Capítulo 197 - Parte IX

Narrado por Fernanda

  Não tem coisa pior pra uma mulher casada do que dormir brigada com o marido, pior ainda quando a culpa não é dela. "Qual o seu problema? Falar de você na terceira pessoa não vai ajudar a resolver a treta... Vamos, vamos levantar dessa cama e mostrar que esses anos de casada te ens..." me proibi de escutar meus próprios pensamentos. Levantei da cama e segui para um banho, estava irritada demais e decidida a conversar sério com a Melissa, impor alguns limites era mesmo necessário e pode ser que o pai dela esteja certo. Dou corda demais à todos eles ou estou ficando doida e aceitando fácil demais as críticas do meu amado esposo.

  Saí do banho, tratei de me vestir e desci para ir comprar pão e algumas coisinhas para o café da manhã. Ao voltar, deixei a mesa pronta e subi para chamar as crianças, e o Luan também. Cheguei no quarto abrindo as cortinas, janelas e arrumando a cama... tudo de pirraça.

_ Você tá ficando louca? Qual o seu problema?

_ Nenhum, estou arrumando aqui pra ir tomar café.

_ E precisava me acordar assim?

_ Já passou de sete da manhã, mais do que na hora de levantar e fazer alguma coisa. -ajeitei os travesseiros e sai deixando-o muito puto.- Melissa, acorda.

_ Agora não mãe, eu fui dormir tarde...

_ Não quero saber, não te mandei chegar mais de meia noite. Anda... -ela se encolheu mais ainda e cobriu o rosto, abri as cortinas e janelas também, voltei até sua cama e puxei o edredom.- Vou ter que te puxar também?

_ Para de ser chata, eu tô com sono.

_ Levanta, toma café... temos que conversar sério.

_ Sobre?

_ Muitas coisas, inclusive suas idas ao shopping. 

_ Ah pronto, não posso sair mais? -fingi não escutar e sai do quarto dela, acordei os pequenos e descemos.-

_ Mamãe, não vamos esperar o papai? -Maria perguntou, porque era do nosso costume fazer as refeições todos juntos.-

_ Ele disse que poderíamos ir comendo, ele ainda vai demorar. Pode comer querida...

_ Vocês brigaram... -Arthur disse afirmando.- Não foi?

_ Leite ou suco? -devolvi outra pergunta na tentativa de mudar de assunto.-

_ Leite com café. -respondeu ele.-

_ E você Maria?

_ Chá igual o da vó Mari. 

_ A mamãe nunca faz chá ou é leite ou é suco.

_ Leite com chocolate de pedrinhas.

_ É ovomaltine Maria. 

_ Ah tá... E quero pão mãe.

_ Pão de queijo?

_ Não, com requeijão só. -assenti e logo os servi, quando estávamos comendo Melissa apareceu com a maior cara na sala de jantar e Luan logo atrás dela. Nenhum dos dois disseram nada.- Bom dia papai e bom dia Mel.

_ Bom dia. -responderam secos, completamente azedos.-

_ Pai, a gente vai andar de bicicleta hoje?

_ Eu tamém quero ir. Deixa papai?

_ Depois eu vejo, pode ser.

_ Quando você fala que vai ver a resposta é sempre não. -disse triste, voltou a comer em silêncio.-

_ Mamãe... -Maria sussurrou.- por que ninguém tá falando?

_ Porque ainda está cedo e eles com muito sono.

_ Teria dormido melhor se estivesse na minha cama.

_ Bom... quem escolheu o sofá foi você. -continuei comendo mesmo depois de seu olhar me fuzilar.-

_ Por que será né?

_ Porque você não aprendeu a conversar ou parece ter esquecido como isso é feito.

_ Vocês não vão brigar na nossa frente né? -Melissa perguntou, nos olhamos e depois de soltar todo o ar que estava prendendo, afastei meu prato e copo, levantei e saí da mesa após pedir licença.

    A casa não estava bagunçada então eu não tinha no que mexer. Como estava sol, desci e fiquei com o   Lupy por bons minutos até que minha filha chegou pra brincar com ele.

_ De pegar bolinha, Lupy.

