Narrado por Fernanda
Passado os dias do mês de agosto, nós já estávamos pensando nas festas de fim de ano. Eu no caso, meus filhos estavam todos envolvidos com as suas responsabilidades. Maria Luísa se dedicava aos estudos dos pré vestibulares, mesmo sabendo que ainda faltava um tempo para ingressar em uma universidade.
Arthur realmente se descobriu na Educação Física e diminuiu o ritmo de saídas aos finais de semana e as viagens marcadas de última hora. E Melissa estava cada vez mais empolgada com as coisas do casamento que seria dali dois anos.
Luan e eu estávamos orgulhosos e curtindo muito nossa caçula, a única criança da casa.
_ É domingo amor, dia de aproveitar com a família. Levanta, vai. -falei puxando o edredom que o cobria e jogando no chão. Dei a volta e segui em direção a janela e quando ia abrir a cortina senti alguém me abraçar pela cintura com força e tapar minha boca para que eu não gritasse.
_ Eu tô com sono, você vai me deixar dormir.
_ Ah não vou mesmo. Estamos te esperando para o café, quer dormir mesmo?
_ Tô cansado vida, chegamos tarde ontem.
_ Hoje né. Eu olhei a hora que você chegou. 04h18 da manhã e bêbado, cheirando whisky.
_ Não exagera, não era tão tarde. Não bebemos tanto também não, voltei dirigindo se quer saber.
_ Safado.
_ Só tinham homens lá, estávamos em amigos.
_ Vou sair assim com as minhas amigas também. Você não perde por esperar. -cruzei os braços e ele deu risada, deitando por cima de mim e passando a língua na minha boca até eu abrir e dar um beijo nele.- Sai, vai.
_ Eu te amo, bom dia.
_ Bom dia. Vai logo.
_ Preciso vestir uma cueca pelo menos, passar uma água no rosto.
_ Eu espero. Vai lá. -dei um tapão na bunda dele e corri para o closet. Escutei a porta do banheiro bater e voltei para o quarto, dei uma ajeitada rápida e foi o tempo de ele abrir a porta.
_ Bora muié. -falou me pegando pelas pernas e jogando por cima do ombro, saiu do quarto, desceu as escadas e entramos na sala de jantar.- Bom dia, bom dia, bom dia.
_ Acordou bem hein pai. -Arthur falou rindo.
_ Fui acordado você quer dizer. -riu.- E você princesa, dormiu bem?
_ Sim, papai. Dormi com o Thor, na minha cama.
_ Cachorro fedorento. -disse rindo, brincando.- Cadê ele?
_ Lá fora. -falei.
_ Mãe, vamos fazer alguma coisa hoje? -Maria Luísa perguntou assim que nós nos sentamos e começamos a comer.
_ Ficar em casa, todos nós.
_ Por que? -Arthur também se manifestou.
_ Porque é domingo, domingo é dia de passar em família.
_ Okay, Henrique pode vir?
_ Pode sim.
_ A Julia também vem. Falei com ela ontem.
_ Leonardo também vem Melissa?
_ Não. Foi viajar com o irmão dele, a cunhada e a sobrinha.
_ Viajar? E você não foi?
_ Eles vão ficar oito dias lá, não posso. Tenho a faculdade, a empresa e estou vendo as coisas da nossa casa também.
_ E ele lá se divertindo. -Luan comentou sem dar risada, estava enciumado.
_ Eles já tinham marcado, pai. Falei pra ele que não tinha problema. Já adiantamos muita coisa, pintamos tudo, nossas salas e cozinha estão prontas. Faltam os móveis dos quartos e ver como ficarão nosso quintal e área da churrasqueira.
_ Toda besta com essa história de casar. -Malu falou rindo.- Não vê a hora, né Mê?
_ Estou bem ansiosa, muito.
_ Só queria entender porque tão longe daqui. Não quer morar perto da sua família.
_ Não é isso pai. Temos carro, fica a meia hora daqui.
_ Sem trânsito. -rebateu.- Não gostei disso não, com tanta casa aqui no condomínio.
_ Amor, eles quem tinham que escolher. Nós também não moramos perto dos seus pais.
_ Não interessa, eles não são nós. -falou decidido.
