Narrado por Fernanda
Nossa viagem por Campo Grande se estendeu e no dia de irmos embora nosso piloto não estava se sentindo bem e um vôo comercial demoraria bem mais, resumindo, ficamos mais um dia por lá e iríamos embora no dia 15 pela manhã.
_ Mamãe, eu não quero. Cansei. -Helena dizia de seu café da manhã.
_ Você nem comeu direito, nós vamos pegar o avião já já.
_ Eu não quero, não tô com fome mamãe.
_ Helena. -ela arregalou os olhos, mas não comeu, cruzou os braços fazendo birra.
_ Deixa ela amor, ela tá cheia. Né filhota?
_ É papai, só queria um doce.
_ Você não vai comer doce nenhum, não disse que tá cheia? -falei colocando o leite do copo dela no meu.
_ Parece que nunca foi criança. -Luan resmungou.
_ E você tá parecendo pai de primeira viagem, tudo que ela quer você dá, tudo o que ela faz você acha bonito. -falei séria, o clima não ficou dos melhores, mas ele também não retrucou.
Terminei meu café e juntei as coisas da mesa, levei para a pia e passei uma água. Luan saiu da mesa com a Nena e foi para o quintal. Passei um pano na mesa, levantei as cadeiras e varri todo o chão.
_ Tô indo tomar banho, o testa ligou e falou que já está tudo certo.
_ Tá bom.
_ Amor, vem aqui. -fui até ele.- Me desculpa, tá?
_ Pelo que?
_ Mais cedo com a Nena, ela tá ficando muito sem vergonha.
_ Eu sei. -suspirei.- Onde ela está?
_ Minha mãe, as duas estão na rede.
_ E seu pai, cadê?
_ Dormindo no sofá. -me deu um selinho.- Quer vir junto não?
_ Não, vai lá que eu tenho que ajeitar as malas.
_ As minhas eu já arrumei.
_ Mentira.
_ Mentira mesmo, não sei nem onde ela tá.
_ Trate de procurar e juntar suas coisas, não sou sua empregada.
_ Ô amor, vamos nos atrasar.
_ Sua mãe é a Marizete e minha filha é a Helena.
_ Ah, é assim? Depois de anos de casados?
_ Você é muito folgado, vida. E bagunceiro ao extremo, adora largar as coisas jogadas.
_ Tá legal, já entendi. Nada de bagunça, estou subindo, vem comigo. -segurou minha mão e mesmo eu relutante, ele me levou para o andar de cima da casa e correndo.
Entramos no quarto e o banho dele teve um pequeno atraso, graças a nossa foguetisse e muito tesão. Sei que foi uma rapidinha, mas eu fiquei jogada na cama mais alguns minutos me recuperando depois que o Luan foi para o banho.
_ Mamãe!
_ Oi.
_ Cadê o papai hein? Ele disse que ia me dar um negócio.
_ Ele está tomando banho, e você vai depois dele com a mamãe.
_ Não queria tomar banho. -fez careta.
_ Se você não tomar banho, os mosquitos vão ficar tudo atrás de você.
_ Aí mamãe, eu não gosto de mosquitos não.
_ Então tem que tomar banho, neguinha.
Acelerei o Luan e assim que ele saiu, Helena e eu tomamos banho. Lavei bem seus cabelos, ensaboei bem o corpo dela cheio de grana dela ter ficado rolando com o pai dela e depois de escovar seus dentes, tomei uma ducha rápida e saímos.
_ Papai, não pode ver menina trocar de roupa.
_ Mas cê num é mais minha neném?
_ Não papai, eu sou mocinha a mamãe falou. -disse toda cheia de razão, fazendo Luan dar risada e eu disfarçar.- Não é mamãe?
_ É filha, é uma mocinha da mãe. -falei passando a toalha no corpo dela.- Luan.
_ Hmm...
_ Sai desse celular, amor. Ajeita suas coisa, por favor?
_ Caralho, Fernanda eu vou arrumar. Que pressa da porra. -falou todo irritado, levantando da cama e jogando o celular.
_ Papai! -levou as duas mãos na boca.- Você falou palavra feia.
_ Helena, fica quieta. -ela fez bico de novo e ficou calada. Terminei de secar minha pequena, coloquei um jeans e camiseta, tênis e liguei o secador para passar nos cabelos dela.
_ Mamãe, o papai tá bravo?
_ Xiiu, fica quietinha meu amor. -falei penteando os cabelos dela, distraindo-a com o meu celular.
_ Mas mamãe...
