Capítulo 197 - Parte X

Narrado por Luan

  Meu erro sempre foi me deixar cegar pela impulsividade. Seja pelo ciúmes, como por uma frase mal dita ou uma colocação errada. Um homem arrogante, irônico e extremamente agressivo. E ela não, com os anos Fernanda amadureceu demais esse lado, ela se continha bem mais que eu, o homem da relação.

 E assim, quando soube por acaso que ela ficaria as minhas férias inteiras em outro país sem eu e nossos filhos... sai do meu controle e deu na merda que deu.

 Deixei que a noite chegasse e me troquei pra ir ao churrasco na casa do Douglas, e cheguei a ir mesmo não estando um clima legal em casa. Passei boa parte da noite bebendo com os caras, conversando... quando estava pra amanhecer não tive coragem de ir pra casa. Para a minha casa... então segui para a casa dos meus pais.

_ Isso é hora rapaz?

_ Ôh pai, desculpa aí... não queria acordar o senhor.

_ Eu já estava acordado... e pelo que me parece, você também.

_ Não estava em casa.

_ Café? -ofereceu.-

_ É sempre bom, né? -ele sorriu e me serviu uma xícara, fomos para sala onde nos sentamos e conversamos por horas a fio. Meu pai com toda certeza tinha mais experiência nisso, maturidade também. Ele soube me dar conselhos e sem dizer nada me forçou enxergar onde eu estava errando.-

_ Já sabe o que fazer?

_ Até chegar em casa eu terei tempo o bastante para pensar. Mas, obrigada pai.

_ Estou velho mais ainda sei conduzir uma boa conversa.

_ Disso eu não tenho dúvidas...

(...)

  Tivemos então uma conversa franca e bastante decisiva, fiquei assustado com o rumo que ela estava tomando. As respostas da Fernanda eram claras e objetivas o tempo inteiro, até mesmo quando nos questionamos sobre um tempo. Ela disse que o tempo apenas prolongaria um futuro divórcio e que não queria isso pra nós, que nos amávamos e tínhamos juntos uma família.

_ Vamos sair hoje? -sugeri.-

_ Melissa está aqui em casa e não é pra ela sair... -tomou mais chá.-

_ Ela tinha que ficar sem o celular as férias toda, porque ainda existem métodos para conversas online.

_ E ela sentiria mais falta, mas não acredito que seja um castigo válido. Pensei em cancelar a viagem de férias para Floripa. 

_ Tá feito, eu mesmo darei a notícia quando subir para dar uma palavrinha com ela.

_ Ela vai querer me odiar pro resto da vida.

_ Isso passa, não se estresse. -lhe dei um selinho e por fim fui deixar meu copo na pia.- Vou subir, preciso de um banho.

_ Vai lá... 

_ Não é porque estamos nos acertando que eu vou pra cama com você na primeira oportunidade que tiver.

_ Não fizemos as pazes ainda?

_ Não exatamente. -voltou a comer, ignorando minha presença ali.

  Subi para o quarto e tomei um banho demorado e quente, ao sair vesti uma calça de moletom, regata e meias, calcei meus chinelos e voltei à sala.

_ Fernanda...

_ Fala... 

_ Não vai sair dessa cozinha não?

_ Estou comendo.

_ Ainda?

_ Sim. Algo contra?

_ Não... tá comendo o que?

_ Pão de queijo com nutella.

_ Credo... senta aqui comigo.

_ Ah não, você vai ficar me beijando... não quero grude.

_ O que você tem hein?

_ Não acordei legal, acho que vou deitar.

_ Deita aqui com o seu marido lindo.

_ Meu marido lindo é um atirado, vou deitar na minha cama. 

_ Vou subir e te esperar lá então... -e subi, mas ao inves de entrar no nosso quarto fui até o da Melissa.- Posso entrar?

_ Entra, pai. Tá tudo bem?

_ Depende não é...