_ De onde eu venho, isso chama ciúmes. -Arthur disse rindo, Luan jogou farelos de pão nele.
_ Ciúmes não, é cuidado.
_ Sei. -falei.- Vai querer ajuda filha?
_ De opinião na verdade. -começamos a falar sobre a decoração que ela havia pensado para o jardim, depois seguimos para a churrasqueira e até meu marido ciumento interagiu conosco. Terminamos a refeição, Arthur e Maria Luísa retiraram a mesa. Melissa lavou a louça e Helena correu para o sofá e já se sentou pegando o controle da TV.
_ Nada disso. Já guardou seus brinquedos?
_ Mas mamãe, eu vou brincar de novo no outro dia.
_ Mesmo assim, vamos lá. Depois você assiste.
_ Deixa que eu vou com ela. -Luan se ofereceu.- Bora que o papai te ajuda. -ela subiu nas costas dele e subiram.
_ Oi neném da mãe, cê tá aí é bebê? Vem cá meu amorzinho, vem aqui no colinho neném.
_ Mãe ele não é neném mais.
_ É meu bebezinho sim, coisa linda, peluda da mãe. -beijei seu focinho.- E como foi ontem?
_ Eu amei. Ele pediu pra mãe dele preparar o jantar, só que quando eu cheguei na casa dele os pais dele tinham saído. Ficamos até umas 23h30 sozinhos. Mas conversamos bastante também, não foi só namorar, mãe. Assistimos um filme, trocamos carinho.
_ Acho tão saudável o namoro de vocês, acho lindo.
_ Eu também estou gostando do meu primeiro namorado.
_ Blá blá blá blá blá. -Arthur chegou se deitando no sofá e jogando a almofada nela.- Muito doce vocês dois.
_ Pelo menos não chamo ele de bebê e nem de mô. Isso é muito doce, credo.
_ Inveja que a gente tem um apelido carinhoso.
_ Nada ver, seu besta.
_ A senhora tinha apelido carinhoso mãe?
_ Pichuletinha. -falei rindo e eles franzindo a testa sem entender nada.- Seu pai é bem criativo.
_ Tô vendo que sim.
_ Pronto mamãe, posso assistir desenho agora?
_ Não, vamos no mercado com a mamãe.
_ Vamos! Vem papai, vamos de carro!
Luan e eu fomos no mercado comprar as coisas para o almoço. Ele queria fazer churrasco, então passamos primeiro no mercado e compramos as saladas, algumas bebidas e frutas. Saímos de lá e fomos no açougue, Luan quem escolheu as carnes e aí passamos nos meus sogros. Fiquei dentro do carro, Luan desceu pra buscar não sei o que e a pequena foi falar com a vovó.
_ Demoraram hein. -falei quando os dois entraram.- Sua mãe tá aí?
_ Estava terminando de arrumar a cozinha, disse que vai pra lá mais cedo pra te ajudar com as coisas.
_ Ô Luan não precisava incomodar sua mãe.
_ Ela gosta vida, ela gosta. -disse colocando o cinto e dando partida.- Meu pai vai dar uma passada lá mais tarde, tinha marcado com uns amigos das antigas pra ir em um pesqueiro.
_ Sério?
_ Sim. Vai minha mãe e o Puff.
_ Sua irmã foi viajar mesmo?
_ Foi, tá no Paraná com o Rafael.
_ Ah tá. Não estamos levando nada pra sobremesa, né?
_ Quer comprar sorvete?
Ele sugeriu e nós fomos.
Chegamos em casa e estavam todos a vontade, Julia me cumprimentou e continuou dançando com a Melissa no Xbox. Encontrei com Arthur e Henrique saindo da cozinha e eles foram ajudar Luan tirar as coisas de dentro do carro.
_ Churrasco, pai?
_ Sim. Uma delícia. -respondeu lavando as bebidas para o freezer.- Quer ajuda amor?
_ Lava a mão e vai cortando o tomate do vinagrete. -pedi lhe dando um beijo no rosto e indo lavar o arroz.
Não era sempre que eu cozinhava, mas quando fazia seguia tudo certinho, me concentrava. O almoço estava saindo como previsto. Fiz o arroz, cortei as saladas e deixei nas travessas, fiz o vinagrete e Luan foi cuidar da churrasqueira.