_ Ele não gosta de brincar assim mais pequena. Ele cansa, gosta mais de ficar deitadinho... ganhando carinho na barriga.

_ Assim? 

_ Isso, sobe mais um pouquinho aqui... -Lupy rolava de um lado para outro, todo manhoso. Até que cansou, sossegou e dormir.- Vamos subir?

_ Mamãe, quero ir na piscina.

_ Tem que esperar um pouco, você acabou de comer.

_ Eu sei, mas uma hora vai demorar muito.

_ Vai não gatinha... enquanto isso você pode dançar.

_ Just dance! Vamos comigo, mamãe...

_ Não tenho mais pique pra isso não, Maria.

_ Pique!?

_ Disposição. 

_ Só uma...

  Não lhe contrariei mais e fomos dançar, até Arthur entrou na brincadeira e ficamos parte do dia daquele jeito. Quando estava pra anoitecer a Isa ligou, queria levar meus pequenos para assistir um teatro infantil e como iríamos ficar em casa não vi problema de deixar. Os dois tomaram banho, se arrumaram... eu arrumei uma mochila para os dois colocando pijamas, uma troca de roupas, escova de dentes e chinelos, e deixei na sala.

_ Vão sair?

_ As crianças sim, por quê?

_ Vão pra onde?

_ Sair com a Isa e o Rober, teatro infantil...

_ Hm... vou tomar um banho.

_ Outro? Vai sair?

_ Vou. Douglas está fazendo um churrasco...

_ Novidade fazerem um churrasco... justamente na sua folga. -falei pegando o celular e ignorando seu olhar.-

_ O que foi? Já vai começar?

_ Não é que eu já vou começar... -pensei bem, respirei.- ... não vou discutir. Quer sair, vai com Deus! -e sai do quarto.

_ Nossa mãe, pra que demorar tanto? 

_ Fica quieto Arthur. -falei e ele se desculpou.- Isa, eles estão prontos. Pode vir sim.

_ Minha tia já chegou, está descendo do carro e chegando aqui a-go-ra... -Maria Luísa dizia ainda com a cara na janela.- ... abriu!

_ Oi Fê.

_ Oi sua linda... tudo bem?

_ Ótima. -risos.- Vamos meninos?

_ Vamos, tchau mãe até amanhã...

_ Nada disso, pode voltando aqui e me dando um beijo. Seu safado.

_ Beijo é coisa de criancinha, eu já sou um homem.

_ Vem cá então meu homem lindo, gostoso da mamãe. -depois de eu muito enchê-los com mil e uma recomendações.- Até amanhã. -falei da porta e entrei.-

_ Mãe, vou na casa do Leo. -Melissa apareceu nas escadas.-

_ Não. Você não vai sair hoje.

_ Ah para vai, o que foi agora? 

_ O que foi que você não vai... ficou com ele ontem o dia inteiro, chegou quase três horas da manhã. Tá ótimo, deixa ele um pouco.

_ Deu pra me deixar de castigo agora?

_ Se for preciso sim.

_ Aí mãe, que ridículo isso... nada a ver meu.

_ Melissa, você acha que você está falando com quem?

_ Você nunca reclamou de eu ir na casa dos meus amigos, agora quer ficar me prendendo?

_ Nunca reclamei porque nunca tive motivos. O que não é o caso agora...

_ Você só pode estar brincando, não é possível.

_ Não estou, você não vai. E não me estressa hein...

_ Nossa, deu pra ficar estressadinha agora fofa?

_ Melissa, para...

_ Não estou afim, mamãe...

_ Está ridículo isso...

_ Está ridículo isso e blá blá blá... 

_ Você não acha que ha abusou demais não?

_ É pra responder? -riu e meu sangue ferveu, respirei fundo e mentalmente contei até 10.- 

_ Já chega Melissa eu não estou brincando porra! Você tem 15 anos não é 5 não. -falei e ela assustou, arregalou os olhos verdes e parou do jeito que estava.- Caralho meu, tudo leva na brincadeira... eu estou de saco cheio de tudo cair nas minhas costas.