_ Pronto, vai ver se a vovó tá pronta. -dei um tapinha na bunda dela e ela saiu do quarto.
_ Não olha com essa cara pra mim não.
_ Não posso mais falar com você? É isso? Precisava dessa grosseria toda?
_ Odeio que fiquem falando na minha cabeça, já falou uma vez.
_ Se tivesse adiantado eu não teria falado a segunda, nem a terceira. -cruzei os braços.- Seu grosso.
_ Ah, eu sou grosso? Tenho que aguentar você enchendo o saco e ainda sou grosso?
_ Enchendo o saco, Luan?
_ Chega né? Já deu.
_ Já deu o caralho, mas quer saber? Foda-se também, arruma sozinho a porra da mala e aí de você se esquecer alguma coisa aqui e vier reclamar pra mim.
_ Tá, já falou?
_ Luan, você não brinca comigo não... odeio quando você faz isso.
_ Então para de gritar na minha cabeça!
_ Tá bom, como quiser. -e sai.
_ Está tudo bem, querida?
_ Não, mas acontece não é sogra?
_ Vocês dois são muito cabeça dura. -riu de um jeito tão gostoso, até eu tive vontade de rir.
_ Ele não gosta que fala nada, por isso a gente discute.
_ Vocês já passaram dessa fase, pensem nisso. -foi sua frase final, concordei e descemos.
(...)
No avião, Luan teria vindo calado se não fosse a foto que a Malu tinha postado no instagram com os amigos do Arthur em uma boate, pronto.
_ Seu problema é achar que você fez filho sozinha, não é possível.
_ Luan o dono do lugar é meu amigo.
_ É um irresponsável, isso que ele é. Não interessa se é seu amigo ou não, ela não tinha que ter ido. Quer comemorar? Já não vai ter a festa?
_ Ah, você e eu sabemos que é muito diferente.
_ Fernanda do céu, eu sei que você não quer prender nossas filhas, mas pelo amor da minha nossa senhora! A Maria Luísa fez 15 anos agora, ela não tem wu ficar socada em baladas, nem nessas festas dos amigos do Arthur... eu já falei.
_ Não é questão de não querer prender. Eu me conheço, se minhas filhas forem iguais a mim elas farão escondido e nós nunca iremos saber. Eu tenho um ótimo relacionamento com as meninas, confio de deixar elas saírem.
_ Melissa também era assim, lembra bem o que ela fez na viagem com as amigas né? Ficou com o seu ex. -Luan não estava brincando, ele falou sério e de um jeito nada delicado. Eu odiava que ele mencionasse o relacionamento entre a Melissa e o Murilo, e não por ciúmes, mas porque foi uma fase muito difícil para todos nós.
Eu não falei mais nada a viagem inteira.
Chegamos em São Paulo e o tempo estava bastante abafado, mas aquele cheiro de chuva... nos despedimos do piloto, pedimos um táxi e fomos para casa.
Chegamos e nem parecia dia de semana. Tinham uns cinco carros estacionados em frente a nossa casa e um barulho que sabíamos que vinha do quintal. Abri a porta e Thor veio pulando em cima de nós três, não sabia com quem falar primeiro.
_ Oi mamãe, eu tava com saudade de você vidinha. -o beijei muito e apertei demais.
_ Mãe! -Arthur veio me abraçar e me tirou do chão, me enchendo de beijo.- Até que enfim voltou, não aguento mais comida de restaurante.
_ Cada de pau. -ri.- Que bagunça é essa aqui em casa?
_ Melissa chamou uns amigos da faculdade, estão fazendo churrasco lá fora. -disse me soltando.- E aí, paizão! -se abraçaram.
_ Amigos?
_ É mãe, resenha. Sabe?
_ Sei, Arthur. E tão bebendo?
_ O que a senhora acha? -riu.
_ Arthur, onde você deixou a... -Julia apareceu com um sorriso enorme e quando nos vimos eu fechei a cara.- ... dona Fernanda, oi.
_ Oi, tudo bem?
_ Sim e com vocês? Fizeram boa viagem?
_ Nada melhor como chegar em casa. -dei um sorriso fechado e peguei minha mala, puxando a alça e indo na direção da escada.
_ Não vai ir lá fora?
_ Daqui a pouco, juízo hein.
_ Mamãe, vou ver a Melissa! E o Leo!
Subi para o quarto sabendo que meu marido vinha logo atrás, calado. Entrei, ele entrou e encostou a porta. Tirei o tênis, as meias e sentei na cama.