Helena quis arrumar a mesa que tínhamos do lado de fora, Arthur foi ajudá-la.
_ Oi Fernanda, tudo bom? -Marizete chegou trazendo duas travessas com doces, deixou em cima da mesa e veio me dar um beijo. Nos abraçamos, ela guardou os dois na geladeira e foi ver os meninos lá fora. Fui no quarto guardar minha bolsa e quando voltei a cozinha escutei a porta do banheiro bater com força e Maria Luísa me olhar assuntar, perguntei o que era e ela disse que nada. Não demorou e a Julia saiu do banheiro e as duas voltaram para a sala cochichando.
_ Amor, vamos lá pra fora. Minha mãe tá lá com a Nena e os brinquedos.
_ Tô indo, vou tomar água que tô morta de calor.
_ Tira a roupa. -brincou me abraçando pela cintura e me juntando ainda mais a ele, nos olhamos e nos beijamos.- Hmmm... andou comendo doce, né?
_ Experimentando, amor. Seu beijo tem gosto de cerveja.
_ Minha mãe vai fazer caipirinha pra gente.
_ Amanhã eu trabalho viu.
_ Eu não.
Depois de beber água e prender os cabelos, fui lá pra fora me juntar aos mais velhos. Luan cuidava da carne, Mari deixou Helena brincando com o Thor e foi preparar a caipirinha e eu? Fiquei descascando limões enquanto íamos batendo papo.
Era gostoso se reunir assim, em casa, com a família e sem a preocupação com mais nada.
Nosso almoço ficou pronto cedo, chamei a todos e nos sentamos à mesa, nos servimos e comemos fartamente.
Narrado por Melissa
(...)
_ Melissa, por favor filha pega meu carregador no quarto?
_ Sério, mãe? Tá longe.
_ Rapidinho, preciso mostrar uma coisa pra sua vó e está acabando a bateria. -deixei minha taça vazia em cima da mesa e entrei, Malu estava deitada com o Henrique no sofá e Helena com o Thor no tapete. Subi as escadas e escutei meu irmão e a Julia discutirei e fiquei olhando pela brecha na porta.
_ Você não pode estar falando sério, minha mãe vai me matar. -passava as mãos no cabelo andando de um lado para o outro do quarto.- Precisamos ter calma né?
_ Desculpa, eu sei que não deveria ter acontecido. Mas é isso Arthur, eu acho que estou grávida.
_ Quando você descobriu?
_ Ainda não fiz o exame de sangue, eu só passei mal duas vezes essa semana e minha menstruação atrasou também.
_ Você contou pra alguém?
_ Não, eu tô com medo. -começou chorar e meu irmão a abraçou forte. Achei lindo e quase chorei também.
_ Eu vou ficar de seu lado bebê, fica tranquila.
_ Melissa! Achou o carregador? -escutei minha mãe gritar da escada e sai do transe. Entrei no quarto dela, peguei o carregador e desci.- Que cara de assustada é essa?
_ Nada mãe, toma. -entreguei o carregador e voltei para o quintal.
_ E o Leonardo, Melissa?
_ Viajou vó.
_ E como estão os preparativos para o casamento?
_ Estamos bem adiantados vó, o que falta mesmo é a lista. Mas temos uma média de 250 convidados.
_ Salão de festas ou chácara?
_ Salão de festas, vó. Queremos nos casar no inverno, ali pelo mês de agosto. E é muito frio para irmos para chácara ainda mais no sul.
_ Isso é verdade, um salão já é mais fechado e reservado.
_ Sim, não quero mídia por perto. Por isso estamos fazendo aos poucos para não dar bandeira. Certo que uma coisinha ou outra acaba vazando, mas queremos o mínimo possível.
_ É sua festa não é querida, eu dou total apoio.
Ficamos um tempão conversando, meu avô chegou e mudamos de assunto. Mas nada me tirava da cabeça a conversa que escutei do meu irmão com a namorada, fiquei pensativa demais. Mas não posso sair contando pra ninguém, não sei se é mesmo uma gravidez.
Depois que meus avós foram embora, meus pais subiram com a minha irmã e nós cinco ficamos na sala de cinema, haviam escolhido um filme de suspense.
