Capítulo 116

Narrado por Ester
  E quanto tempo se passou desde que eu sai do Brasil não é mesmo? Na verdade não foi tanto tempo assim, porém o suficiente para que eu refizesse minha vida bem, mais bem longe de todas aquelas pessoas. "Sim! Família, falsos amigos, fora os que eu usei de degraus pra ir subindo e chegar ao topo." Agradeço à todos (risos irônicos). Passei por muitos países, Ester Dias se tornou conhecida e fez parte das melhores campanhas internacionais, passando por países ricos, se relacionando profissionalmente com quem entende da coisa e tem nome. Se eu me arrependo? Arrependo sim, de não ter feito tudo isso antes. Se voltasse no tempo teria feito ainda melhor...
  Saí do Brasil direto pra Dubai, foi meu ponta pé inicial. Tive que movimentar minha conta no banco e fazer algumas compras para me destacar e deu tão certo que arrumei um namorado bem rico, consegui o que queria dele e terminei nosso namoro (ele me liga até hoje, affe).
  Mas agora dei uma pausa de desfiles, precisei fazer algumas fotos e cá estou eu em Orlando, na Flórida. Bom, eu não viria se a publicidade não fosse tão boa. Afinal, estamos falando de Disney World! Vai ser ótimo pra mim, eu só não esperava encontrar aqui justo aqui o passado que eu fiz questão de deixar pra trás e fingir que nunca existiu. Que eu mentalmente passei uma borracha e apaguei.
  Cheguei aqui no sábado, por volta de 19h da noite e já no aeroporto vi um homem muito parecido com o Luan, mas não dei bola. Ignorei. Aí quando foi domingo, de novo e agora estou eu diante dele e não estava sozinho, estava com a nossa filha e uma outra mulher, ou melhor a advogada sem sal.
  Fiquei o dia todo "seguindo-os" pra tentar ver minha filha de perto, tentar ao menos falar com ela, saber como ela estava e se ainda lembrava de mim que apesar de tudo sou a mãe dela. Mas, não tive coragem.   Esperei entardecer e num momento em que os vi sozinhos voltei a me aproximar, só que outra vez recuei. Estava indo embora, entrei num banheiro mais próximo dali e senti alguém segurar meu pulso. Gelei na hora, ainda sem saber quem era olhei pra trás e nossos olhares se cruzaram.

_ Solta meu pulso, Fernanda.
_ Pensei que estivesse enganada, mas que azar o meu... Saiu correndo por quê? Por que não foi em frente? Não falou com o Luan?
_ Eu não tenho nada pra falar com ele.
_ Não mesmo, se sentiria pior. Eu bem imagino que você deva estar desapontada. Até porque sumiu no mundo e ninguém se interessou em saber seu paradeiro. -riu.-
_ Onde quer chegar com isso?
_ Onde eu quero chegar? Quero saber o que te levou a se aproximar... Culpa? Ou saudade...
_ É algum crime eu querer saber da minha filha? Querer um abraço!?
_ Crime? Não nenhum, se você tivesse sido mãe de verdade e realmente se importasse com ela.
_ E eu me importo.
_ Importa? Que bela maneira de se importar, fugindo do país (palmas), bela "mãe" você né?
_ Foi melhor assim...
_ Melhor pra quem? À vontade que eu tenho é de socar sua cara toda vez que a Melissa me pergunta o por que da mãe dela ter ido embora, ou quando ela tem alguma lembrança sua e em seguida chora... Esse foi o melhor pra ela? Deixar sua filha de 3 anos e dizer que seguiria sua vida?
_ Você no meu lugar teria feito o mesmo.
_ Não. E sabe o por quê? Porque eu tenho caráter, coisa que você nunca teve...
_ Eu não podia simplesmente ficar ali e perder a única chance de crescer...
_ Assim como você não pode simplesmente aparecer e deixar a cabecinha dela ainda mais confusa, deixar ela pensar que você voltou pra vida dela sendo que não tem a intenção de ficar.
_ Eu tive os meus motivos, e não abandonei, deixei a Melissa com o pai dela.
_ Motivos? Ester, ninguém tem motivos pra abandonar um filho e sumir no mundo sem dar notícias... Uma única ligação e falar que ama. Pensou nisso?
_ Se eu te falar que pensei é mentira, mas agora que vi minha filha ali e tão perto eu quis me aproximar.
_ Pra que? Você teve a oportunidade de conviver com uma criança amorosa, uma criança que mesmo com todos os seus defeitos ela te enxergava como heroína... E não soube valorizar isso, por causa de dinheiro foi capaz de desaparecer no mundo.
_ Você não me entende.
_ Nem nunca vou entender! Olha, a Melissa está muito bem sem você, muito bem mesmo. Foi difícil que ela se adaptasse, e não vai ser você que vai destruir esse laço.
_ Fernanda você não sabe o que é ser mãe.
_ Graças à Melissa eu sei o que é ser mãe sim. Sinto por ela um amor que nunca imaginei sentir na vida, aprendi muito com toda aquela ingenuidade, todo aquele carinho, uma criança incrível...
_ Espera que eu te agradeça?
_ Não fiz isso por você, não. Fiz por ela. Ela que merece ser amada, merece ser cuidada, merece ser feliz ao lado de quem realmente se importa com ela e quer o bem dela...
_ Eu fiz minha filha feliz!
_ Não vou discutir com você Ester. O que eu tinha pra falar com você eu disse, e agora eu vou te dar um aviso. Fica longe da minha filha! -vociferou e deu as costas, mas logo se virou e então sem que eu esperasse senti meu rosto arder, minha bochecha queimar.- Eu jurei pra mim que se um dia te encontrasse de novo era isso que eu faria. -e saiu me deixando ali sem reação, sem palavras e eu só sabia chorar.-