_ Olha eu sei que falei besteira, sou um idiota por isso, me desculpa.
_ Eu não me perdôo pelo que aconteceu até hoje e vem você esfregar na minha cara. Isso me chateia tanto, de uma forma que você não imagina. Não faz ideia! -disse sincera, olhando nos olhos dele com o choro entalado na garganta.- Foi uma droga! Pior do que qualquer outra coisa que já havia me acontecido na vida.
_ Eu sei.
_ Aé? Não pareceu.
_ Eu estava com raiva e não pensei no que estava falando, não quis te magoar, te deixar mal desse jeito. Fernanda... de verdade, me perdoa.
_ Tudo bem. -levantei e entrei no banheiro.
Narrado por Melissa
Soube que meus pais chegaram porque a Helena atravessou o quintal correndo pra vir nos cumprimentar e a primeira coisa que perguntou foi da Cecília.
_ Ceci está em casa, com a minha mãe. -Leo falou.
_ Ah, traz ela na minha casa. Eu queria muito muito muito brincar.
_ Vou pensar. Agora me dá um abraço bem apertado aqui, vem.
_ Tá bom, vai. -e pulou no colo dele.
_ Cadê a mãe?
_ Com o papai, ela tá bem triste. -franzi a testa.- Papai disse palavra feia pra ela.
_ É mesmo?
Ela fez que sim com a cabeça, mas eu mudei de assunto porque ali não era o momento, meus colegas de faculdade estavam vindo ver minha pequena e não ia ficar bacana... mas fiquei pensativa, porque pra Leninha perceber minha mãe triste é porque foi coisa séria.
Mas eu aproveitei primeiro o churrasco com o pessoal e só fui entrar em casa mesmo pra acompanhar as pessoas até a porta e depois de recolher a bagunça do quintal.
_ Vai dormir aqui, loirão?
_ Nada, loira. Amanhã ainda é sexta.
_ E o escritório está fechado. -cruzei os braços.- Fica vai... -sentei no colo dele.
_ Não. -apertou minha bochecha.- Tem dois dias que eu não durmo em casa, levei uma bronca da Cecília.
_ Bronca? -ri.
_ "Nado, você me prometeu que amanhã ia dormir comigo." "Eu gosto da Mel, mas você só fica na casa dela." Desse jeitinho.
_ Que fofa, juro que vou morder muito aquelas bochechas.
_ Ela não gosta.
_ Nenhuma criança gosta, mas eu mordo mesmo assim. -mordi a boca dele e deu uma puxada.
_ Porra, doeu. -deu um tapa na minha testa.- Tchau, dá um beijo.
_ Tá cedo, ainda... você nem viu minha mãe.
_ Ela deve estar é dormindo, quase meia noite. -disse olhando no relógio.- Amanhã eu tô aqui, eu acho.
_ Tá pensando em ir pra onde?
_ Festa de um amigo, vamos?
_ Não vou não amor, sábado tenho que acordar cedo por causa do aniversário da minha irmã. Mas vai sim, só se comportar.
_ Isso sempre, com ou sem você.
_ Hmm coisa linda. -íamos nos beijar quando minha irmã apareceu, e eu pensando que ela tinha dormido.
_ Melissa, eu queria leite com chocolate.
_ No copo, né?
_ É, no meu, né. -falou como se fosse óbvio, sentando no sofá e pegando meu celular.
_ Pra que senhas, né? -dei de ombros, vendo ela colocar a digital e desbloquear.
_ Ligeira, ela.
_ Demais.
Ainda enrolei minha irmã uns minutos, mas assim que meu loirão foi embora eu me aventurei na cozinha e preparei o leite com chocolate que ela tanto queria.
_ Malu, você viu a mãe?
_ Dormindo, mas não a vi também.
_ Eu hein, não deu nem um oi pra gente.
_ Vai ver foi cansaço, o pai também não desceu mais. -Arthur deu de ombros e abraçou a Julia pela cintura, beijando o rosto dela.
_ Tudo bem, né? Eu vou tomar um banho e cama... vamos Nena?
_ Sim.
Helena e eu fomos para o meu quarto, deixei ela na minha cama e tomei um banho de gato, rapidinho. Vesti o pijama, enrolei a toalha na cabeça e fui para a cama também.
_ Como foi lá na casa do tio?
_ Bem legal, eu fui na piscina sozinha e sem bóia.
_ Aé?
_ Sim, eu gostei! Bem muito.
_ Voltou até pretinha, toda bronzeada.