_ Não quero assistir esse filme. -fui a primeira a me manifestar depois de assistir as primeiras mortes e quase morrer de susto.- Por que não assistimos os filmes que a Nena gosta?
_ Porque ela tem seis anos, você quase trinta. -Henrique respondeu rindo.
_ Tá todo íntimo né? Vou chamar meu pai pra você, engraçadinho. -assistimos mais alguns minutos do filme e eu que não estava gostando me ofereci para fazer pipoca. Meu celular tocou e era meu loirão, estava chegando no hotel e aproveitou para me contar como havia sido seu domingo.- Meus avós estiveram aqui, perguntaram por você. Minha vó está toda feliz com o casamento.
_ Minha mãe, a Jessica... estão mais ansiosas que eu. Isso que não falamos muita coisa.
_ Meu pai não se conforma que vamos morar em um condomínio diferente, mais longe. Minha mãe não curtiu, mas não se opôs assim na cara dura.
_ Depois elas acostumam. -riu.- Tô com saudades loira.
_ Eu também. Tem muitas gatinhas aí? Está se comportando Leonardo?
_ Tô até com a marca da aliança no dedo se você quer saber. -riu.- E minha cunhada não deixa mulher nenhuma chegar perto. Duas vezes ela me chamou de amor e me abraçou dando a entender que éramos um casal.
_ Sempre gostei da Jessy, agora sei porquê.
_ Ela é foda.
_ E seu irmão, tá bem?
_ Tá de boa, dormindo. Todos eles, eu tô na piscina. Sem sono.
_ Eu vim fazer pipoca, estamos assistindo filme, mas eu não gostei muito da escolha... -ficamos conversando um pouco, desliguei quando a Ju passou correndo para o banheiro.- Julia, você está bem? -ela ia responder que sim, mas voltou a vomitar e eu ajudei segurando seu cabelo.- Respira. -ela limpou a boca e sentou no chão.- Espera aqui, vou pegar água pra você.
_ Tá bom, obrigada. -voltei na cozinha, peguei um copo d'água e fui até ela.- Aí que vergonha.
_ Não precisa disso, somos cunhadas. Quer conversar?
_ Eu acho que eu tô grávida. Acho não né, eu estou. Fiz três testes, dois deles deram positivos.
_ Tem ideia de quanto tempo?
_ Não.
_ E o que vocês pretendem fazer?
_ Amanhã irei fazer o teste, seu irmão vai comigo e... e depois teremos que contar aos nossos pais.
_ Eu estou do lado de vocês, tá? Contem sempre comigo. Tudo bem que vocês são novos, mas sempre quis ser tia. -falei sorrindo e ela também sorriu.- Vamos voltar pra lá?
_ Vamos sim. Mais uma vez obrigada Melissa.
_ Não precisa agradecer, fica tranquila.
Apaguei as luzes da cozinha e voltei com ela para a sala de cinema, o filme estava próximo de acabar e então iríamos escolher outro. E desta vez uma animação, eu mesma quem escolhi.
Estava ficando um pouco tarde, então Henrique e Julia foram para casa e nós fomos nos deitar.
Narrado por Fernanda
(...)
_ Beijos Isa, estou indo pra casa. Qualquer coisa me liga, tá?
_ Vai descansar mulher, curtir o marido em casa. Aproveita que está cedo. -nos despedimos, mandei um beijo para o Rober e as crianças e entrei no elevador.
Dei tchau para o porteiro, fui para o estacionamento e assim que entrei no carro recebi uma mensagem do Luan "Precisamos conversar." meu coração gelou na hora. Eu não fazia ideia do que era, mas com certeza era alguma coisa muito séria, já que ele não acrescentou nenhuma outra palavra.
Peguei um congestionamento daqueles e cheguei em casa quase duas horas depois de sair da empresa. Estacionei meu carro, entrei e a casa estava em silêncio, porém o clima pesado era mais que palpável. Luan estava em pé no meio da sala de estar, Maria Luísa estava chorando e Helena ao me ver correu para o meu colo.
_ Sobre o que precisamos conversar? -perguntei deixando a bolsa no sofá e pegando a pequena no colo.- Pode falar.
_ A Maria Luísa está grávida, grávida e você escondeu isso de mim.
