Capítulo 196 - Parte III

Narrado por Fernanda

  Estava me sentindo muito carrasca por ter colocado a Letícia pra fora de casa, mas ela continuar aqui não iria me fazer sentir melhor e faria com que eu ficasse mais desconfiada a cada vez que saísse de casa e os deixasse sozinhos. Mas confesso que não tenho o que reclamar do trabalho dela, ela em três anos criou laços muito fortes com as crianças e eles estavam sentindo muito a falta dela.

  Arthur e Melissa entenderam que ela não trabalharia mais conosco, mas a Malu não e ficou até doente. Quase uma semana inteira com febre e toda manhosa, tinha dia que não queria comer... Neste ponto estava sendo complicado.

_ Maria, meu amor. Você tem que comer...

_ Por que a Lê não vem mais? Ela num gosta de mim? -deitou a cabeça em meu colo.- Fala pra ela qui eu não vou demorar pra levanta do beiço.

_ Meu anjo, ela precisou ir pra casa dela...

_ Tá. -pôs a chupeta na boca e não falou mais nada a manhã inteira. Perto do horário de almoço nós duas tomamos banho e fomos buscar os outros bebês da casa.-

_ Maria!

_ Não tô bem irmão. -falou toda séria, gesticulando e tudo. Não aguentei segurar a risada.- Qui cê tá rindo mamãe?

_ Nada pequena... Tudo bem filho? Dá um beijo na mãe.

_ Oi mamãe... Maria ainda tá de bico?

_ Como se ela tivesse tamanho pra isso. -risos.- Colocou o cinto? -perguntei olhando-o pelo espelho, ele assentiu.- Deixa eu ver. -vi se estava bem preso e voltei ao meu lugar.-

_ Maria...

_ Qui é irmão?

_ Dá um beijinho, dá...

_ Só um hein..  -segurou o rosto dele entre as mãos e deu um beijo onde sua boca alcançou.- Pronto.

_ Beijo gostoso, hein...

_ Muito. -risos.-

  Chegamos na escola da Melissa que era na mesma rua, porém mais pro final e esperamos que ela aparecesse o que demorou quase uma vida. Ela veio em passos de tartaruga, toda dura, parecendo que estava assada. Entrou no carro, falou "Oi." e se sentou.

_ Lupy! -ele estava na sala, mas tão magrelinho coitado nem parecia mais meu tigre cheio de vida que aprontava horrores com todos tirando eu e meu pai.- Vem aqui gatinho! -Maria Luísa não tinha medo de se jogar em cima dele, ele gostava.-

_ Menina folgada... E se ele morde ela?

_ O Lupy nunca foi agressivo Mê e disso você sabe.

_ Porque eu sou a dona dele primeiro, por isso mãe.

_ Aí sá mentirosa, dona nada que ele é da mamãe...

_ E meu. Mais meu do que de vocês.

_ Rudícula mesmo.

_ Não sabe nem xingar, seu tampinha.

_ Feia!

_ Anão de jardim.

_ Chega! Os dois.

_ Foi ele(ela) que começou! -gritaram juntos.-

_ Ti coisa mais feia, bigando. Bota tudo de castigo mamãe, fala no telefone com o papai.

_ Cuida da sua vida você, xereta.

_ Qui é xereta?

_ Um palavrão muito feio.

_ Igual a Melissa. -e ria.-

_ Eu falei chega hein, deu por hoje.

_ Chata.

_ O que você Arthur?

_ Desculpa mamãe... -recostou no banco e voltou a ficar quietinho e assistir o filme que Maria Luísa também via.-

_ Mãe, o que é menstruação?

_ Toda menina quando cresce fica mocinha pela primeira vez, como a mamãe vai te explicar... -fiquei pensando e pensando.- Quando uma mulher não engravida, ela menstrua.

_ É como um aborto?

_ Não meu anjo. É um ciclo, o corpo se prepara para receber a fecundação, uma gravidez. E quando ela não acontece, todo aquele preparo é eliminado do corpo.

_ E por que sangra?