_ É o biquíni, né Mê! A vovó fez um doce bem gostoso, lá... -Helena amava conversar e não vi problemas em bater papo com ela, até que dormisse.
Leonardo chegou em casa e disse que tomou banho e ainda jantou, que a mãe dele tinha feito lasanha de frango com brócolis. Trocamos mais algumas mensagens e ele foi assistir filme com as meninas, Analu e Ceci.
Fiquei com sede e levantei da cama, ainda no escuro, calcei os chinelos e sai do quarto. Abri a porta e vi a luz do quarto dos meus pais acesa, cheguei de fininho e quando ia curiar minha mãe abriu a porta e eu levei as duas mãos no peito.
_ Pensei que fosse seu pai. -ela disse sorrindo.
_ Não, era eu mesmo. Ele não está dormindo?
_ No quarto de hóspedes...
_ Por que?
_ Estávamos precisando. -deu de ombros.- É melhor pra evitar o desgaste.
_ Desgaste do que mãe? Vocês acabaram de voltar de viagem, estavam super bem até ontem.
_ Pensei que estivesse, mas uma fase da nossa vida ainda não foi superada. -deu de ombros, saiu da porta e voltou para a cama, deixei a porta encostada e a segui.- Tô bastante chateada.
_ Você traiu meu pai?
_ Não!
_ Ele te traiu, mãe?
_ Também não, o assunto é outro... não queria tocar nesse assunto.
_ Ah mãe, somos amiga. Não sou só eu que posso chegar e chorar no seu colo, te contar tudo... você também pode me falar as coisas.
_ Foi exatamente isso, estávamos falando da comemoração da Malu em uma boate.
_ Ele não sabia, mãe?
_ Não achei que fosse um problema, filha. Eu confio em vocês, sabia que estariam no camarote e entre amigos... que você cuidaria dos seus irmãos, das amigas da Maria Luísa.
_ E foi por isso que discutiram, mãe?
_ Também. Na verdade a treta foi ele dar a entender que eu deixava vocês fazerem tudo com a desculpa de não prender vocês e eu "bati" o pé que não era nada disso, que se vocês fossem iguais a mim... fariam escondidas.
_ Você falou? -perguntei surpresa.
_ Falei e disse que confiava em vocês...
_ E isso foi motivo?
_ Foi motivo pra ele jogar na minha cara que eu confiava tanto em você que quando você viajou com as amigas ficou com o meu ex. -quando minha mãe falou isso eu fiquei de boca aberta, olhei para o lado desviando meu olhar do dela.- Foi tão seco, tão natural que eu fiquei remoendo aquilo em silêncio e durante toda a viagem.
_ Mas vocês subiram depois e juntos, o Art viu.
_ Nós conversamos, ele se desculpou. Mas eu tô chateada, me dei esse direito.
_ Sério, mãe? Isso é passado nas nossas vidas.
_ Um passado que ainda me atormenta.
_ Não deveria. Tantos anos se passaram, sabe? Eu amadureci demais com toda essa história e nos aproximamos mais, apesar dos pesares. O Murilo foi passado na sua vida e também na minha, mesmo que de maneiras diferentes.
_ Maneiras diferentes?
_ Mãe, isso pode até soar frio, mas ele não me fez nada de ruim... nada, pelo contrário. O curto tempo que nós passamos juntos foi muito bom pra mim, talvez da maneira intensa que foi.
_ Melissa, o Murilo não ama ninguém.
_ Ele te amou, e não foi recíproco. Isso foi o que definiu a maneira que tudo terminou entre vocês e causou todo o transtorno da volta dele na sua vida através de mim. Eu sei.
_ Você fala de um jeito tão... sei lá... tão simples, Melissa.
_ Agora né, porque o tanto que eu chorei que questionei... mãe foi uma coisa assim que eu não sei definir até hoje, mas que de alguma forma eu acreditava.
_ Como assim?
_ Eu me lembro perfeitamente do que conversamos na noite em que você me contou que tudo aconteceu entre vocês três, a traição, a agressão, o fim. Não vou dizer que o que ele fez é justificável, não é. Mas explica. Enfim... ele pagou por isso e nada o impedia de ter uma nova vida, seguir um novo caminho... -eu buscava as melhores palavras para quê minha mãe entendesse o que eu queria dizer e ela escutava cada uma delas, atenta ao que eu dizia.- ... foi uma puta coincidência eu me apaixonar por ele, e quando ele soube que eu estava ligada a vocês correu de mim. -dei de ombros.- Minha bronca maior foi não aceitar que você sendo sempre tão cabeça aberta não aceitasse que ele poderia ter mudado e não me deixou na época dar uma explicação para o que aconteceu. Precisou um acidente pra isso mudar, para as coisas começarem a voltar ao que era e chegar até aqui. -ela estava se segurando a todo instante para não chorar.- A questão é que eu superei essa parte da minha vida, acho que você e meu pai deveriam ter feito o mesmo e não deixar que esse fantasma abalasse a relação dos dois. -ela assentiu, fechou os olhos e se permitiu chorar. Não tive outra reação se não lhe dar um abraço forte, mas bem apertado mesmo e dizer com todas as letras que eu a amava muito.