_ Se nossa filha estivesse grávida e eu soubesse nunca iria esconder de você. Jamais, nunca faria isso Luan.
_ Tem certeza? Não é o que está parecendo não. Primeiro ela passa mal e vai parar no hospital, depois vocês duas saem para uma consulta e na volta ninguém fala nada. Depois eu encontro três testes de farmácia e dois deles com o resultado positivo no lixo do quarto dela, e você me diz que ela não está grávida. Fernanda eu não sou nenhum idiota, nenhum burro. Por que mentiu pra mim? Ela é minha filha também...
_ Grávida? Como assim grávida, Maria Luísa... a gente conversou filha, eu... aí meu Deus.
_ Aí meu Deus? Ela é uma irresponsável e aquele namorado dela se vier aqui eu vou falar também.
_ Pai, isso não é meu. Eu não fiz teste nenhum.
_ Estava no lixo do seu banheiro, como não é seu? Vai falar que é de quem agora?
_ Luan, eu fui com a Maria Luísa no médico. Ela não está grávida.
_ Alguém nessa casa está esperando um filho. -disse jogando os testes com as embalagens no sofá.
_ Meu Deus, filha...
_ Mãe não são meus, não são. Eu tomo remédio e de tanto a senhora falar eu uso preservativo, isso não é meu mãe. -ela chorava e Luan se mantinha sério e impaciente. Arthur chegou com a Julia e ficaram parados perto da porta.
_ Boa noite?
_ Só se for pra você, porque meu dia foi péssimo. -Luan disse dando as costas e subindo as escadas.
_ O que aconteceu aqui?
_ Seu pai achou um teste de gravidez dando resultado positivo no lixo do quarto da sua irmã. Mas ela não fez nenhum teste de farmácia.
_ Mãe, eu sei de quem são. -Arthur disse baixo e quando caiu a minha ficha eu respirei fundo e me mantive em silêncio.- A Julia está grávida.
_ Meu Deus! -Malu disse surpresa, Helena continuou não entendendo e eu? Não falei nada. Pedi pra Helena ir brincar com o Thor, peguei minha bolsa e subi as escadas. Entrei no quarto e meu marido continuava xingando, passei por ele e larguei a bolsa em cima da cama. Segui para o banheiro, tranquei a porta e fui direto para o chuveiro de roupa e tudo. Encostei a cabeça na parede do box e fiquei respirando fundo. Ignorando as batidas insistentes na porta pedindo pra que eu abrisse e falasse alguma coisa.
Sai do banho quando os meus dedos já estavam enrugados de tanto ficar na água, sequei bem os cabelos aproveitando que o secador estava lá dentro e depois de enxugar todo meu corpo e abri a porta e sai.
_ Está tudo bem?
_ Você sabe que não, mas não também não se importa não é. -falei indo para o closet trocar de roupa e ele veio atrás. Revirei os olhos, respirei fundo e continuei quieta.
_ Fernanda, Arthur veio aqui.
_ Ótimo, então ele já te contou a novidade. Parabéns vovô.
_ Amor as coisas não são assim...
_ E como são? Quer dizer que suas filhas quando engravidam são irresponsáveis, acabaram com a vida delas e mais um monte de merdas que você fala... agora o Arthur não, tudo o que ele faz é lindo, você passa a mão na cabeça. Porque é homem né? Então comemora, eu não tenho saco pra isso e tenho todo o direito.
_ Eu entendo que você esteja...
_ Não, você não entende. -o interrompi.
Me vesti ainda com ele me olhando, larguei a toalha por lá e sai indo dormir no quarto de hóspedes. No dia seguinte destranquei a porta e subi para o meu quarto. Tomei outro banho quente e demorado, ao sair coloquei uma roupa normal. Jeans, blusa de alcinha e chinelos.
Ainda era dia de semana, então levei Helena para a escola e quando cheguei em casa encontrei Luan, Melissa, Arthur e Julia sentados no sofá.
_ Reunião de família? -perguntei com sarcasmo e eles me olharam apreensivos.- Bom dia.
_ Mãe a gente precisa conversar com a senhora.
_ Conversar comigo? O que? -voltei a perguntar.
