Capítulo 62

Narrado por Ester
  Vida boa era a minha e sim ficaria ainda melhor. Passagens compradas, passaportes com o visto garantido e malas prontas para ir embora e não voltar nunca mais. É o que eu realmente espero.
  As pessoas amam me chamar de oportunista, e sim eu sou. Aproveito todas as oportunidades de subir na vida à qualquer custo e pode me julgar à vontade que eu não ligo. Sempre fui assim e não vai ser agora que farei diferente. Tá certo que eu usei o golpe da barriga, mas foi preciso. E mais, eu não estava pondo fé que daria certo... Apenas aconteceu e um sou tão filha da puta que deu super certo e hoje eu estou com a minha conta bancária cheia de dinheiro.
  Foram 3 anos eu tendo que aguentar uma vida que eu não queria pra mim e agora eu tinha a oportunidade de mudar isso.
   Deixei o Luan curtir bem o fim do ano, viagem de férias, aniversário da mãe dele, aniversário dele e agora estava na hora de trazer um pouco mais de ação pra vida monótona dele e da família.
   Na última semana de março, esperei dar o horário de buscar a Melissa na escola e fui buscá-la, passamos o dia juntas até brinquei de casinha, sujei minha cara de tinta guache e assim que ela caiu no sono eu fui tomar um banho e depois de pronta eu desci e encontrei minha mãe na cozinha com uma cara nada boa. A velha estava querendo me engolir.

_ Eu queria entender o que você tem na cabeça.
_ Vontade de crescer!
_ Crescer em cima dos outros? Passando por cima dos outros? Ester, eu não te criei pra isso.
_ O mesmo discurso de sempre, nossa comovente mas eu não estou afim.
_ Você vai estragar a infância e uma vida inteira de uma criança inocente, uma criança que não teve culpa das suas escolhas.
_ Aí não vem me encher! Eu já decidi! Eu vou embora sim, vou pra bem longe, pra fora do país e que se dane todo mundo. O que eu queria eu consegui, pelo menos essa criança me serviu de alguma coisa.
_ Ela é só um bebê! Você não ama sua própria filha?
_ Amo. Por amar que estou fazendo isso! Agora me poupe do seu discurso que eu tenho que fazer uma coisa muito importante.
_ Você é louca! Doente!
_ Já acabou? -falei fechando a geladeira e dando as costas.-

   E depois de voltar pro quarto e acertar tudo mesmo eu fui dormir que minha manhã seguinte seria demais!

Narrado por Luan
  Estava fazendo show no Rio Grande do Norte, muito bom cara e o calor daqui era demais. Tinha levado Fernanda comigo e tivemos noites maravilhosas, foi bom demais!
  Agora que passou duas semanas do meu aniversário, o namoro não era tanta novidade assim, mas toda entrevista que eu fazia eles perguntavam da Fernanda e esses dias em que ela esteve comigo as perguntas eram feitas diretamente pra ela cara. E isso me deixava um pouco receoso sim, porque ela não tinha trava na língua e respondia aquilo que queria e já era, acabou.

_ Fernanda, o que dizer aos fãs que criticam esse namoro de vocês? Isso te incomoda?
_ Aceita que dói menos. Não me incomoda, porque assim, eu tô feliz com o Luan. Somos adultos, pagamos nossas contas e por mais que eu seja a namorada, ele não vai mudar com elas por conta disso. E nem tem o porque.
_ Já aconteceu vocês juntos passarem por uma situação constrangedora?
_ Ainda não, mas do jeito que as coisas andam isso não vai demorar. -rimos.-
_ Sabemos que seu pai e Luan são sócios, isso interfere?
_ Não. Trabalho é trabalho e isso não muda, se chama profissionalismo...

  Nunca vi uma entrevista demorar tanto como aquela e foram perguntas muito curtas, que ela disparou feito metralhadora. Enfim, conseguimos terminar depois que eu finalizei e voltamos pro hotel... Dormimos, ou quase isso. Assim que nos deitamos, agora pra dormir meu celular começou a tocar insistentemente e quando olhei era quase oito da manhã. Mas por ser minha mãe eu já atendi preocupado. E fiquei mais ainda quando desliguei. O que não deixou Fernanda entender porque eu levantei vestindo a primeira roupa que vi na minha frente e saí do quarto indo atrás da Arleyde, do Roberval.

_ Eu preciso ir pra São Paulo, agora!
_ Mas o piloto...
_ É urgente! Antes que a louca da Ester faça uma loucura.
_ Fala com calma!
_ Ela chegou lá cheia de malas dizendo que está indo embora pra fora do país e está com a minha filha!
_ Quer se acalmar!
_ Não quero porra. Eu quero ir logo!

  Voltei pro quarto e fui fechando malas. Vesti uma roupa mais confortável e normal, dentro de quinze minutos estávamos indo rumo ao aeroporto e todos em silêncio.
  Nunca vi uma viagem demorar tanto, não mesmo. Chegando em São Paulo voei pra casa e quando desci do carro bufando e entrei encontrei-a sentada de pernas cruzadas.

_ Tá ficando louca?
_ Nossa, anda estressado hein gato. Namorada não está sabendo aliviar dua tensão? -riu.- Esperava mais de você, Fernanda!
_ Cala sua boca!
_ Bom, vim me despedir. Tenho o sonho de ser livre e não vai ser uma criança que irá me prender. Por isso estou indo embora pra nunca mais voltar!
_ Está querendo levar minha filha de mim?
_ Não! A Melissa fica!
_ Como assim fica?
_ Você ama muito sua filha, certo? Então... Pode ficar com ela. -disse fria e se levantando.- As malas estão aqui, documentos... Tudo. -veio até mim.- Seja feliz nessa sua nova vida!
_ Você está abandonando uma criança? A sua filha?
_ Não é abandono, porque sei que ela estará bem e segura aqui.
_ Mãe! -Melissa veio do quarto com a carinha de quem tinha acabado de acordar mesmo.- Colo!
_ Você vai ficar com o papai hoje, tá? Dá um beijo aqui que a mamãe já está indo embora... -se abaixou e as duas se abraçaram, e ela se levantou outra vez.- Adeus!
_ Ester... Pra onde você vai.
_ Isso ninguém nunca vai saber, mas vou ficar bem viu. Fui! -ela pegou sua bolsa e passou rápido pela porta deixando à todos nós sem nada entender mesmo. Melissa quando viu que a mãe estava indo embora sem ela começou a chorar, não sei se pelo sono ou por já sentir o abandono, me sentei no sofá sem nada dizer e a peguei no colo, ninando-a e fazendo com que se acalmasse. Dizendo que estava tudo bem, quando na verdade eu não sabia se estava.

~.~

  Ester como sempre causando, e dessa vez não foi diferente. Agora, ela veio pra causar ainda mais e ir embora pra sempre (assim espero).