_ Eu também amo você. -beijou meu rosto e se afastou, secando as lágrimas.- Você cresceu tanto.
_ Precisava, né mãe? -sorri.- Promete que vai ficar bem?
_ Por vocês, sim.
_ Assim não, mãe. -ri.- A festa da Malu é amanhã e vocês dois nesse climão?
_ Já enfrentamos a imprensa em crises piores que essa.
_ É, mas se trata de uma festa de família e vocês estarão juntos o tempo inteiro. Não faça disso um martírio, por favor.
_ Está tarde, amanhã quem sabe a gente conversa não é?
_ Já entendi que a senhora quer ficar sozinha, mas pensa no que eu te disse tá? -me coloquei de pé, beijei sua testa e sai fechando a porta.
Ia voltar para o quarto, mas lembrei que estava com sede e desci. Thor dormia, as luzes apagadas e um som de violão ao fundo. Acendi a luz da cozinha, tomei água e depois de ir ao banheiro pensei em falar com o meu pai. Isso se ele estivesse afim.
Não queria forçar ninguém e nem me meter demais onde não havia sido convidada.
_ Ei. -coloquei a cabeça dentro do quarto.- Posso entrar?
_ Depende... -colocou o violão de lado e olhou sorrindo.- Vai me dar um abraço antes?
_ Hmm... dou ate mais que um. -falei entrando e fechando a porta, o abracei e deitei ao lado dele, que continuou sentado.
_ Sem sono?
_ Mais ou menos. -falei brincando com os dedos, rodeando pra falar e ele percebendo deu risada.
_ Fala vai...
_ Nada demais, estava com saudade. Vocês chegaram quietinhos, não foram nem dar um oi para os meus amigos da faculdade, pro Leo.
_ Sabe como são as viagens, né? Chego querendo cama.
_ Hmm... mesmo depois de descansar por mais de uma semana?
_ Você não tem jeito, dona Melissa.
_ O que? -perguntei rindo.
_ O que você tá querendo hein?
_ Saber como foi a viagem, como está a família em Campo Grande... essas coisas, pai.
A ideia pareceu funcionar. Conseguimos desenrolar um assunto daqueles, porque se tinha uma coisa que meu pai gostava era de contar sobre suas viagens e mesmo sabendo que as vezes a rotina era cansativa ou que as coisas às vezes pareciam ser as mesmas, nós escutávamos.
Falamos sobre os parentes, sobre os lugares, o famoso Pantanal e a parte cômica da viagem (que sempre tem). E comentei sobre São Paulo também, da minha viagem com as meninas, a semana com os irmãos sem a Maria e sem minha mãe.
_ Viveram a base de fast food?
_ Ah, as vezes sim. Mas pedimos comida também, pai.
_ Comida japonesa não conta.
_ E mexicana (risos)?
_ Vocês três viu, nem falo nada. -riu.- O malacabado dormiu aqui? -perguntou enciumado, tentando parecer descontraído.
_ Em alguns dias sim, mas não todos.
_ E você dormiu lá?
_ Também, mas dormi mesmo. -falei sentindo minhas bochechas ficarem vermelhas, não curtia falar de sexo com o meu pai.
_ Sei que fizeram mais que isso, já tive sua idade. -piscou pra mim, me fazendo rir.
_ Podíamos pular essa parte, né? Por que não pergunta do Arthur? Posso ser a irmã mais velha que fofoca dos irmãos.
_ Começa contando quem foi pra boate ontem... -ele não estava brincando.- ... comemorar, né?
_ Bastante gente até. Daqui de casa, todo mundo, o Leo e a Ju. Até a Tacy com o Bruno, Nay com o Cacá. Henrique, Matheus, Carlos, Kevin, Caroline e Letícia.
_ Só?
_ Era um camarote, pai. E a festa dela é esse sábado, foi só uma coisinha pra não passar em branco.
_ Coisinha? Lá é openbar você sabia?