_ Isso a mamãe não sabe te dizer. -ela não perguntou mais nada, pegou o celular  e eu voltei a me concentrar no que fazia.

(...)

_ Luan, você tá sentado?

_ Por que? Tá pensando no que?

_ Em nada. Na verdade fiquei com uma coisa na cabeça o dia todo.

_ Que coisa?

_ Melissa veio me perguntar o que era menstruação e por que sangra... Será que a professora comentou na escola? Ou alguma coleguinha dela já menstruou?

_ Eu que sei? -riu, mas não por achar engraçado, foi de nervosismo mesmo.- Ela não falou mais nada?

_ Não. E eu olhei no caderno dela e não tinha nada disso hoje.

_ Eu não sei lidar com isso, Fernanda. Ela tem só dez anos.

_ Eu sei, só fiquei pensativa porque eu menstruei novinha de onze pra doze anos.

_ Aí minha nossa senhora, eu nem comprei minha arma ainda.

_ Arma pra que? Tá ficando louco?

_ Eu mato o filho duma puta que se aproximar da minha princesinha com segundas intenções.

_ Luan meu amor... O que menstruação tem a ver com isso?

_ Eu não vou falar isso da minha filha...

_ Falar o que?

_ Que homem sente cheiro de... Vamos mudar de assunto?

_ De buceta virgem? Luan!

_ Não fala assim que é feio, ela é pequena demais...

_ Exatamente. Eu entenderia essa sua preocupação se ele tivesse seus 15, 16 anos. Mas ela vai fazer onze e tem a cabeça no lugar, mais do que eu quando tinha a idade dela.

_ Tá, eu acredito viu.

_ Você parece estar mais apreensivo que eu que sou a mãe.

_ É mais fácil pra você falar de menstruação, não acha?

_ Não acho não, e se eu disser algo errado pra ela?

_ Você não vai, fica tranquila. Você sempre sabe o que dizer.

_ Aí meu deus, viu Luan.

_ Vai dormir, vai amor. Amanhã a gente conversa mais...

_ Você já está com sono?

_ Eu não, mas você com certeza sim. -e eu estava. O esperei acordada e deveria ser no mínimo duas da manhã.-

_ Estou mesmo, mas precisava conversar (bocejei). Já vai dormir?

_ Vou meu anjo, vou dormir sim. Boa noite.

_ ... 

_ Não vai falar nada?

_ Eu te amo. -e desliguei.

 

  Tratei de ir dormir, e quando o celular despertou na manhã seguinte eu tive a sensação de não ter dormido nada. Nem tirei meu pijama, fui acordar os bonitos que era dia de aula ainda. Enquanto Arthur acordava e Melissa ia pro banheiro aproveitei pra descer a roupa suja antes de acordar, Maria Luísa.

  As roupas da Melissa estavam enroladas e quando fui pegar caiu no chão. O shorts estava manchado de sangue assim como sua calcinha. Deixei em cima do cesto e fui até o banheiro.

_ Filha?

_ Oi mãe...

_ Quer conversar?

_ Não, por que?

_ Eu achei sua roupa meu anjo... Por que você não me falou?

_ Eu fiquei com vergonha mãe. -desligou o chuveiro.- Vergonha...

_ Vergonha? Não meu amor, não precisa.

_ Mãe... -ela veio chorando e sentou no meu colo, abracei ela e esperei que ela se acalmasse.-

_ Terminou seu banho? Vou te ensinar algumas coisinhas... Vem cá...

(...)

  Depois que ensinei ela como colocar o absorvente na calcinha e lhe dei um remédio para cólica e fomos pro meu quarto. Acabei nem levando os pequenos, voltaram a dormir e eu e Melissa passamos a manhã inteira conversando sobre as dúvidas que ela tinha. Ela disse que não queria ir pra escola, e eu respeitei. Liguei na escola e conversei com a diretora.

_ Mamãe... 

_ Oi Lulu, vem cá meu amor.

_ Num tem aula hoje? -perguntou parando na porta do meu quarto.-

_ Hoje a mamãe te deu uma folguinha...