_ Tá gritando comigo como se eu tivesse culpa.

_ E tem, a culpa de eu ter continuado a minha briga com o seu pai foi inteiramente sua. Que não está nem aí e faz o que bem entende... me diz qual a necessidade de voltar da porra de um shopping 2h30 da manhã? Tive que escutar e engolir muita coisa... seu pai faltou falar que eu não presto nem pra por limites nos meus filhos. E quando eu tento falar numa boa você vem e fica com ironias... eu não tenho sua idade não. Não sou Nayara, nem Taciane... 

_ Percebi né...

_ Tá se achando a engraçada né? Continua assim Melissa, continua assim que você vai longe...

  Ela ficou me encarando esperando que eu dissesse mais, mas fiz diferente, deixei a frase no ar e sai.   Entrei na cozinha, tomei um pouco d'água e subi para o quarto.

_ O que foi aquilo lá embaixo?

_ Eu não quero falar sobre isso, estou me sentindo muito mal. -entrei no banheiro.-

_ Fernanda? -bateu na porta.- Abre aqui...

_ Vai pro seu churrasco, me deixa sozinha...

_ Eu não vou te deixar sozinha, abre aqui.

  Não falei nada... tirei minha roupa, entrei no box e liguei o chuveiro. A água quente caía sobre a mim deixando que meu corpo fosse relaxando, e deixando-me mais à vontade comigo mesma e chorei de raiva, tristeza, agonia... Eu não estava bem, não estava legal, não estava no meu normal. E isso estava me sufocando, porque ninguém entendia e tudo parecia ir contra ao que eu dizia, nessa última semana me desentendi com alguns diretores, meu marido e pra completar, minha filha...

Terminei meu banho, enrolei-me na toalha e sai. As luzes do quarto estavam acesas, mas o quarto estava vazio. Entrei no closet, coloquei meu pijama e me deitei.

(...)

  No domingo de manhã a minha cabeça estava estourando, doía tanto que eu nem da cama queria levantar. Mas, precisava.

  Vesti uma blusa já que estava sentindo muito frio e desci. A sala estava vazia, Lupy estava deitado na cozinha... imaginei que minha dor de cabeça fosse fome, então coloquei alguns pães de queijo pra assar e água no fogo para o preparo de um chá qualquer... uns quarenta minutos depois tudo estava pronto, peguei na geladeira o requeijão, a faca e me sentei à mesa.

  Estava comendo quando escutei o barulho de um carro estacionando, não demorou para a porta ser aberta e segundos depois Luan entrou na cozinha descalço e foi direto beber um pouco d'água.

_ Bom dia. -soprei o chá e o olhei, quieta.-

_ Oi. 

_ Tudo bem?

_ Você sabe muito bem a resposta. Mas, e você? Como se sente?

_ Disposto a melhorar... -tomei um pouco mais do chá.- podemos conversar?

_ Conversar ou discutir? -umedeci os lábios e voltei a falar antes mesmo que ele me respondesse.- Somos adultos, somos casados, somos pais... e aqui, agora... parecemos dois estranhos.

_ Sim, parecemos...

_ Sinto falta do diálogo, da cumplicidade...  essa nossa briga me fez perceber o quanto nos automatizamos... não que não haja sentimento entre nós, mas está estranho.

_ Estamos distantes.

_ Eu não quero um casamento infeliz por desgaste. -deixei a xícara.-

_ Nem eu quero que ele desgaste pelo meu egoismo. Me perdoa?

_ Você não é o único errado, eu também não sou fácil de lidar. Tenho meus surtos, minhas manias que carrego por anos...  e isso também influencia.

_ O que quer dizer...

_ Quero dizer que precisamos nos acertar, porque assim não dá e assim eu não quero. -nos olhamos e ele estava com os olhos marejados.-

_ Não vai me pedir um tempo, não é?

_ Precisamos de um? 

~.~

  Oi meus amores, não queiram me matar. Afinal, eu estou aqui rs...

 Capítulo com altos e baixos, o que será que acontece agora hein? Hm... Mistério... ou não, né? Nos vemos no próximos, aí já aproveito e respondo os comentários. Beijão...