Capítulo 199 - Parte III

Narrado por Fernanda 

  Dalila e eu fomos buscar Melissa e as amigas no aeroporto na volta de Noronha, passamos algumas horas esperando até que o voo delas aterrissou e uns quinze minutos depois as bonitas surgiram.

_ Mãe! -nos abraçamos.- Oi tia Lila.

_ Quanto tempo né, mocinha!?

_ Muito. Mas, foi maravilhoso. -disse com um sorriso de orelha a orelha, olhei pra Dalila e rimos.-

_ Tia Fê, a viagem foi muito boa. Seria melhor se você tivesse ido... -Taciane falou e Melissa veio desconversando, não falei nada. Esperamos as bagagens e fomos embora. Deixei Taciane e Nayara em casa, Lila na dela e seguimos Melissa e eu para a nossa casa. Voltamos comentando como tinham sido nossos dias de "passeio".

  Chegando em casa ela falou com o pai, os irmãos e subiu para tomar um banho e descansar. E eu fiz o mesmo, sentei no sofá e respirei fundo sentindo um peso enorme sair das minhas costas. Afinal minha filha estava bem, estava em casa e longe, bem longe daquele homem completamente psicopata.

_ Mais relaxada?

_ Muito. Precisava dessa certeza, dessa segurança.

_ Claro... -nos beijamos.- O que acha de sairmos hoje? Um jantar em família?

_ Eu escolho! -Arthur se levantou.- Paris 6.

_ Por que o P6? Queria outro pai...

_ Você escolheu da outra vez e não foi nada de diferente. E lá tem muita variedade de comida.

_ Paris 6, então? Eu topo. -dizia Melissa descendo a escada.-

_ Você não ia descansar?

_ De estômago vazio não rola, mãe. Que horas nós vamos?

_ Vou ligar pra sua vó e você liga para a sua madrinha, vamos todos juntos.

_ Tá. Vou ligar. -e saiu.-

_ E vocês, banho... agora!

_ Pega minha roupa pra mim, mãe?

_ Bermuda, né?

_ Não quero bermuda branca, fica marcando tudo, cara.

_ Só mulher pode usar trajes inferiores branco.

_ Pra eu te mandar ir a merda não vai demorar...

_ Sem estresse amor, relaxa...

_ Acredite, eu estou. Vamos, já lá pra cima...

_ Não vou tomar banho com elas duas, sou um homem já.

_ Não tem nem pêlo no suvaco e quer pensar que é gente grande.

_ Mas tenho no saco, quer ver?

_ Arthur!

_ Ela que começou.

_ Melissa...

_ Até disso eu estava com saudades, aí aí meu deus. -se afastou um pouco assim que a tia atendeu.-

_ Meninas... vamos subindo.

_ Não queru toma banho. Só covar meus dentes, mamãe.

_ Escovar os dentes e tomar banho pra não ficar fedida.

_ Não queru não.

_ Helena, você vai tomar banho sim senhora. Vamos... -subi com as duas e as deixei no chuveiro enquanto arrumava suas roupas, corri no quarto do Art e fiz o mesmo.

(...)

  Escolhemos o Paris 6 mesmo, fomos no carro do Luan. Fomos muito bem recepcionados, seguimos para a maior mesa porque estávamos em um número grande de pessoas e chegou a parte difícil... escolher algo do cardápio.

_ Mamãe, queru socolate.

_ Primeiro a gente tem que comer, né filha...

_ Tatinha...

_ Comida... só precisamos esperar a vovó chegar meu anjo.

_ Vovó Malizete?

_ É e a tia Bru também.

_ Tá... Art! 

_ Oi Leninha, vem aqui no colo... -ela nem pensou, se jogou no colo dele e ficou quietinha. Maria Luísa estava com fome e pedia uma sobremesa, Melissa não tirava a cara do celular.- 

_ Papo está bom, né?

_ Conversando com um amigo, mãe.

_ Você e essas amizades. -Luan falou revirando os olhos e pegando novamente o menu.-

_ Conheceu alguém de diferente na viagem? -perguntei e ela sem perceber abriu um enorme sorriso.- Hm... vejo que sim.