_ Quero tetê, a tia Luci não chegou ainda. -olhei a hora e era mais de 11h.- Me dá tetê.

_ Menina, você só pensa em tetê?

_ E no papai tamém. -gargalhou toda sapeca.-

_ Sem vergonha, vem cá meu amor.

_ Não, quero tetê.

_ Fica quietinha meu anjo, a Mê tá dormindo.

_ Qui ela tem?

_ Dor na barriga, tá com cólica...

_ Eu tamém...

_ Tá? Onde tá doendo?

_ Minha peina!

  Maria Luísa era uma figura, e fala demais. Desci, fiz o tetê e já falei com a Rúbia do almoço e sobremesa. Subi, tomei um banho e fui acordar a preguiça que atendia pelo nome de Arthur.

_ Ah não, tô cansado!

_ Tá cansado coisa nenhuma. Você dormiu demais, acorda...

_ Cinco minutinhos só, mamãe.

_ Arthur, anda...

_ Daqui a pouco. -ri.-

_ Eu vou tomar o meu banho, e se eu sair e você ainda estiver dormindo eu vou tirar o seu videogame. -e sai.-

_ Maria, me deixa!

_ Eu quero brincar, brinca comigo.

_ Não quero inferno, que merda!

_ Não grita comigo, sua chata!

_ Então sai daqui, some!

_ A casa não é sua! Nem o quarto, eu vô fala tudo pa minha mamãe.

_ O que está acontecendo nesse quarto? Melissa eu entendi que você tá com dor, mas não precisa gritar com a Maria Luísa. E você, ela já disse que não quer brincar. Você não tem suas bonecas?

_ Eu não quero brinca sozinha, mamãe.

_ O Lupy está lá embaixo...

_ Tá. -e desceu.-

_ Você tem que aprender a controlar o seu estresse. Sei que cólica dói e incomoda, mas ninguém tem nada a ver com isso.

_ Por que você tá brigando comigo? Eu não te fiz nada!

_ Não começa, Melissa.

_ Mãe! -me deu as costas e abraçou o travesseiro.- 

_ Vai tomar um suco de maracujá bem doce pra ver se acalma. Que estresse a gente cura na chinelada.

_ Você vai me bater? Que tipo de mãe é você?

_ O tipo normal! -e entrei no banheiro.

  Durante o banho eu ri muito ao perceber que Melissa era a minha cópia fiel, meu clone até quando estava naqueles dias e por me conhecer eu a deixei sozinha o resto do dia. Quando Luan ligou as crianças tinham acabado de ir dormir, eu estava secando os meus cabelos e até coloquei no viva-voz.

_ Ela o que Fernanda!?

_ Menstruou e para de gritar, ninguém no hotel precisa saber.

_ Minha nossa senhora! E agora?

_ E agora que ela é uma mocinha, está entrando em uma nova fase.

_ Que nova fase o que. Ela é uma criança e ponto final... -pareceu ter tomado alguma coisa.-

_ Você está bebendo?

_ Qual o problema?

_ Nenhum, grosso.

_ Eu não sei lidar com isso, não posso acreditar que minha pequena... Minha filhinha Fernanda.

_ Nossa filha.

_ E como ela tá?

_ Normal, quer dizer, normal não. Porque ou ela deita, ou fica em pé. Ela não quer sentar e quando anda fica toda dura.

_ Não tem nem tamanho.

_ E nem vai crescer muito, já que virou mocinha.

_ Vai ficar me lembrando a cada cinco segundos?

_ Amor, ela é igualzinha a mim. Chata, reclama de tudo e xinga todo mundo.

_ Ah, cê jura?

_ Para amor.

_ Não, vai ser bom pra você ver como fica insuportável de TPM.

_ Você que se fodeu, porque quando estiver pra descer pra mim, vai descer pra ela também.

_ Quero estar viajando, ficar bem longe das duas e levar o Art e a Maricotinha comigo.

_ Sonha meu bem.

_ Um homem pode sonhar, Fernanda. -risos.-

_ Muito frase de Cinquenta Tons de Cinza.

_ Cinquenta Tons de Luan é bem melhor, te garanto.