_ Eu e a Julia seremos pais. Pegamos o resultado do exame ontem e ela está de dois meses. -continuei em pé, sem falar nada.- Eu sei que não era a hora, que estamos novos e em outro momento das nossas vidas. Mas aconteceu.
_ Querem os parabéns?
_ Mãe! -Melissa me repreendeu pela ironia.
_ Fernanda senta aqui amor, vamos conversar numa boa. -Luan pediu calmo, mas ignorei.
_ Eu não quero, não estou com cabeça pra isso. Todo mundo tem o seu tempo, e esse ainda não é o meu. Me desculpem até por não estar soltando fogos, mas realmente não estou raciocinando direito. -falei indo para o quarto. Peguei meu celular e a primeira coisa que eu fiz foi ligar para o meu pai.- Oi pai, tudo bem?
_ Oi minha filha, estou bem... mas pela sua voz sei que não está nada bem. O que houve?
_ Estou chateada. Fui pega de surpresa, tô me sentindo mal até em dizer isso. Mas... Arthur vai ser pai, Julia está grávida de dois meses.
_ Eu vou ser bisavô? É isso?
_ É pai. -sorri pela alegria dele, mas ainda estava triste.- Bisavô.
_ Por que não está feliz? É uma criança.
_ Arthur é meu único filho homem, o que mais foi apegado a mim. E...
_ Filha, não seja ciumenta. Ele é um homem, está crescendo... ainda é cedo, mas ele está construindo uma família.
_ Eu sei, e mesmo assim fiquei chateada. Me dei esse direito pai. -ele riu do outro lado da linha e começou a conversar comigo e falar muitas outras coisas, desabafei com ele. Conversei com a minha mãe também que de início ficou assustada, mas em seguida disse estar feliz pelo primeiro bisneto. Luan entrou no quarto quando eu ainda estava com eles no telefone, fui para a sacada do nosso quarto e continuei a conversa. Desliguei e voltei para a cama.
_ Estou preocupado com você.
_ Não precisa, estou bem.
_ Não parece. -se aproximou sentando na ponta do colchão.
_ Estou bem, triste. Mas bem, ué. Não estou radiante como vocês, mas bem.
_ Eles estão lá embaixo, preocupados com você.
_ Eu quem estou preocupada. Julia e Arthur estão na faculdade, não trabalham e vão ser pais. Sim, eu quero ser avó. Mas assim como a Melissa anos atrás iria mudar completamente a vida por não ter sequer entrado na faculdade, Arthur está terminando o primeiro ano. E não é porque ele é homem que as responsabilidades serão diferentes. E aí, como vai ser? Não estou falando de dinheiro não, isso a gente tem, mas responsabilidade. Compromisso. Arthur começou a sair com os amigos, a viajar sozinho com os amigos... agora.-mencionei.- Julia grávida vai junto? -falei tudo o que estava entalado, tudo. Luan me escutou em cada palavra e concordou comigo em algumas coisas. Disse que iria descer, beijou minha testa e saiu do quarto.
Naquela terça-feira eu não fiz absolutamente nada do que tinha que fazer. Tirei o dia pra mim. Escutei minhas músicas, li meus livros e no final da tarde sai de carro e fui dar uma volta pela cidade pra espairecer. Lila me ligou e fomos parar em um barzinho.
_ Arthur me ligou, sabia? Disse que você não queria conversar com ele, nem com o Luan e que tinha saído de carro. -demos risada.- Precisava te ver né amiga, você surta as vezes.
_ Eu não surtei, eu só não reagi bem. -pedimos uma torre de chopp, uma porção de calabresa e eu lhe contei como tinha sido o recebimento da notícia.- Aí cheguei em casa e estava todo aquele clima, Luan falando sem parar na minha cabeça e só Deus sabe o que ele falou na cabeça da Maria Luísa... e num passe de mágica tudo muda porque quem está grávida é a namorada do filho dele?
_ O foda é esse.
_ Sim. Eu jamais vou abandonar meu filho, mas não consegui reagir bem a notícia que ele me deu. Praticamente jogou em cima de mim e meio que "mãe, é isso". Senti um aperto no peito, realmente fiquei decepcionada. Se fosse por falta de conversa, de orientação...
_ Adolescentes, jovens adultos. Nós fizemos merda nessa fase também.