_ Aí mãe, ele é um lindo. -voltou a sorrir ainda mais empolgada.- E não foi bem conhecer... eu já o conhecia, a viagem foi um... reencontro. -Luan olhou torto e ela deu risada.- Pai...

_ Não quero saber, você não tem idade pra essas coisas. -Luan sempre que dizia isso deixava Melissa vermelha de vergonha e hoje isso não aconteceu.-

_ Vou querer saber de tudo depois...

_ Em casa, mãe.

  Meus sogros chegaram, meus cunhados também e tivemos uma noite agradável em família. Voltamos pra casa exaustos, coloquei pijama nas crianças e as coloquei na cama. Desci para a cozinha, bebi água e depois de fechar toda a casa e apagar as luzes, subi.

_ O que foi?

_ Nada.

_ Amor, eu te conheço esqueceu?

_ Melissa voltou muito atiradinha dessa viagem, alguma ela aprontou.

_ Não amor. Acha mesmo que ela aprontaria?

_ Sim, eu tenho certeza.

_ Pode ter ficado com alguém, mas não feito o que você e eu estamos pensando. -falei tranquila.-

_ Como você pode ter tanta certeza? Você nem estava lá Fernanda... não tenta defender.

_ Você acha que ela fez e já está brigando comigo...

_ Quem me encheu o saco pra deixar ela viajar foi você, não foi?

_ Vai dormir, Luan. Seu mal é sono... -o empurrei na cama e entrei no closet.

Dias mais tarde {...}

  Passado o aniversário da Maria Luísa as crianças voltaram às aulas, exceto Melissa que terminou o médio e ainda não começou com as aulas de direito na faculdade. Então ficávamos as três em casa, de onde eu conseguia perfeitamente dirigir a empresa.

_ Leninha, a mamãe está ocupada... senta deita com a Melissa pra você tomar seu suco?

_ Não queru! -Helena está amando dizer "Não queru!" pra tudo, e tinha hora que me irritava... mas ela é só uma criança, nisso que eu pensava.-

_ Daqui a pouco a mamãe vai lá com vocês...

_ Nãoo.

_ Então senta aí e fica quietinha.

_ Tá...

  Estava redigindo um dos relatórios daquele começo de ano, preparando para a reunião com a diretoria da CDM e sócios. Helena estava brincando com o copo e foi questão de segundos para ele virar e cair todo o liquido no notebook. Eu quis gritar, mas a única coisa que eu fiz foi salvar o que feito e levantar tirando-a do meu colo.

_ Ih mãe, o que foi que tá com essa cara?

_ Helena derrubou todo o suco no meu notebook, agora...

_ Quer o meu emprestado? Ele está lá no quarto, estava terminando de baixar as fotos da viagem. Larguei lá ligado.

_ Tem senha?

_ Meu nome em letras minusculas.

_ Só "melissa"?

_ "melissamsantana" não é difícil, mãe.

_ Vou trocar sua irmã e vou pra lá...

_ Deixa que eu troco, aí a gente aproveita e toma um banho muito gostoso na sua banheira.

_ Não queru, queru a mamãe!

_ A mamãe não vai te dar doce...

_ Deixa. -balançou os ombros fazendo bico.-

_ Tá afiadinha hein Leninha, vem logo vai. -a pegou do meu colo e foi um guerra, Helena fez manha até não querer mais e subiu pro quarto chorando. Voltei as escritório, limpei minha mesa e salvei o que pude dos documentos que haviam sido impressos e subi para pegar o notebook da Melissa.

O levei para a minha sala mesmo com a câmera baixando as fotos, voltei a trabalhar e começar praticamente do zero para ir checando aos poucos e não esquecer de nada.

... depois de alguns minutos...

_ Mãe, vou levar a Helena pra brincar com a Ceci. 

_ O Leo está em casa, é?

_ Tá sim. E daqui a pouco a gente volta... é só pra ela se distrair e deixar a senhora trabalhar em paz.

_ Se comportem, as duas. -ela assentiu e saíram.

  Fiz uma pausa para um lanche e quando voltei apareceu na tela a mensagem de que as fotos e videos haviam sido copiados para uma pasta específica. Como estava comendo, abri para ver como tinha sido. Eram mais de duzentas fotos, fora os videos.