_ Amor, ninguém supera o Sr. Grey meu amor. Ninguém! Homem nenhum, com a piroca que for.

_ Ferindo minha masculinidade, obrigada querida esposa.

_ Não há de que meu bem. Te amo viu.

_ Eu sei, eu te amo também.

_ Sou muito amável.

_ Convencida também... -perdi a noção do tempo que ficamos de papo, fui me dar conta mesmo quando a Luísa apareceu no quarto chorando porque tinha feito xixi na cama. Resultado de ter tomado muito suco depois da janta. Mas acontece mesmo, ela é pequena.- Maria, manda um beijo pro papai.

_ Papai eu mijei na cama, credita?

_ Por que princesa?

_ Tomei água demais ou era suco mamãe?

_ Suco... Vem tirar essa roupa molhada.

_ Tá quentinha.

_ Bem sua filha mesmo. -disse rindo.-

_ Fiz com o dedo né, por isso que ela é minha filha. Ridículo.

_ Oh o estresse gatinha.

_ Vou dar banho na Maria Luísa, vai ficar aí?

_ Vou tomar banho também. -riu.- Tchau, boa noite meus amores.

_ Boa noite papai, reza antes de dormir hein.

_ Pode deixar meu amor.

_ Tchau amor, boa noite.

_ Fiquem com Deus minhas lindas. -e desligou.

  Levei Maria Luísa pro chuveiro e dei um banho bem rápido, coloquei fralda nela e um outro pijama e coloquei ela pra dormir.

_ Eu quero tetê. -nem discuti, desci com ela no colo e preparei o tetê e depois dela tomar, dormiu e eu fiz o mesmo.

Narrado por Luan

  Mocinha! Como assim mocinha? Por que o Senhor está fazendo isso comigo Deus? Querendo me fazer infartar antes dos quarenta? Minha filhinha, minha princesinha que eu pego no colo até hoje já menstrua? Ela mal saiu das fraldas, aprendeu a ler esses dias? Como irei lidar com isso? Já pensou se ela inventa de largar as bonecas e arrumar um malacabado pra namorar?

  Namorar? Isso eu não admito antes dos 25! E namoro pra casar... Casar? Casar não, porque quem casa tem filhos. Eu vou procurar um convento. Melhor que tudo isso. Eu vou beber , beber até dormir. E foi k que eu fiz, metade de uma garrafa de uisque até alguém abrir a porta do quarto e tirar a garrafa da minha mão.

_ Não é porque você brigou com a sua mulher que precisa acabar com todo o uísque do frigobar.

_ Cala a sua boca e me devolve a garrafa.

_ Ela te pôs um chifre?

_ Não, tá maluco!

_ Ela foi embora de casa?

_ Eu tô muito bem com a minha mulher se você quer saber. Meu único problema é minha filha estar crescendo.

_ Qual das duas?

_ As duas seu jumento! Mas a Melissa. Ela não podia fazer isso comigo Testa, não podia.

_ Se você me disser que ela arrumou um namoro a gente mata ele.

_ Eu morro assim que receber a notícia.

_ O que aconteceu de tão grave.

_ Sua afilhada, minha filha e da Fernanda. Agora é uma mocinha. -ele ficou tão surpreso quanto eu e virou a garrafa na boca. Choramos juntos relembrando toda minha vida desde que a Ester apareceu naquele escritório e quando estávamos chegando no mês de Novembro de 2025 a Arleyde entrou no quarto e deu a maior bronca em nós dois, colocou o Testa pra fora e tirou a garrafa de mim. Minha única alternativa foi dormir, mas eu sonhei com a Mel ainda um bebê. O meu bebê.

~.~

  Esses momentos! ❤ #NãoTenhoEmocional 

  Luan, O Rei de toda dramaturgia. Porque né... O homem é muito dramatico, exagerado e extremamente ciumento. Imagina quando ele voltar de viagem. Haha

PS: Pessoas do meu Brasil ou melhor, meu blog (❤) eu consegui responder todos os comentários, caso queiram saber. Kkk um beijo!