_ Muitas, mas nenhuma era um filho. Filho é pra vida toda.
_ Você precisa se levantar né amiga, dar um UP e encarar essa situação de frente. Você nunca foi de fugir, sempre teve o hábito de conversar com os seus filhos e terem diálogos para resolver o que quer que fosse.
_ Eu sei. Fiz mal em... deixá-los sem resposta e simplesmente sair.
_ Tira essa semana pra você colocar os pensamentos em ordem e conversa com eles. Tenho certeza que agora mais do que nunca Arthur espera um aconselhamento seu. Ele precisa de apoio. -assenti.- E nada de ficar chateada, agora você vai ser avó! Vai ter um tiquinho de gente te chamando o tempo inteiro. -sorri e brindamos.- Sabe que eu fico me imaginando avó? Vejo os meninos e a Sofi com os meus pais e fico achando tão lindo.
_ E não deixa de ser lindo, eu sei o quanto um neto traz felicidade para uma casa. Meus pais babam até hoje nas crianças, meus sogros também.
_ Então amiga, não surta. Vai ser o máximo.
_ Estou preocupada na verdade, muito preocupada. Mas já está feito, não posso fazer mais nada.
_ Exato, e conta comigo viu? Podemos ir em barzinhos quando você pensar em surtar, uma baladinha mais nossa cara...
_ Hmm não seria ruim, eu adoraria. -comentei com ela e acabou que mudamos um pouco de assunto. O que foi bom. Me distrai e quando voltei pra casa já estava tarde o suficiente para que todos estivessem dormindo. Entrei e acendi as luzes da sala. Guardei minhas chaves, tirei as sapatilhas e fui até a cozinha. Tomei um pouco dágua, belisquei um doce que estava na geladeira e segui para o quarto. Luan estava no banho, e eu quis apenas trocar de roupa e descansar.
_ Pensei que fosse passar a noite fora. -falou ao sair do banheiro, me encarando enquanto secava os cabelos com a toalha.- Por que não me atendeu? Fiquei preocupado com você.
_ Eu precisava de um tempo, só isso. -respondi tranquila, soltando os cabelos e indo até o espelho para dar uma penteada antes de deitar.
_ Como estão as coisas por aqui?
_ Estranhas. Mal jantamos. Faltava você. -disse todo manso, se aproximando com cautela.- Tá mais calma?
_ Eu não estava nervosa.
_ Eu sei que não. -parou do meu lado e segurou meu braço antes de tirar o pente da minha mão e me virar de frente para ele.- Somos um casal, não precisa passar por isso sozinha.
_ Eu sei.
_ Eles estão tão felizes. Um pouco assustados, mas já fazem planos. E querem dividir isso conosco.
_ Não estou preparada para isso não Luan. Pra mim meu filho ainda é um menino. Ele vem crescendo aos poucos, indo por etapas. Aí vai e me apronta uma dessas. Não foi legal.
_ De onde eu venho, isso se chama ciúmes de mãe.
_ Também. Não queria que ele saísse de casa antes de terminar ao menos a primeira graduação e começar a exercer a profissão que escolheu, sabe? Que ele saísse atropelando todos os planos porque pensou com a cabeça de baixo. Quer que ela venha morar aqui? Porque eu no meu lugar de mãe não deixaria nenhuma das minhas filhas morar com a sogra, nunca.
_ Amor também não é assim.
_ É assim sim. Os dois são novos.
_ Mas são maduros, nosso filho é um adulto que nunca nos deu trabalho.
_ Eu sei que não, ele é um orgulho pra mim como mãe. Sei que ele vai ser o melhor pai do mundo para essa criança porque ele teve ótimos exemplos de pai na vida dele. Teve você que sempre foi presente, teve os avós... tem referências, amor.
_ Então por que você está assim? Tão chateada.
_ Porque não era isso que eu queria pra ele. Tanto que conversamos muito, mais de uma vez. -suspirei e desviei meu olhar do dele.- Mas já foi, tenho que superar isso.
_ No fundo você já superou amor. -Luan beijou meu rosto e me deu um abraço forte e bastante demorado. Lhe desejei "boa noite" e fui me deitar.
~.~
Babado, confusão e gritaria é com essa família sempre! E agora, como vai ser hein? o.O