  E sim, sou uma mãe muito curiosa e comecei a passar uma por uma, elas no avião, desembarcando e por aí, as fotos se seguiam. E com poucas fotos o meu sorriso foi se desconstruindo, as lágrimas rolavam sem serem impedidas. Meu peito ardia, meu desespero estava tomando conta de mim por inteira. Era a minha filha ali com um criminoso, nojento, sem estrutura alguma. Ela estava com o Murilo. Abraçados, se beijando, brincando na água, fazendo poses, no espelho do quarto... como casal e aquilo foi demais pra mim.

  Recostei na cadeira e fechei os olhos, tentava raciocinar, mas tudo o que me vinha à mente era quando ela chegou em casa com a história do tal professor. Mas como meu deus!? Como eu pude ser tão burra, tão cega, tão irresponsável? Tudo aconteceu exatamente debaixo do meu nariz!

  O que me doeu mais, foi ver minha filha sorrir abertamente ao lado de um desconhecido, ver um vídeo dos dois em um beijo apaixonado. Não! NÃO! Não posso conviver com isso... Não vou! Murilo não vai fazer com ela o que fez comigo, não vou deixar.

_ Mãe? Por que você está chorando? Meu pai está bem? -abri os olhos e chorava mais ainda, levantei e me recompus da maneira que pude para lhe perguntar.-

_ Melissa... fala pra mim que você não cometeu a loucura de viajar pro outro lado do Brasil ao lado de um estranho!

_ Mãe do que você tá falando?

_ CHEGA! EU CANSEI DE MENTIRAS! -gritei assustando-a.- VOCÊ ME FEZ DE IDIOTA, DE BURRA!

_ Mãe... não fala assim comigo... eu não... eu não...

_ Eu quero ouvir de você... -sussurrei.- ...quero que você me diga quem é ele.

_ Mãe... eu posso explicar!

_ EXPLICAR O QUE? QUE VOCÊ FICOU LOUCA? SE COLOCOU EM UMA SITUAÇÃO DE PERIGO A TROCO DE NADA? EM QUE MUNDO VOCÊ VIVE?

_ Louca? Louca por me interessar por um homem mais velho que eu? Eu que te pergunto... em que mundo você vive?

_ MELISSA! EU SÓ QUERO SABER O NOME DELE... QUEM É O ANDRADE, DE VERDADE?

_ O nome dele é Murilo. -senti uma pontada no peito.- Murilo Andrade. Ele foi meu professor de educação física desde o segundo ano e eu me... me apaixonei por ele.

_ Melissa, depois de tudo o que eu te contei... tudo que eu te disse... 

_ Existem milhares de Murilo no mundo inteiro e você quer me fazer acreditar que foi ele o seu namorado de mais de dez anos atrás? Para de ser louca!

_ Não estou sendo louca, estou sendo realista. Ele é um monstro, ele é um canalha, um bruto, um criminoso... você com essa atitude de ser rebelde ultrapassou todos os limites.

_ Agora sua dor é a minha "rebeldia"? -ironizou.- Mãe, eles não são a mesma pessoa e mesmo que fosse pra mim não faz a menor diferença!

_ COMO NÃO? VOCÊ NÃO PERCEBE?

_ Não perceber? Engraçado, né?

_ Melissa, ele deve ter o que? 42 anos...

_ 41.

_ São 24 anos de diferença... ele te viu crescer!

_ Poderiam ser 60! A ERRADA FOI VOCÊ!

_ Eu?

_ QUEM TEVE ATITUDE DE UMA PIRANHA, DE UMA VAGABUNDA QUE NÃO SE SATISFEZ COM UM HOMEM SÓ... FOI VOCÊ! -não me controlei e dei um tapa em seu rosto.- Você... você...

_ Você não sabe do que está dizendo!

_ E não faço questão de saber... -colocou a mão onde tinha acertado o tapa e saiu do escritorio correndo, assustada com a minha reação.-

_ QUE DROGA! -peguei o primeiro vaso que vi e arremessei na parede.- VOCÊ NÃO VAI TIRAR A MINHA FILHA DE MIM... não vai... você não pode. -falava alto remoendo cada acontecimento na minha cabeça. Ela contando do professor, depois insistindo nessa viagem... fora as vezes que ela havia saído com as amigas.