_ Maria Luísa não bebeu, eu vi.
_ E as amigas dela?
_ Pai, ninguém passou mal. Estávamos de olho.
_ Tava mesmo? Maria Luísa não ficou de agarramento com ninguém não né?
_ Pai, ela beijou sim... e isso é normal.
_ Normal? E sua mãe ainda diz que confia.
_ Você tem uma visão muito errada de não ter confiança, pai. Não é porque gostamos de sair e beijar na boca que estamos escondendo algo.
_ Eu conheço a noite, sua mãe até melhor que eu.
_ E daí? Quando foi que mentimos pra vocês? -ele me olhou e eu ri.- Sobre coisa séria, pai.
_ Você escondeu um namoro, um namoro com o ex namorado da sua mãe. E ela ainda diz que confia, que não prende vocês para não fazerem escondido.
_ De novo esse assunto? Ele não é passado pra você não?
_ Pra você é?
_ Sim.
_ Hm.
_ Pai, achei muita sacanagem jogar isso na cara da minha mãe.
_ Ela já foi te falar?
_ Não, foi eu quem perguntei e nós conversamos e conversamos muito. Tive a oportunidade de dizer muitas coisas, coisas que em anos atrás eu não pensava e não teria a mesma escolha de palavras. -ele ia dizer algo, mas pedi para que me deixasse falar.- Temos visões muito muito diferentes sobre o que aconteceu, mas de um modo geral? Passou.
_ Simplesmente, passou?
_ Pra mim sim. Eu deixei lá trás, chorei muito, na época me senti incompreendida e várias outras coisas... mas isso só serviu para nos dividir, nos afastar, desconstruir o laço que tínhamos desde quando eu era pequena...
_ E passou?
_ Passou! Não tem sentido voltar nisso, ainda mais agora que anos de se passaram, novas histórias foram construídas e que voltamos ao que éramos. -ele respirou fundo, concordou comigo.- Eu superei essa fase, pai. Você e minha mãe deveriam se conversar e fazer o mesmo.
_ Você tem razão.
_ A mãe me disse a mesma coisa. -ele sorriu.- Rasgue essa página, vai. Façam as pazes, não deixem que isso interfira no bom relacionamento de vocês dois. Me dói ver minha mãe triste e o senhor distante e os dois fingindo que tudo está bem, que tudo está as mil maravilhas.
_ Tá me dando um esporro?
_ Tô, você pegou pesado. É um assunto que ainda mexe com ela.
_ Eu sei, me desculpei por isso.
_ Foi sincero, pai? -ele ficou pensando, pensando e me deu um beijo na testa.- Vou subir, tá? -levantei da cama e sai do quarto, quis comemorar a "missão cumprida", mas meu pai me chamou.- Oi.
_ Obrigado.
_ As vezes os pais também precisam de um puxão de orelha, sabia? -ele fez uma careta e deu risada.- Tchau.
_ Durma com Deus.
_ Amém. -e subi levando a bolinha de pêlos que estava resmungando na caminha.- Ei, nada de bagunça no meu quarto hein. -ele baixou as orelhinhas e foi se aninhando no meu tapete.
_ Mê?
_ Oi, pequena.
_ Eu quero fazer xixi, me leva?
Ela veio toda preguiçosa e no colo ainda, um bebezão. Fomos ao banheiro e voltamos logo para a cama, nos deitamos e dormimos.
Narrado por Fernanda
Melissa fechou a porta e saiu do quarto me deixando sozinha com os meus pensamentos e reflexões, ela cresceu. Cresceu e amadureceu muito.
Suas palavras me deixaram mais que pensativa, me fizeram enxergar um lado de toda essa história que eu não tinha pensado. Talvez eu realmente precisasse disso, precisasse que minha filha mais velha desse esse chacoalhão e falasse "acorda, mãe".
Perdi o sono que achei que tinha, deitei e rolei de um lado para o outro da cama e nada. Decidi então fazer como nos velhos tempos e me levantei para preparar um banho na banheira. Sais relaxantes, água bem quente... deixei as torneiras abertas enquanto me despia, prendi os cabelos e liguei o som baixinho, tocando músicas da minha playlist favorita. Fechei a torneira, entrei na água e ao me deitar apenas com a cabeça para fora fechei os olhos e me perdi no tempo.
