueles na casa, entre a família e amigos. Luan está putérrimo, Fernanda tentando segurar as pontas e no próximo capítulo veremos como a gestante está se sentindo em relação a tudo isso. Bora?
PS: Foi quase um mês de sumiço, mas por uma ótima causa. Pra quem não sabe eu estava cursando um técnico em RH e agora em Junho finalizamos o terceiro semestre e apresentamos o TCC. Então eu me dediquei a isso. Ainda tive uns dias em que fiquei sem internet nenhuma, estava só usando o whats e não dava pra postar. Enfim, estou dando uma satisfação porque acho justo com vocês e honesto comigo mesma, né? Um beijo, volto em breve. ❤
Eu achava q o luan ia surtar um pouco mais do jeito que ele é , mais foi muito vacilo da Melissa , estou ansiosa para o próximo.
ResponderExcluirEle sempre pareceu bem radical, mas só de ele ser indiferente com ela já fode com tudo, ela fica mal. Pior do que quando ele surta. Foi um puta de um vacilo, ela teve abertura pra muita conversa, recebeu conselhos e nada! Corre pro próximo mulher.
ExcluirSocorrooooo,eu ia lendo o capítulo e me lembrava de todas as vezes que o luan falava sobre a Melissa engravidar.Achei falta de responsabilidade? Achei,mas que saber...Acho que eles vão ser pais maravilhosos,já quero continuação
ResponderExcluirFalta de responsabilidade é pouco, o que o Luan está sentindo não tem nome rs
ExcluirEspero que ela amadureça, né non?
Hahahahahaha ê Luan vovô! Essa Melissa e esse Leonardo matam o Luan de raiva kkkkkkk
ResponderExcluirMatam menina, e o que deixa ele mais fodido é a Nanda tentar entender tudo. SCRR!
ExcluirLuan está certíssimo no seu comportamento e nas atitudes. Melissa a adolescência toda aprontando, dando dor de cabeça, fazendo coisas erradas... Isso porque tem a Fernanda que sempre passou a mão na cabeça dela, apoiando, achando tudo normal, liberal, coisa de adolescente... Agora está aí a irresponsabilidade dela. Luan tem todo direito e se você eu, tratava Melissa e falava com ela o necessário. Pra ela sentir o peso das irresponsabilidades dela. Melissa sempre foi inconsequente. Luan sempre sai como chato.
ResponderExcluirSem mais, falou tudo! 👏
Excluir