  Eu estava com a sensação de que tudo era mentira, que nada do que eu passei a ela serviu de ensinamento. Meu choro era de angústia, de desespero, medo...

_ ELA É UMA LOUCA! LOUCA!

_ MELISSA, NÃO FALA ASSIM DA SUA MÃE!

_ AGORA ELA É MINHA MÃE? QUAL É A MÃE QUE BATE NA CARA DE UMA FILHA? ME DIZ? 

_ SE ELA BATEU FOI COM UM MOTIVO.

_ DELA TER SIDO UMA GALINHA. SÓ QUE DISSO NINGUÉM TEM CULPA... FORAM AS ESCOLHAS QUE ELA FEZ E TIVERAM CONSEQUÊNCIAS. TUDO BEM... NÃO JUSTIFICA O QUE ACONTECEU, MAS EXPLICA. 

_ DO QUE VOCÊ ESTÁ FALANDO? CADÊ SUA MÃE?

_ SUA MULHER ESTÁ TRANCADA NO ESCRITÓRIO. -sai e não demorei a chegar na sala, Luan estava parado no meio da sala enquanto Melissa estava na metade da escada.-

_ Fernanda, meu amor... você... -o ignorei.-

_ Me dói muito saber que você pensa assim, pensa dessa forma e não dá a mínima. 

_ Você não pareceu se importar quando enfiou a mão na minha cara. Na minha cara... eu sempre te respeitei! SEMPRE! E agora você vem como se eu tivesse dois anos de idade?

_ Eu sei que eu me descontrolei, mas jamais vou admitir que você repita o que disse. Pois a minha atitude será a mesma.

_ Então você vai continuar me batendo, vai continuar me espancando. Porque dele eu não abro mão. Vocês não queriam tanto saber... que ótimo. Agora já sabem...

_ Sabem do que minha nossa senhora?

_ Pai, eu conheci o Murilo de quem tanto ela disse uma vez... -Luan ficou mudo de repente.- ...ele foi o meu professor desde o segundo ano do ensino médio, e nos envolvemos. -ele não dizia nada.- Eu estou com ele e não vejo problema nenhum nisso.

_ Melissa, esse homem é um criminoso. Você está ficando louca?

_ Louca? Muitas pessoas mudam, porque ele não possa ter mudado?

_ Porque ele ficou mais de um ano preso como um marginal depois do que fez com a sua mãe... -voltei a chorar.- ...ele saiu da cadeia, procurou por ela, sequestrou... estuprou. Melissa!

_ Pai, para!

_ Você se acha muito adulta não é mesmo? Se acha muito adulta e não PERCEBE que ele está te usando para nos atingir, para se vingar... 

_ ISSO É MENTIRA! ELE NÃO É ASSIM... ELE ME...

_ Ele te ama? Foi que ele... -sua filha pareceu cair e ele foi ficando vermelho.- Não me diz que...

_ Ele foi pra Noronha sim e ficamos juntos a viagem inteira!

_ Ela está obscecada por esse canalha, Luan faz alguma coisa...

_ CHEGA! AS DUAS! EU PRECISO PENSAR NO QUE FAZER.

_ VOCÊ NÃO TEM QUE FAZER NADA, ESSA ESCOLHA CABE SOMENTE A MIM. E EU TOMEI A MINHA DECISÃO. -disse nos dando as costas e saindo correndo. Cai de joelhos no chão chorando amargamente. Senti Luan se ajoelhar comigo e me abraçar, chorando. Meu Deus, como as coisas chegaram nesse ponto? Minha família que ia tão bem agora está se desestruturando? Minha filha! A minha filha mais velha e o homem que acabou com a minha vida. Não pode ser, eu não vou suportar! Não vou me perdoar! SOCORRO! Por que ninguém me ajuda? Porque me sinto tão fraca e tão atingida por essas palavras? Meu castelo se desfez e eu não fazia ideia de como refazê-lo.

~.~

  Os ânimos estão daquele jeito, né? Fernanda sem acreditar, Luan ainda não disse "muita" coisa. E Melissa está completamente cega de paixão... e a pergunta que não ser calar.. Murilo está realmente mudado ou está planejando muito bem sua vingança? Façam suas apostas! Haha ❤