Na verdade eu me permiti reviver em memórias tudo o que tinha acontecido, rapidamente, mas revivi. Nosso encontro na faculdade, assumir nosso relacionamento, a primeira vez em que o trai... não foi difícil admitir que eu gostei, talvez a imaturidade na época não me deixou pensar nas consequências e davam aquela sensação gostosa de pura adrenalina. Mas o fim disse foi triste! E não preciso dizer o "por quê?". Levei um susto, fiquei surpresa e completamente louca quando vi que minha filha estava apaixonada por ele, eu não conseguia colocar na minha cabeça que o tempo havia passado, que ele poderia ter mudado e que aquilo não passava de uma vingança, um plano bem arquitetado. Tive medo.
Mas Melissa tinha razão, eu não levei a sério o amor que ele dizia sentir por mim e nunca o amei da maneira que eu hoje assumo amar o meu marido. Foi aquela coisa louca, intensa e sei lá qual outro nome daria. Tanto tempo passou, mas a pedra nunca havido posta no assunto.
_ Luan? -abri os olhos ao escutar passos pelo quarto e julgando por estar tarde, só poderia ser ele.- É você? -me sentei na banheira e ele entrou no cômodo.
_ Não consegui dormir e me parece que você também não, né?
_ Tive muito o que pensar. -disse brincando com a espuma.- Melissa está certa, precisamos acabar com isso não é?
_ Posso começar me desculpando. -falou se sentando.- Foi idiotice da minha parte.
_ Foi mesmo, mas foi um erro nosso não encerrar esse assunto no tempo em que aconteceu.
_ E precisou nossa filha mais velha nos dizer isso. -sorriu sem mostrar os dentes.- Odeio te ver triste, e me sinto ainda pior quando o motivo foi eu quem causou.
_ Não se culpe tanto, eu só... olha, já passou. -respirei fundo e ele sorriu de lado.
_ Eu te amo, tá? -ele inclinou para me dar um selinho e acabou na água juntomigo.- Você me molhou inteiro.
_ Não molhei não. -o segurei pelo pescoço e virei ficando por cima dele.- Já deu desse assunto, tá bom?
_ Tudo bem, mas você me desculpa? -pediu todo sem jeito, me olhando nos olhos.
_ Sim, eu te amo. -ele segurou minha cintura e eu espalmei minhas mãos em seu peito, debruçando mais o corpo sobre o dele e dando selinhos em sua boca.- E amo muito... -nos beijamos.- ...mesmo você sendo um idiota as vezes. -mordi seus lábios.- O meu idiota. -arranhei seu peito.
_ O que você quiser minha linda.
_ Não me chama assim, vai. -o empurrei.
_ Por que amor? -perguntou alisando minhas costas, beijando meu pescoço.- Tão linda e minha. -beijou meu queixo e em seguida me deu um beijo na boca, beijo quente e que em segundos me deixou excitada. Gemi.- Gostosa.
_ Uhuum... -desci minha mão por sua barriga e coloquei por dentro da calça sentindo seu pau querendo dar sinal de vida.
_ Porra, você é rápida... -ofegou.
_ Não gosto de perder tempo. -o soltei e encaixei meu corpo no dele, sorrindo enquanto o beijava.
_ Cheia de espuma...
_ Toda molhada. -sussurrei no ouvido dele, rindo.- Bem sugestiva (risos)...
_ Mas sabe que eu gosto. -deslizou a mão apalpando minha bunda e causando uma sensação maravilhosa quando encontrou meu sexo.- Assim é sacanagem.
_ Você está muito vestido, isso sim é uma sacanagem Luan.
_ (riu) Tá me provocando?
_ Tô conseguindo. -respondi rebolando no colo dele que já estava bem animadinho.- Tira logo essa bermuda, Luan. -ele não tirou a bermuda, mas o pau sim e não demorou para que estivesse dentro de mim.- Ah, que delícia. -fechei os olhos.
_ Quente...
_ Pegando fogo. -o beijei outra vez e voltei a rebolar, sentindo toda sua extensão dentro de mim. Fazíamos amor de uma maneira intensa, voraz e marcados pelo desejo.
Aquela banheira ficou pequena para o que fizemos naquela madrugada, ainda mais depois que a esvaziamos e fomos para o chuveiro com a desculpa de tirarmos a espuma. Chupei ele outra vez, sentindo o jato de água no rosto e suas mãos segurando meus cabelos com firmeza até gozar.
_ Ainda estou duro.
_ Isso foi um convite? -pulei no colo dele que me segurou pelas coxas e encostou na parede do box.- Que gelo!