Narrado por Fernanda
  Saí daquele banheiro de cabeça erguida e com a alma lavada. Parecia ter tirado um peso enorme das costas e me sentia leve, me sentia nas nuvens de verdade... Como nunca havia estado antes.
  Joguei os cabelos pro lado e enxuguei algumas das lágrimas que caíram, precisava me recompor e bem rápido.   Voltei pra perto do brinquedo e Luan olhava de um lado pro outro, seu rosto se aliviou ao encontrar-se com o meu.

_ Onde cê tava?
_ Fui ao banheiro.
_ E por que não me levou mamãe? Tive que ir no de homem com o papai.
_ Mamãe estava muito apertada, não dava pra segurar. -esbocei um sorriso falso.- Vamos voltar pro hotel?
_ Tá tudo bem mesmo, Fernanda?
_ Está amor, ótimo na verdade. -passei as mãos pelo rosto, suspirei.- Acho que nunca estive tão bem.
_ Então tá, vamos voltar pro hotel?
_ Ah não, nem tô com sono...
_ E quem disse que é pra dormir mocinha? -lhe peguei no colo.- É pra nós ficamos bem bonitas e cheirosas pra jantar no restaurante da Pequena Sereia! Eba! -comemoramos e Luan nos olhava rindo.-
_ Precisa arrumar muito não, que senão já sabe me dão muito trabalho. -risos.-
_ Exagerado.

  Pegamos o táxi de volta pro hotel. Durante o caminho, que não era longo, fui bem pensativa e observando a paisagem sem se dar conta do que Melissa dizia.
  Voltei à realidade quando o taxista estacionou, pagamos e descemos. Fomos direto para o nosso quarto, dei banho na Mê e deixei ela descansar um pouco na cama só de calcinha pra não correr o risco de sujar a roupa e fui pro meu banho.

_ Cheguei na hora boa então? -senti as mãos geladas do Luan na minha cintura enquanto terminava de me enxaguar, virei levando um susto daqueles.- Ficou branca muié, calma que sou eu. -sorri sem jeito, havia realmente levado um susto por conta de não estar na Terra e sim perdida em meus próprios pensamentos.- Nanda?
_ Oi? -respondi aérea.-
_ Tá em que mundo?
_ Bem aqui. -ri molhando os cabelos outra vez.- E você? Por que invadiu meu banho?
_ Porque eu estava com saudades... -me abraçou.-
_ Não inventa, tá. -beijei o rosto dele e sai dali antes que as coisas esquentassem um pouco mais. Me enrolei na toalha e voltei pro quarto, Melissa dormia toda largada bem no meio da cama de casal. Dei risada e fui me trocar, acabei colocando o pijama até porque não iria acordá-la só pra ir bater perna, sabendo que ela estava muito cansada.-

  Me vesti com um pijama curto e de alcinha, não coloquei roupa íntima porque me esquentava muito e eu já estava com calor. Enfim... Estaria pronta pra dormir se não fosse meu estômago roncar e pedir por comida.

_ Luan?
_ TÔ OUVINDO PODE FALAR! -gritou de dentro do banheiro.-
_ Melissa dormiu, já coloquei pijama e vamos jantar aqui no quarto. Pode descer?
_ TÁ, PODE SER. JÁ PEDIU SUA COMIDA?
_ Amor, para de gritar. Tô te ouvindo... Você vai acordar a Mê assim...
_ QUERO QUALQUER COISA QUE SEJA GOSTOSA E NÃO TENHA CARNE MOÍDA.

  Liguei na recepção e pedi comida japonesa, isso não teria erro, Melissa também amava. Eles disseram que em meia hora chegaria e foi o tempo do Luan terminar o banho.