_ Até você vai brigar comigo por uma bobagem? Eu não tenho culpa da briga de vocês, culpa nenhuma.

_ Você deveria tomar mais cuidado com o que fala, sabia? Deveria se colocar no seu lugar de filha e não se meter nas minhas brigas com a sua mãe, sendo o motivo delas ou não... -ela ia falar, mas continuei.- ... você é esperta sim, muito inteligente e mimada... está bem bocuda pra uma adolescente da sua idade e precisa aprender a ser mais educada.

_ Já sei, vai me deixar sem celular?

_ Não, mas sem sua viagem pra Floripa. 

_ Ah não pai, você não pode fazer isso. Eu esperei essa viagem o ano inteirinho!

_ É isso. Só mudo de ideia se sua mãe me pedir, mas depois do que você andou dizendo à ela... acho difícil...

_ Pai...

_ O que?

_ Conversa com ela, vai...

_ Não. Você vai conversar e se desculpar. -e sai do quarto.

Narrado por Melissa

  Meus pais deveriam estar sob o efeito de alguma droga muito forte, porque meu, não é possível. cancelar a minha viagem de férias? Com os meus amigos? Isso era demais, passaram dos limites e isso não vai acontecer. Não mesmo!

  Estava conversando com as meninas via skype, falávamos sobre o último trabalho do ano letivo e acabei deixando escapar a história do cancelamento da viagem e tive que explicar tudo.

_ Ah, mas você pegou pesado. Sua mãe é super de boa, seu pai também e você vacilando.

_ Nossa, Nay. Vai me dizer que nunca chegou em casa mais tarde?

_ Pode ter certeza que das vezes que isso aconteceu eu não estava indo ao shopping com o meu ficante. Sorry, você está errada.

_ Errada ou não, você tem que ir nessa viagem. -Tacy dizia.-

_ Aí Nega, como? Minha mãe ficou muito puta comigo, falou palavrão e isso nunca aconteceu antes desde que eu sei o que é isso.

_ Faça a linha menininha mesmo, filha exemplar que sempre cola.

_ Minha mãe era assim, ela já teve minha idade e sabe muito bem como isso funciona.

_ Não acredito que você está pensando em aprontar...

_ Não aprontar, mas eu vou pra essa viagem.

  Terminei de falar com as meninas e fui dormir, estava cansada e aquele trabalho tinha enchido meu saco.

(...)

  Segunda cheguei na escola morrendo de sono, muito sono mesmo, tanto que entrei na sala e sentei na última carteira, abaixei a cabeça e dormi.

_ Senhorita Dias. -escutei alguém me chamar, porque ôh escola cheia de frescuras com essa coisa de senhor, senhora ou senhorita. Levantei e estava com o rosto todo amassado, a professora de biologia me olhava de braços cruzados.- Dormiu pouco o final de semana?
_ Muito pouco estudando para a apresentação de hoje (bocejei). Ou seja, preciso dormir mais um pouco.
_ Hm. Entendo.
_ Amo ter uma professora tão compreensiva. -as meninas me olharam rindo, com certeza minha cara deveria estar péssima.-
_ Puxar meu saco não irá aumentar sua nota, espero que tenha estudado. -sentou-se e fez então a chamada.-
_ E aí, falou com a sua mãe? -Tacy perguntou.-
_ Não... -respondi ainda digitando uma mensagem.- ... mas isso não vai ficar assim, vou ligar pra minha vó hoje.
_ Ai bebezinha da vovó.
_ Sou mesmo, o dodói do meu avô. Ele vai me ajudar nessa, ah vai.
_ Senhoritas, por favor... silêncio.
_ Professora chata. -falei revirando os olhos e pegando novamente o celular pra ver a resposta.