_ Daqui uns segundos você nem sente. -e meteu com força, mordi seu pescoço para abafar o grito, segurando seus ombros com fincando bem as unhas a cada bombada rápida e funda.- Isso... você nunca me decepciona. -deu um tapa com força, revirei os olhos querendo mais.
_ Eu quem deveria dizer isso.
_ Ah, Fernanda...
Se o chuveiro desse quarto falasse... teria inúmeras histórias sobre nós dois. Ali tudo era ainda mais radical, no improviso. Eu adorava!
_ Minhas pernas ainda estão moles. -falei abraçando seu pescoço enquanto ele me segurava pela cintura.
_ Safadinha.
_ Eu tô com fome.
_ Tô ouvindo mesmo sua barriga roncar.
_ Desnecessário, você.
_ Sincero. -ele me soltou e eu terminei o banho, enrolei a toalha no corpo e sai.
Entrei no closet e optei por um pijama, sem sutiã ou calcinha. Passei o hidratante corporal e sai enrolando a toalha na cabeça.
_ Luan, eu tô descendo.
_ Pra que?
_ Vou comer alguma coisa, vai querer?
_ Não, tô de boa.
_ Tá bom.
Desci para a cozinha e preparei um lanche acompanhado de um copo grande refrigerante. Sentei na bancada mesmo e quando ia começar a comer, Luan apareceu pedindo um pedaço.
_ Você disse que não queria, eu não vou dividir.
_ Nossa amor, pra que isso cara?
_ Tô com fome, sai fora.
_ Depois quer ensinar a Leninha dividir, nem você divide.
_ Porque você é folgado. -mostrei a língua.
_ Folgado é esse seu shorts e essa blusinha mostrando todo seu peito.
_ Meu corpo, minhas regras. -ri.
_ Nosso corpo, nossas regras. Porque a mulher é minha. -brincou me abraçando e quando pensei que ele fosse me beijar, Luan pegou meu lanche e correu pra sala.- Tá muito bom isso aqui hein...
_ Ótimo, eu que fiz.
_ Tudo o que você faz é gostoso.
_ Ah, com certeza vida. -ri.- Tô subindo...
_ Espera eu vai neguinha...
_ Não deveria, você roubou minha comida, seu gordo.
_ Dei uma engordadinha nessa viagem mesmo, tá sumindo até meu tanquinho.
_ Hm... e você tinha um é?
_ Palhaça. -fez bico.
_ Me leva no cavalinho, amor? -pedi e ele levou, chegamos no quarto e nos deitamos depois de apagarmos as luzes.- Bom dia.
_ Pra você também minha linda. -e riu antes de fechar os olhos e dormir, coisa que fiz em seguida.
~.~
Migas, que capítulo foi esse? Hein? Achei babado atrás de babado. O que acharam?
Que capítulo foi esse?! Melissa preciso de conselhos assim
ResponderExcluirAté eu tô querendo menina! KKKKK
ExcluirSei nem o que falar desse capítulo 😍😍
ResponderExcluirEu amei, teve os momentos mais tensos, mas tudo acabou bem. ❤️
ExcluirArthur, Melissa e Helena tem quantos anos ja? Nessa passagem de tempo ainda nao peguei
ResponderExcluirArthur completa 17, Melissa tem 23 ainda e a Helena 6.
ExcluirMaravilhoso esse capítulo Melissa amadura, vai casar e dando concelho para os pais coisa mais linda 😍😍 continua amore (já falei que amo sua fic né)
ResponderExcluirAmei também mulher rs. Corre que tem mais!
ExcluirSim, amamos essa fic.
Amore cade tu 😂😂😂
ResponderExcluirAchou 😂
ExcluirCadê vc amiga não vai escrever mais já estou com saudades 😊
ResponderExcluirAmiga voltei, estava enrolada pra organizar as ideias. Mas estamos aí!
ExcluirSumiu ��
ResponderExcluirSerá? 🤷🏿😂😂🤦🏿
ExcluirCadê cade cade cade cade voce sumiu e eu estou aqui morrendo de saudades de ler 😭😭😭😭😭
ResponderExcluirÔ judiação, odeio sumir assim. Me perdoa e não desiste de mim, voltei Jhu!
ExcluirMulher de Deus volta logo 🙏🙏🙏
ResponderExcluirHello hello!
ExcluirMulher volta logooo...super amo essa fic bjinn
ResponderExcluirWhatsApp 011962883492
Thammy Santana
Voltei xuxu e mandei msg no whats também, bjo.
ExcluirQue demora, não dá nenhuma satisfação.
ResponderExcluirNem tenho como me defender, sorry. Voltei, corre!
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