_ E a comida?
_ Está pra chegar.
_ Vai atender a porta assim?
_ O carrinho ainda não atravessa a porta. -respondi rindo.-
_ Grossa, indelicada.
_ Eu sou delicada demais tá. Muito mesmo.
_ Ah, super. -risos.- Aí oh, chegou. -falou dando as costas e indo abrir, nem falei nada.- Nossa, que delícia cara.
_ Vai se trocar, Luan.
_ Pra que? Tô de cueca já, pronto pra dormir.
_ Dormir mesmo, um sono bem gostoso. Mas, vem cá... Não se sente estranho andando de cueca sabendo que sua filha tem só 4 anos?
_ Ela tá acostumada...
_ Mesmo assim, se ver o pai de cueca é normal, com um outro homem ela pensará o mesmo. -falei séria e indo me sentar.-
_ Já entendi, minha mãe também diz isso.
_ Então...
_ Vou dormir de bermuda? Mas esquenta muito.
_ Põe uma samba-canção, ela não é obrigada te ver de boxer.
_ Tá bom, Fernanda. Não fico mais de cueca.
_ Obrigada. -falei já me servindo.- Nossa que delícia.
_ Tá mesmo, muito bom mesmo. -sentou ao meu lado.- Esse aqui então nem se fala. -pegou um pedaço e depois de colocar no molho colocou na minha boca.-
_ Melhor do que no Brasil. -risos.-
_ Verdade hein...
_ Papai onde cê tá?
_ Vem aqui filha, na salinha. -não demorou e ela apareceu.-
_ A gente não ia sair?
_ Ficou tarde, mas amanhã podemos almoçar lá. O que acha?
_ Quero ir no Castelo! -franziu a testa e fez um bico enorme.-
_ E nós vamos, tenha calma. -risos.- Senta aqui, vem comer.
_ Desse eu gosto, aquele não... -foi dizendo e eu fui montando seu prato.-

  Depois que nos alimentamos, fomos nos deitar. Ficamos com ela em nossa cama até que voltou a dormir, Luan colocou ela na cama dela e voltou se jogando na nossa em cima de mim.

_ Você tá com cheiro de bebê. -falei mexendo em seu cabelo.-
_ Eu sou um bebê. Olha essa pele. -se gabava.-
_ Deixa de ser sem graça, não elogio mais.
_ Você sempre diz isso. -roubou um selinho que não demorou a se transformar em um beijo muito nossa cara, as mãos bobas dele estava na minha bunda e ele querendo invadir meu short.-
_ Para, se começar com fogo eu deito com a Melissa.
_ Tô com saudades do seu corpo. -mordeu minha orelha, me contorci na cama.- Dos seus gemidos bem no meu ouvido. -roçava sua boca no meu pescoço.- E tocar sua pele bem molhadinha com a língua. -contrai todos os músculos. Fechei os olhos e permiti que ele ainda brincasse um pouco com o meu pescoço, meu decote. Só não deixei que avançasse porque Melissa estava na cama ao lado e eu era uma pessoa bem escandalosa quando se tratava de gemidos e também porque ainda estava dando um gelo no Luan. Mesmo que tudo estivesse bem... Sexo mesmo só no Brasil.-
_ Vamos dormir, né? -falei e ele riu abafado.-
_ Tô sem sono, tá cedo pra mim.
_ Vamos conversar então...
_ Começando pelo seu sumiço mais cedo no parque...
_ Eu vou te contar, mas não quero que fique chateado comigo ou com raiva, até porque o que eu fiz foi pensando no bem da Melissa... -ele assentiu.- Estava com uma sensação estranha desde cedo, pensei que fosse coisa da minha cabeça até. Mas não era. Aí ontem no parque, perto de virmos embora uma mulher se aproximou de vocês dois, mas não chegou a falar com você e saiu andando rápido. Eu já tinha visto aquela mesma mulher mais cedo e por isso fui atrás, e...
_ Quem era essa mulher?
_ A mãe da Melissa.
_ Ester? Logo aqui? -contei à ele o que houve e acabei chorando, com medo de que ela ainda quisesse voltar e tirar de mim uma das coisas que se tornou mais importante na minha vida, a Melissa. Que ela pudesse desestabilizar a nossa relação de mãe e filha.- Não precisa chorar amor. Nós amamos você demais e Ester nenhuma vai mudar isso.
_ Ela é a mãe de sangue da Melissa.
_ Mas quem está ao lado dela é você, ela ama você. Pode ser que ainda se pergunte da Ester, mas por curiosidade e não por querer que ela volte.
_ Eu não sei, tenho medo. Mesmo depois de tudo que eu disse à ela, parecia estar tão forte e agora...
_ Está mais forte ainda. -beijou minha testa.- Você foi muito corajosa, eu no seu lugar não saberia o que fazer.
_ Não?
_ Não. Eu tenho raiva da Ester, não lhe deixaria tempo pra tentar se explicar! E você soube ouvir e ainda rebater.
_ Argumentar é meu forte. -brinquei.-
_ Sempre soube disso...
_ Disso o que?
_ Que você é a mulher ideal pra mim, com quem eu quero passar todos os dias da minha vida.

  Como era gostoso ouvir isso de quem se ama e ganhar um beijo longo e bem doce, real. Pudemos dormir bem abraçados, sem nos importar com o calor. Apenas pra sentir um ao outro e da minha parte ter a certeza de que não estava sonhando.

~.~

  Aí socorro. Não sei que aguento com isso.