_ Meu avô é a melhor pessoa.
_ Ele vai falar com a sua mãe?
_ Sim, e ainda vem aqui me buscar.
_ Vida mansa hein, sua safada.
_ Desculpa nem, mas eu posso. -risos.-
_ Eu não vou pedir silêncio outra vez. -disse a professora toda estressadinha, odiava aquela mulher do fundo da minha alma. Matéria chata, pra que eu quero saber de células? Estrutura celular não vai mudar em nada na minha vida.- Vamos seguir com o conteúdo e na próxima aula vamos as apresentações.
_ Fez eu estudar o fim de semana inteiro pra chegar agora e falar que essa merda falar que vai ficar pra próxima aula.
_ Senhorita Dias, por favor, se retire da sala. -levantei linda, bela e maravilhosa e sai. "Eu não tinha falado alto, né? Ou tinha?"- Espero que tenha uma boa conversa com o Sr. Monteiro.
_ Não aguento mais ir pra sala dele, meu deus! -revirei os olhos e segui para a sala do diretor, que ficava no segundo andar final do corredor à esquerda.- Bom dia. -ele olhou pra minha cara, pediu pra eu entrar e fechar a porta.-
_ Primeira aula em uma segunda-feira?
_ Juro que não fiz nada, a Sra. Barboza não vai com a minha cara. Não aguento mais essa perseguição.
_ Senta aí, vamos conversar um pouco.
_ Vou ganhar uma advertência?
_ Aceita um café?
_ Cappuccino.
_ Só um instante... -pegou o telefone e discou algum ramal.- Débora... poderia nos trazer duas bebidas? ... Um cappuccino e um café sem açúcar... Obrigada. -e desligou.- Estamos na penúltima semana de aula, entendo que o estresse deve estar no ápice... mas querida, você é muito jovem pra trocar farpas com a professora.
_ Eu não deveria falar disso com o senhor, mas assim... eu tô de TPM... -menti.- ... e acabo me tornando um pouco agressiva, sabe? Intolerante e assim, esses trabalhos de final de semestre me deixam pior. Não sei o que eu faço...
_ Respira fundo, pense que as férias estão próximas.
_ Ainda bem... mas e o senhor, com esse monte de papeladas? -puxei assunto de onde não tinha, Débora nos trouxe as bebidas e pães de queijo. Fiquei até o fim da segunda aula conversando com o diretor, ajudando-o a separar alguns papeis e depois voltei pra sala.-
_ Foi advertida amiga?
_ Não, esse diretor merece um beijo bem gostoso da mulher dele na boca. Tomamos café, conversamos e eu ajudei a separar alguns papeis. Sem advertência, sem ligação para a mamãe Fernanda.
_ Ainda bem. Sinal de que ainda temos chances da sua mãe voltar atrás.
_ Assim espero... -veio então a terceira aula, o intervalo, mais quatro aulinhas e fim.- Oi vô. -o cumprimentei entrando no carro.- E oi pra você também sua bolinha de pêlos mais linda.
_ Tudo certo na escola?
_ Só quero minhas férias, vô.
_ (riu) Eu liguei pro seu pai viu, falei com a sua mãe também... e soube que andou desobedecendo, respondendo...

_ Parece que ninguém teve minha idade naquela casa. Vô eles não estão sabendo lidar comigo, não mesmo. Affe.

_ Vamos fazer assim, vou conversar com eles e aí veremos no que dá.

_ Vai pedir pra eles deixarem?

_ Veremos, não posso me meter muito.

_ Pode sim, você é meu avô.

_ E eles os seus pais.

  Escutei um sermão básico, mas produtivo. Estávamos chegando em casa, meus irmãos estavam em aula ainda e só estariam os meus pais em casa... Estava ansiosa, queria saber no que ia dar meu castigo. Tomara que meu avô queira me ajudar, tomara!

~.~

  Sobre o susto? Fui muito ameaçada de morte, kkkk
 Mas tudo deu certo, muito certo. Haha Agora, dona Melissa andou se excedendo e agora está em maus lençóis, será que o vovô vai conseguir ajudar?